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Crítica | O Estudante de Praga (1913)

por Luiz Santiago
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Existe um grande debate entre críticos e estudiosos do cinema pela definição exata de certos “momentos iniciais” do cinema. Qual foi o primeiro diretor a fazer tal coisa? Que filme estreou determinado gênero? Quem deu o verdadeiro primeiro passo para certo movimento cinematográfico?

No caso do Expressionismo Alemão (e depois, também no caso do Cinema Noir), apesar de algumas “regras” ou “ingredientes” serem observados como fatores comuns dentro de um certo período do cinema, fica mais difícil definir algumas coisas porque a escola é bem grande e porque dentro do mesmo movimento apresentaram-se filmes bastante distintos entre si. E se já é difícil classificar ou aceitar determinadas produções dentro de uma escola, imaginem encontrar a obra que lhe deu início! É aí que entra a discussão classificatória sobre O Estudante de Praga (1913).

Considerado o pioneiro dos filmes independentes (a obra não teve mão de nenhum grande estúdio e foi o filme mais conhecido do período, levando muita gente para os cinemas), O Estudante de Praga também entra no páreo para ser classificado como o filme que deu origem ao movimento expressionista do cinema alemão, e existe uma grande possibilidade de que realmente tenha sido.

Os elementos clássicos do gênero ainda estão tímidos no longa de Paul Wegener e Stellan Rye, mas já são perfeitamente identificáveis. A obra é um horror misto de drama romântico e fantasia, que além de citações de Alfred de Musset e do conto William Wilson, de Edgar Alan Poe, trabalha com a ideia do duplo e da figura do diabo comprando a alma de alguém, além de questões morais e éticas inspiradas em O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde; Aventuras de uma Noite de São Silvestre, de E.T.A Hoffmann e Fausto, de Goethe.

Paul Wegener faz aqui a sua estreia como ator e diretor, interpretando o protagonista da obra, o estande Balduin. Apesar de ser o melhor esgrimista de Praga, ele é pobre e parece tremendamente entediado no início, gozando de uma fama que parece não lhe agradar nem um pouco. Em curto tempo, a figura da cigana vendedora de flores e do velho diabólico Scapinelli (sem sombra de dúvidas, uma influência direta para a construção do Dr. Caligari, por Robert Wiene, em 1920) aparecem na história e o grupo de simbolismos humanos que contribuirão para a tragédia estão fixados.

O espectador deve contextualizar a obra e entender que se trata de um período do cinema onde a teatralização nas interpretações e a montagem acavalada eram comuns. No entanto, se comparado a outros longas da mesma época, O Estudante de Praga até que possui uma forma relativamente limpa, menos afetada por vícios técnicos e narrativos. Isso não nos impede, todavia, de apontar os erros e trazer à tona o maior problema do roteiro, que são as motivações. Quando não são frágeis demais (a menos problemática é o duelo no qual Balduin se vê envolvido), as motivações simplesmente inexistem, o que torna a ação de Scapinelli um incômodo, pois está colocada apenas como “maldade pela maldade”.

À parte os problemas, cenas como a excelente captura do reflexo de Balduin por Scapinelli no espelho do quarto, e a bela composição fotográfica para a sequência do jogo de cartas (fonte visual para uma das melhores sequências de Dr. Mabuse, O Jogador, 1922) entram para o grupo de momentos “inesquecíveis” e deixam claro o por quê este filme teve grande importância para o movimento expressionista. O pessimismo, a insanidade, a maldade e emoções cegas se entrelaçam à sociedade retratada na obra, com um final capaz de impressionar, pelo seu significado, até um espectador moderno, saturado por todas as formas possíveis de terror no cinema.

O Estudante De Praga (Der Student von Prag) — Alemanha, 1913
Direção: Paul Wegener, Stellan Rye
Roteiro: Hanns Heinz Ewers (com citações de Alfred de Musset e leve inspiração em William Wilson, de Edgar Alan Poe)
Elenco: Paul Wegener, Grete Berger, Lyda Salmonova, John Gottowt, Lothar Körner, Fritz Weidemann
Duração: 85 min.

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