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Crítica | O Dragão Chinês

por Ritter Fan
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As circunstâncias em que tive a oportunidade de assistir O Dragão Chinês talvez sejam mais interessantes do que o filme em si, apesar de ele ser um dos mais lembrados veículos para o breve estrelato do lendário Bruce Lee. Assim, começarei com minha experiência e, depois, partirei para a crítica.

O cinema de Tarantino

Não. Não falarei do Cinema de Tarantino, mas sim do cinema de Tarantino. O famoso diretor, em 2007, investiu no tradicional Beverly Cinema, cinema de sala única de rua em Los Angeles, em plena Beverly Blvd. que começou como palco do teatro Vaudeville, na década de 20, com o objetivo de evitar que as portas fossem fechadas. Em setembro de 2014, ele adquiriu o cinema integralmente, defenestrando a família Torgan que cuidava do local desde a década de 70, e passando a cuidar da programação.

Apesar de passar filmes recentes, o objetivo principal do diretor é dar uma chance ao filme em celuloide, com projeções em 16 e 35mm, muitas delas de sua vasta coleção particular. É costumeiro ele fazer o chamado double-bill, com dois filmes, normalmente de um mesmo gênero, passando sucessivamente, em sessões que não custam mais do que meros 8 dólares. Estava por Los Angeles há pouco tempo e, sabendo desse projeto do diretor, procurei descobrir o que estava passando e achei um double bill de The Big Boss e The Big Boss – Part II, sendo que nunca havia ouvido falar desse segundo. Não tive dúvidas e comprei o ingresso.

O cinema tem pouco mais de 200 lugares, com um lobby apertado onde, dentre outras coisas, vende-se café, algo inusitado mesmo nos EUA. A bilheteria é no estilo antigo, com uma cabine simples que dá para a rua. O letreiro é também no estilo antigo, tipo aquele que vemos Shosanna trocar em Bastardos Inglórios sob o olhar de Fredrick Zoller. Há um evidente ar nostálgico, bastante aconchegante e os espectadores são, claramente, ávidos fãs do cinema alternativo/trash.

Há extremo cuidado na projeção, com testes antes de cada início, além do ajuste detalhado da razão de aspecto da tela, que é muito flexível nesse aspecto, com “máscaras” que adequam o tamanho em todos os lados e em cima. Além disso, há um lanterninha que realmente conhece o material e apresenta os filmes ou vem explicar e dar satisfações caso alguma coisa errada – ou menos que ideal – aconteça. Ah, e nada de cópias digitais, só celuloide nesse tipo de experiência.

 Em poucas palavras, um pequeno paraíso para cinéfilos! Recomendo fortemente quem tiver a oportunidade de estar em Los Angeles visitar essa pequena ilha nostálgica.

O filme

Para os padrões atuais, ou mesmo para os padrões dos futuros filmes de Lee Jun Fan, mais conhecido como Bruce Lee, que só viria fazer mais três – só que três clássicos imortais até sua chocante morte – O Dragão Chinês é muitas vezes risível. Lee já tinha uma carreira estabelecida, já havia vivido o sensacional Kato, na série de TV americana que tinha também um cara chamado Besouro Verde e seus filmes faziam sucesso.

Mas O Dragão Chinês, de toda forma, foi um marco. Um marco, pois fugia, na medida do possível, das lutas exageradamente “belas” dos filmes de kung-fu da época e partia para algo mais brutal, direto, sem floreios. É nesse ponto que a fita se distancia das demais e pavimenta o caminho que Lee trilharia até 1973 com A Fúria do Dragão, O Vôo do Dragão e, claro, Operação Dragão (repararam no padrão da tradução nacional?).

E o interessante – ainda que seja algo que gere longos momentos de tédio no filme – é que o roteiro parte da premissa que Cheng Chao-an, personagem de Lee, é alguém que prometeu não lutar. Ele vai trabalhar com seus primos em um fábrica de gelo e, apesar de testemunhar vários atos de violência, um colar dado por sua mãe o lembra do pacto de não-violência e ele passa um bom pedaço da narrativa só olhando os outros lutarem nas mais diversas circunstâncias e por qualquer razão. É frustrante ao ponto de enfurecer o espectador.

Mas, quando Lee parte para a pancada, e isso demora mais do que devia, o que vemos é um balé de eficiência e economia (e a sala foi abaixo de aplausos, diga-se de passagem). Nada de rodopios. Nada de golpes elaborados. É um alívio quando recebemos esse “prêmio de consolação”, pois, até esse momento de libertação, o que vemos é uma história repetitiva, com seus primos desaparecendo um por um quando descobrem que a fábrica de gelo é só uma maneira de o mafioso local contrabandear drogas. O diálogo é pueril em todos os momentos e as atuações, inclusive a de Bruce Lee, não podem nem ser chamadas de atuações. Eles estão lá apenas, passeando em frente às câmeras, às vezes até olhando para elas, para desespero – ou não – dos diretores.

Quando o combate final chega, na mansão do chefão, o estilo de luta passa a ser diferente, com mais floreios e mais efeitos sonoros exagerados, como o rufar de tecido voando e golpes que, se fossem com a intensidade do som, rachariam os vilões ao meio. Mas isso faz parte do estilo desse sub-gênero e é perfeitamente aceitável.

É uma pena que o roteiro seja ineficaz e que a direção seja quase amadora. O Dragão Chinês não é muto mais do que um filme caseiro que por acaso estrela Bruce Lee com seu inconfundível e marcante estilo de luta.

O Dragão Chinês (Tang shan da xiong/The Big Boss, Hong Kong – 1971)
Direção: Wei Lo, Chia-Hsiang Wu
Roteiro: Wei Lo
Elenco: Bruce Lee, Maria Yi, James Tien, Marilyn Baustita, Ying-Chieh Han, Tony Liu, Kun Li, Nora Miao, San Chin, Chih Chen, Chia-Cheng Tu, Tso Chen
Duração: 100 min.

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