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Crítica | Na Cama com Madonna

por Leonardo Campos
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Um manual de como ser Diva da Cultura Pop. Essa é uma das alcunhas desse divertido documentário, dirigido por Alek Keshishian. A produção seguiu a artista em 57 apresentações ao redor do planeta, numa visita a 27 cidades do Canadá, dos Estados Unidos, do Japão e do continente europeu. Era uma das épocas de Ouro do POP, com mudanças no formato da produção de espetáculos: a turnê Blond Ambition trouxe música, dança, moda, performances ao estilo Broadway, sendo considerada pela crítica como precursora dos moldes de espetáculos apresentados atualmente. Em 13 de abril de 1990, Madonna iniciou a sua turnê Blond Ambition. Ciente da sua imagem rentável, a artista investiu em um relato sobre a produção. Nos bastidores, encenou o papel de mentora dos seus dançarinos, as dificuldades diante da conciliação entre vida amorosa e carreira, além da sua relação às vezes conflituosa com a família. Nos palcos, personifica bem o seu papel de deusa do sexo, mulher chocante e provocativa, polêmica e defensora das minorias.

Prato cheio para polêmicas, o filme nos apresenta o universo Madonna: a polícia no Canadá decidida a prender a cantora por exibição imoral em público, o Papa João Paulo II vetando dois shows na Itália, o relacionamento com o galã Warren Beaty, as provocações ao catolicismo nas performances, a relação com a cultura homossexual, dentre outros tópicos comuns na carreira da intitulada Rainha do Pop. A estrutura do documentário apresenta o clássico preto e branco para as cenas “reais”, relatos do cotidiano de Madonna e dos demais profissionais envolvidos na turnê, sendo o colorido para os números musicais, a parte “lúdica” do filme. Like a Virgin, Oh Father, Express Yourself e Vogue são alguns dos momentos eletrizantes da produção, inclusos de maneira eficiente pela montagem de Barry. A. Brown. Sobre o show, cabe ressaltar que as coreografias foram assinadas por Vincent Patterson, tendo o figurino produzido por Jean-Paul Gautier e Marlene Stewart.

Orçado em U$5 milhões, o documentário pode ser considerado um manual de como ser Diva do Pop por mostrar uma artista que sabia flertar com a mídia sem se tornar uma pessoa autodestrutiva, como aconteceu como muitas das suas sucessoras, sendo Britney Spears um dos casos mais emblemáticos. Madonna ainda briga com o engenheiro de som da produção, dá alguns chiliques, esnoba o eterno guarda-costas Kevin Costern e se comporta algumas vezes de maneira quase insuportável e arrogante. Alguns anos depois ela teve a oportunidade de ser retratar, afinal, como reza a boa e velha cartilha cristã, “todo mundo merece uma nova chance”. Lançado em 10 de maio de 1991, Na Cama com Madonna possui 122 minutos de muita diversão. Uma boa fatia da crítica cinematográfica estadunidense nunca esteve feliz com a presença da artista em filmes, haja vista a indicação ao troféu Framboesa de Ouro de Pior Atriz na cerimônia de 1992. Mesmo representando a si mesma, Madonna era esnobada pelos críticos. A indicação, apesar de absurda, não mudou em nada o sucesso da produção que foi exibida no Festival de Cannes, concorreu ao American Cinema Editors na categoria de Melhor Edição e ainda é a sétima maior bilheteria de um documentário na história do audiovisual.

A polêmica, no entanto, não ficou apenas na seara dos bastidores e da estreia. Em Madonna: uma biografia íntima, de J. R. Taraborelli, o biógrafo relata que em 21 de janeiro de 1992, os bailarinos Oliver Crumes, Kevin Stea e Gabriel Trupin abriram um processo contra Madonna, alegando invasão de privacidade e outras questões, como supressão da verdade e inflição intencional de sofrimento. Esse era apenas o começo de uma avalanche de acontecimentos explosivos relacionados aos trabalhos da artista. O “magoado” e caçador de níqueis Christopher Ciccone, irmão da cantora, responsável por assinar a direção de arte do espetáculo, escreveu em sua biografia, A Minha Vida com Minha Irmã Madonna, que muita coisa na produção foi encenada: a visita ao túmulo da mãe e a atuação como protetora para os seus dançarinos são alguns desses “momentos”. Hoje, com o avanço dos estudos acerca da linguagem dos documentários, torna-se mais fácil entender todo o processo, tendo em vista que há muito não se fala deste gênero cinematográfico como retrato fidedigno de determinada situação.

Em Na Cama com Madonna, há muita encenação. A artista representa a si mesma, sem dúvida, o melhor e mais interessante personagem já encenada por Madonna. Em 2005, após o sucesso da turnê Reinvention, Madonna produziu e lançou uma espécie de continuação, algo diferente no campo dos documentários: I´m Going To Tell a Secret, uma produção que nos oferece uma personagem mais política e madura. O título original, Truth or Dare, faz alusão ao jogo Verdade ou Consequência, um trecho “proibido para menores de 18 anos” do filme. Nos Estados Unidos, entretanto, a distribuidora Miramax achou mais interessante vender a produção como Na Cama com Madonna, tendo em mira o provável sucesso nas bilheterias devido não apenas ao apelo comercial da artista, mas ao nome instigante. A própria Madonna declarou, em entrevistas, que achou o título estúpido.

Na Cama com Madonna (In Bed With Madonna, Estados Unidos, Canadá, Japão – 1991)
Direção: Alek Keshishian
Roteiro: Madonna
Elenco: Madonna, Warren Beaty, Christopher Ciccone, Jean- Paul Gaultier, Oliver Crumes, Dona Delory, Gabriel Trupin, Al Pacino
Duração: 122 min.

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