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Crítica | O Abutre

por Melissa Andrade
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Objetivo, seco, irônico e até psicótico de alguma forma, O Abutre é uma incrível sátira sobre o jornalismo sensacionalista que parece crescer cada vez mais principalmente com o advento da internet.

O filme começa de um modo tranquilo, onde vemos o diligente Louis “Lou” Bloom absorver por onde passa não apenas bens que não lhe pertencem, mas também conhecimento. Lou está numa busca constante por uma área profissional que lhe seja suficiente, já que a vida do crime claramente não compensa. Notívago, acaba encontrando seu novo caminho ao cruzar com um acidente no meio da estrada e cinegrafistas que correm para registrar a cena. Encantado com todo aquele movimento, ele decide ser como um dos cinegrafistas e aos poucos vai adquirindo técnica, compra novos equipamentos e ganha habilidades que vão lhe garantir crescimento no ramo. Contudo, a forma com a qual faz suas escolhas e também o modo que percorre esse caminho foge a qualquer regra tanto ética quanto humana. Bloom vai se inserir de tal maneira nesse meio jornalístico que não mais saberá a diferença entre fazer ou ser a notícia.

Certamente O Abutre não seria tão brilhante não fosse pela atuação de Jake Gyllenhaal. O ator se dedica com verdadeiro esmero ao papel desse personagem que é praticamente uma esponja ambulante, absorvendo todo tipo de conhecimento que lhe seja necessário. Porém, ele não é um indivíduo normal, faltando-lhe empatia para com outras pessoas e até certas habilidades sociais, as quais ele apenas se limita a copiar usando de bajulações para alcançar seus objetivos. No fim, todas as suas ações são milimetricamente calculadas e nada acontece por acaso. Absolutamente nada.

O roteiro foi elaborado de forma magistral por Dan Gilroy que também dirige o filme. É seu primeiro trabalho como diretor e que ele concluiu muito bem. Em um projeto feito em conjunto com o elenco, em especial Gyllenhaal, ele consegue extrair o melhor dos atores e criar esse filme dentro de outro filme. Afinal, vemos não somente a sua visão de diretor, como também temos a visão do personagem de Lou como cinegrafista, dando ao espectador outro olhar com que se preocupar dentro do filme e que, no fim, faz toda a diferença.

Outro ponto a favor da fita é a sua duração considerada curta nos dias de hoje, onde a maioria dos filmes lançados ultimamente possuem mais de duas horas. Aqui, Gilroy usa todo o tempo do filme para construir a trama de forma muito clara, coesa e sem qualquer problema aparente ou barriga. A tensão vai elevando aos poucos e explode exatamente quando necessário.

É impossível deixar de lado o tema abordado em O Abutre. Diariamente somos abarrotados com notícias sensacionalistas e programas, muitas vezes diurnos, que abusam das tais imagens gráficas para ilustrar roubos, homicídios, sequestros, dentre outros tópicos violentos. Não há o menor incômodo em mostrar tais imagens e afirmar que tudo isso é para informar o cidadão, quando a bem da verdade, sabemos que não passa de uma grande jogada da emissora para alavancar audiência. E isso não é exclusividade só do Brasil, mas do mundo todo. E o modo como o filme trabalha em cima disso não é só inteligente, como também esclarecedor.

Por esses e outros motivos é que O Abutre consta nas principais listas dos melhores filmes de 2014 em vários sites de renome. Um candidato forte às premiações de 2015. Vamos aguardar e conferir.

O Abutre (Nightcrawler, EUA – 2014)
Direção: Dan Gilroy
Roteiro: Dan Gilroy
Elenco: Jake Gyllenhaal, Michael Papajohn, Marco Rodríguez, Bill Paxton, James Huang, Kent Shocknek, Pat Harvey, Sharon Tay, Rick Garcia, Leah Fredkin, Bill Seward, Rick Chambers, Holly Hannula, Jonny Coyne, Eric Lange, Carolyn Gilroy, Kevin Rahm, Ann Cusack, Rene Russo, Kiff Vandenheuvel, Riz Ahmed, Michael Hyatt, Price Carson
Duração: 117 min.

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