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Crítica | “No Plan EP” – David Bowie

por Handerson Ornelas
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Um ano depois do lançamento de, talvez, o álbum da década, Blackstar, somos presenteados com um EP que serve de bônus para o último disco de David Bowie. O lançamento serve também para celebrar o aniversário do cantor, que se estivesse vivo faria 70 anos. Nessa altura do campeonato provavelmente você já sabe a carta de despedida escrita pela cantor em seu derradeiro disco, além do altíssimo e inigualável nível artístico alcançado em musicalizar a própria morte. As faixas deste “lado B” de Blackstar já estão entre nós já faz algum tempo, sendo lançadas no álbum da peça musical Lazarus, ano passado. Mas seu lançamento como EP – agora disponibilizando estas faixas nos serviços de streaming, o que não aconteceu antes – carrega um contorno mais simbólico e impressionante, uma bela homenagem.

Alguns talvez questionem a presença de Lazarus no EP, faixa já presente em Blackstar. Entretanto, veja que a canção funciona perfeitamente bem aqui, o EP acaba funcionando como uma mensagem do artista, no paraíso ou no além, direta ao público. “Olhe para cima, estou no paraíso” – assim ele abre, de maneira arrepiante, a faixa. Muito além de sua assustadora e brilhante riqueza lírica, a canção é uma verdadeira aula de construção de arranjo. A linha de baixo perpassando por todo o instrumental, a bateria brilhantemente bem tocada, os metais bem inseridos e explosivos ao final… temos aqui uma progressão realmente bastante invejável.

No Plan, que dá nome ao EP, é lindíssima e atordoante ao mesmo tempo. A letra – que preciso dizer, é um dos melhores poemas que vi no ramo musical nos recentes anos – aborda Bowie chegando em um lugar desconhecido, uma espécie de limbo, uma maneira tanto depressiva quanto bela, dependendo da forma como analisar, de referenciar a morte e o além (Todas as coisas que são minha vida/ Meus desejos/ Minhas crenças/ Meus humores/ Aqui é meu lugar sem um plano). Nos vocais vemos a melancolia dos metais muito bem fundida a um Bowie fragilizado, evidenciado nos vibratos, onde, mesmo assim, demonstra uma afinação fascinante.

Killing A Little Time é a mais peculiar e rockeira da safra de gravação do último álbum do artista, embora não se afaste tanto assim do seu clima. Temos aqui uma música furiosa, com guitarras pesadas e movida por um riff extremamente marcante, daqueles que ficam sempre armazenados na sua mente. É uma verdadeira catarse escutar o piano, a guitarra e a bateria agirem enlouquecidamente de maneira experimental nessa espetacular canção.

When I Met You fecha o EP da mesma maneira magnífica que este se manteve. Sua sensacional introdução de sintetizadores e inserção certeira do baixo, praticamente raptando o ouvinte, garante a atenção em segundos. Ah, e uma senhora performance do baterista! Ainda procuro uma sonoridade de bateria melhor produzida, nos últimos anos, do que as das gravações de Blackstar. Perceba como o instrumento soa orgânico, bem pesado e extremamente claro, quase como se o próprio ouvinte estivesse tocando. Provavelmente parte das exigências de Bowie, que sempre foi muito perfeccionista com sua música.

O “lado B” de Blackstar não é nada menos impressionante. É difícil entender como três faixas de tão alto nível não entraram no corte final da obra. Talvez a única razão para isso seja o fato das composições aqui serem menos experimentais ou densas, de serem de “mais fácil consumo”, aliado a um desejo do artista em fazer um álbum mais enxuto, de apenas oito composições. Mas não se engane, o nível aqui é elevado ao máximo, são arranjos que realmente beiram o impecável. É, parece que Bowie continua a nos surpreender…

No Plan EP
Artista: David Bowie
País: Inglaterra
Lançamento: 8/01/2017
Gravadora: Columbia
Estilo: Rock, Jazz

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