Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Nathan Never – Vol. 6: Terror Abaixo de Zero

Crítica | Nathan Never – Vol. 6: Terror Abaixo de Zero

por Luiz Santiago
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Logo no início dessa história, após lermos o seguinte trecho do jornal City News: “Um Posto Avançado no Gelo: com a palavra, Richard Shepard, diretor da base Ártico 3”, temos uma pequena introdução que resume, ao menos no assunto principal, o que é esta aventura Terror Abaixo de Zero (ou, como também é conhecida: Terror a Zero Grau – o que é estranho, porque são coisas diferentes):

Base de mineração Ártico 3. Relatório de serviço do agente Nathan Never, da Agência Alfa, à Procuradoria Federal. Em curso: investigação sobre suspeita de uso de perigosas drogas na base. Incidentes no interior da própria base parecem confirmar uso de Euridal Policlórico.

Trabalhando disfarçado em uma corporação no ártico, Nathan Never deve descobrir tanto o processo de tráfico de uma super-metanfetamina capaz de melhorar grandiosamente a capacidade física e mental de quem a usa (mas que tem inquestionáveis consequências na descendência de quem usa — gerando mutantes — e não no usuário) quanto uma forma segura de arranjar provas contra o empresário Richard Shepard, que se aproveita de uma jurisdição especial dada às mineradoras no Polo Norte (lembra um pouco o mesmo salvo-conduto geopolítico de A Ilha da Morte) para receber, aplicar e traficar a droga, tendo drásticas consequências para o meio ambiente, com os usos polares afetados não só pela presença humana no lugar, mas também por terem bebido a água com os dejetos de produção da droga, gerando, eles mesmos, filhotes mutantes.

O roteiro de Bepi Vigna lembra muito a estrutura de um episódio de TV para uma série de investigação. A ação pode ser vista em diversos níveis, porque há sempre algo dentro da empresa que precisa ser investigado e, claro, pessoas inocentes morrendo no processo, por tentarem fazer a coisa certa contra os criminosos nessa esfera empresarial. Never é visto como um trabalhador comum e afetado durante o processo, quase morrendo pelas mãos de um urso e sendo colocado em perigo novamente, na parte final da história, em dois lugares diferentes. Durante todo o tempo, a impressão é de uma batalha contra cidadãos (ou instituições) acima de qualquer suspeita, onde até quem julga esses casos se vê pressionado, encantado ou coagido ao tomar atitudes mais enérgicas, visto que tais pessoas ou instituições possuem, pela forma como a sociedade se organizou nos últimos tempos, muito mais proteção do que deveriam.

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Há algumas boas referências ao Surfista Prateado (alguns funcionários da base leem os quadrinhos do Paladino das Estrelas) e aos filmes de James Bond, especialmente pela forma de investigação que o enredo nos apresenta aqui. A arte de Germano Bonazzi também tem um papel muito importante na construção do cenário de isolamento no gelo e de medo. Há cenas impressionantes de ataque dos usos polares e excelentes composições dos espaços dentro e fora da base. Os meios de transporte e a parte “social” do lugar, por onde os turistas fazem a rota, é uma mistura de máquias futuristas com o interior de grandes fábricas dos anos 90, quando esta história foi escrita. A própria forma como as drogas e o tráfico são tratados aqui refletem o modelo de guerra às máfias em andamento na Itália naquela década, eco de uma outra guerra, começada alguns anos antes nos Estados Unidos.

Talvez a história tivesse uma melhor ambientação se contasse com um outro volume, pois diferente do início e do desenvolvimento, que são orgânicos e dão o ideal espaço para os personagens da base e diversas deixas para a construção do problema principal bem como os estágios da investigação de Never, o final, após a chegada do Procurador, é bastante corrido, com ações acontecendo aos borbotões e com um nível de “facilidade” no encadeamento dos fatos que não vimos nas tramas anteriores. O bom disso é que não são coisas fora do caráter do enredo, o que não diminui muito a sua qualidade, mas tem um impacto negativo porque traz um ritmo não utilizado em nenhum outro momento da história. Especialmente em se tratando de conclusão, a sequência deveria ser ou com menor número de eventos (o que diminuiria o impacto da mudança de ritmo) ou iniciada um pouco antes, para dar espaço à última tentativa de Nathan Never em provar que estava certo, o que ele faz, mas a um considerável custo.

Nathan Never #6: Terrore sotto zero (Itália, novembro de 1991)
Sergio Bonelli Editore

No Brasil: Editora Globo (maio de 1992)
Roteiro: Bepi Vigna
Arte: Germano Bonazzi
Capa: Claudio Castellini
Letras: Francesca Piovella
100 páginas

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