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Crítica | O Código Da Vinci

por Fernando Campos
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Quando o livro O Código Da Vinci, de Dan Brown, foi publicado, gerou-se uma enorme polêmica em torno da obra, devido ao conteúdo que contestava vários conceitos do cristianismo. A abordagem da mídia sobre o fato foi ampla, servindo de publicidade, tornando-o rapidamente um best-seller. Diante disso, claro que Hollywood tentaria rapidamente adaptar a história, uma vez que, na época, adaptações literárias estavam em alta na indústria cinematográfica, gerando enormes quantias de dinheiro. Mas será que teriam coragem de tocar na ferida dos cristãos assim como o livro? Ou fariam uma história mais leve?

O filme conta a história de Robert Langdon (Tom Hanks), um famoso simbologista, que foi convocado a comparecer no Museu do Louvre após o assassinato de um curador. A vítima deixou uma série de pistas e símbolos estranhos para serem decifrados por Langdon antes de sua morte. Ele conta com a ajuda de Sophie Neveu (Audrey Tautou), criptógrafa da polícia, para esse trabalho. Porém, as investigações os levam a mensagens ocultas nas obras de Leonardo Da Vinci, que revelam uma sociedade secreta que guarda a localização do Santo Graal por milhares de anos.

O diretor Ron Howard, responsável por filmes como Apollo 13 e Uma Mente Brilhante, encarregou-se de comandar a obra, mas é triste que uma história com tanto simbolismo religioso seja conduzida por uma direção com tanta falta de inspiração. O esquema de imagens se resume a close-ups, planos médios e alguns planos de ambientação belos, mas sem significado algum. Um filme com este tipo de conteúdo deveria apostar em planos emblemáticos, rimas visuais, ser mais audacioso, mas não é o que acontece.

Porém, isso não é o pior; o roteiro, escrito por Akiva Goldsman, não tem a mesma coragem do livro, sendo, no mínimo, uma má adaptação literária, além disso, também possui vários furos. Um dos problemas da história é o excesso de explicações, muitas vezes duvidando da inteligência do público, como, por exemplo, na cena onde Sophie explica para Langdon o que é um criptex, mostrando-se um absurdo, uma vez que, o próprio diz já saber, uma escolha errada do roteirista para apresentar o objeto, que desempenha papel importante na trama. Outra incoerência é que, em uma história onde deveria ser mostrado o valor da mulher e o sagrado feminino, Sophie seja extremamente submissa aos homens, obedecendo todas as instruções do avô no início do filme (mesmo estando brigada com ele) e deixando para o protagonista a tarefa de decifrar os enigmas e tomar as decisões importantes. Sem contar a ingenuidade do Opus Dei, seita católica ultraconservadora, que recebe o telefonema de alguém que se autodenomina “mestre” e passa a seguir suas instruções sem ao menos questionar, sendo enganados por ele no final do filme.

Mas o verdadeiro ponto negativo do roteiro é resumir os protagonistas a defensores religiosos, o que deveria ser justamente o contrário, como no patético diálogo onde Langdon e Sophie acabam de descobrir um dos maiores segredos da humanidade, o que poderia acabar com a opressão das religiões, e em vez de revelar isso ao mundo, decidem manter em segredo, já que “o que vale é o que você acredita”. O único que quer livrar a humanidade dos abusos cometidos por religiões há séculos é o “vilão”, como quando ele diz que vai “deixar essa igreja de mentiras de joelhos”. Portanto, a história apresenta protagonistas conformados com a opressão religiosa e um vilão disposto a revelar as mentiras ao mundo, afinal, qual atitude é a de um herói?

O lado positivo da obra fica a cargo da bela trilha sonora composta por Hans Zimmer, que ressalta o clima sombrio e misterioso da história; da montagem, que faz com que o público entenda a cronologia dos acontecimentos; e também do elenco. Tom Hanks e Audrey Tatu não tem muito o que desenvolver, mas apresentam uma química interessante entre seus personagens. O destaque entre as atuações está em Ian McKellen, que expressa toda a obsessão que seu personagem tem pelo Santo Graal, transmitindo uma certeza enorme em suas teorias; e também na composição de Paul Bettany, construindo um Silas visivelmente perturbado, fanático e que mostra ímpeto em atingir seus objetivos, mesmo que para isso tenha que se sacrificar, literalmente.

Assim como o livro, o filme gerou polêmica entre grupos religiosos, chegando ao nível de a igreja católica tentar proibir sua exibição e promover boicotes, o que mostra-se incompreensível, visto que, a obra, que deveria desmistificar o cristianismo, mostrando Jesus como um mortal, vai para o lado inverso, mostrando uma herdeira de seu sangue que também é capaz de realizar milagres, comprovando ainda mais esta ideologia. O Código Da Vinci tem medo em abordar seus temas e quando a história apresenta algo contra as religiões, rapidamente um personagem argumenta contra, sendo então um filme sem audácia, exemplificado na falta de coragem de seus produtores.

O Código Da Vinci (The Da Vinci Code) – EUA, França, Malta e Reino Unido, 2006
Direção:
Ron Howard
Roteiro: Akiva Goldsman (baseado na obra de Dan Brown)
Elenco: Tom Hanks, Audrey Tautou, Ian McKellen, Jean Reno, Paul Bettany, Alfred Molina, Jean-Pierre Marielle, Jürgen Prochnow, Jean-Yves Berteloot, Etienne Chicot, Seth Gabel.
Duração: 149 min.

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