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Crítica | O Exterminador do Futuro: Gênesis

Tentando recomeçar.

por Ritter Fan
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O Exterminador do Futuro, de 1984, é uma obra-prima de baixo orçamento que revelou James Cameron ao mundo, com sua continuação, O Julgamento Final, de 1991, sendo igualmente uma obra-prima, só que de alto orçamento, que consolidou de vez a carreira do cineasta. Em 2003, veio, então, A Rebelião das Máquinas, o terceiro longa da franquia e o primeiro sem a participação de seu criador, que, surpreendentemente, conseguiu segurar as pontas razoavelmente bem, apesar de seus evidentes problemas. Entre 2008 e 2009 foi a vez da série Terminator: The Sarah Connor Chronicles que, pessoalmente, considero a melhor continuação de Exterminador 2 até agora e que foi a primeira vez em que uma linha narrativa foi deixada de lado. A segunda vez aconteceu em 2009, com O Exterminador do Futuro: A Salvação, o único até agora sem Arnold Schwarzenegger (o breve uso da imagem dele não conta), que foi planejado como o começo de uma segunda trilogia, mas que, ainda bem, ficou apenas no primeiro filme mesmo.

Corta para 2015 e, com a propriedade comprada pela Annapurna Pictures, um novo começo foi tentado com O Exterminador do Futuro: Gênesis, um que não é lá muito admirado por aí, mas que eu encaro como uma tentativa honesta de se fazer um reboot viável para a franquia a partir do longa original, mas também usando elementos do segundo, mais especificamente o T-1000 e a Cyberdyne Systems, além de outros detalhes, como o assustador sorriso do T-800. Digo “viável” porque, sem Cameron de volta de verdade – ele foi apenas consultor aqui – para ordenar a bagunça gerada pelo troca troca de mãos por que passou a franquia depois de 1991, considero que tudo o que é feito nesta série de filmes é o que é possível, ou, mais exatamente, o que é hollywoodiana possível, para ser bem exato, ou seja, nada lá particularmente especial, mas, também nada tão tenebroso assim, o que, por si só, é um milagre.

Creio que seja inegável concluir que o melhor que Gênesis tem a oferecer são seus 35 minutos iniciais em que pela primeira vez vemos os eventos no futuro que serviram de catalisadores para o longa de 1984, com John Connor (Jason Clarke) salvando o jovem Kyle Reese (Bryant Prince) que, quando mais velho, já vivido por Jay Courtney, torna-se seu amigo, confidente e segundo em comando, e os dois liderando o combate que leva à maquina do tempo. O que esses minutos iniciais mostra são os eventos do filme original refeitos quadro a quadro, mas em seguida modificados pela chegada do T-800 (Schwarzenegger) mais velho para exterminar sua versão mais jovem e pelada e de Sarah Connor (Emilia Clarke) para salvar Reese de um T-1000 na loja departamentos. São sequências muito eficientes em evocar nostalgia e trabalhar com ela para finalmente revelar que Gênesis, afinal de contas, se passa em uma linha temporal paralela ou modificada em que os eventos pós-1984 mudaram completamente, zerando o jogo mais uma vez e descartando o que conhecemos do que veio depois, sem deixar de usar o que veio depois para preencher aspectos relevantes da narrativa.

Provavelmente nado na contramão ao dizer que gosto de Emilia Clarke como a Sarah Connor de 1984 já transformada em uma soldada eficiente na arte de matar máquinas enviadas do futuro para matá-la. Ela não tem exatamente o porte de Linda Hamilton ou mesmo de Lena Headey, sua companheira de Game of Thrones, mas ela funciona de maneira até mais sutil que as outras duas atrizes que viveram a marcante personagem, conseguindo até mesmo fazer o fraco Jay Courtney funcionar bem na dinâmica entre ele e Schwarzenegger. A característica de família disfuncional com personagens de linhas temporais diferentes convivendo em um frenesi de ação que conta com mais viagem no tempo, prisões pela polícia, aparecimento de J.K. Simmons como o policial que sobrevive ao T-1000 em 1984, dá um certo charme ao longa, mesmo que o mero conceito de reboot já seja capaz de enfurecer muita gente.

Por outro lado, tenho reticências com o uso posterior de John Connor, não porque a reviravolta não seja crível, mas sim porque seu personagem, em 2017, parece perdido, só realmente existindo para trazer a obrigatória variação de Exterminador que toda a produção da franquia se esforça para criar, mas não conseguindo em momento algum fazer algo que Cameron fez duas vezes seguidas: trazer verdadeiro frescor às máquinas assassinas vindas do futuro. Da mesma forma, acho que a participação misteriosa de Matt Smith (ator já bastante acostumado com viagens no tempo, claro) no elenco é aquela marretada narrativa que só existe para deixar o longa aberto para uma continuação que acabou nunca vindo (até agora, pelo menos).

Sei que o conceito de paradoxos temporais é complicado por natureza, mas Cameron fez tudo parecer muito simples em seus dois filmes. Essa é uma de suas qualidades como cineasta: contar uma história visualmente. Em Gênesis, a história é contada verbalmente muitas vezes, em um cacoete narrativo que o roteiro de Laeta Kalogridis e Patrick Lussier insiste em usar com constância e que a direção de Alan Taylor – essencialmente diretor de TV – não consegue fazer fluir, com a história quase que literalmente parando mais de uma vez para Schwarzenegger explicar o que acabamos de ver. Faltou finesse e elegância para lidar com o vai-e-volta temporal, ainda que, aos trancos e barrancos, a história progrida de maneira até consistente até mesmo quando o clímax na Cyberdyne não seja muito mais do que uma sucessão de explosões cada vez maiores.

Diferente de A Salvação, O Exterminador do Futuro: Gênesis gerou em mim pelo menos a curiosidade de ver como seria a continuação dessa história em uma nova linha temporal. Não que eu apostasse minhas fichas em uma nova trilogia minimamente marcante nesta tão desgovernada franquia, mas tenho para mim que teria sido melhor seguir esse completamente novo caminho do que o que foi escolhido e materializado em Destino Sombrio. Será que um dia acertam novamente com essa tão fantástica propriedade de ficção científica?

O Exterminador do Futuro: Gênesis (Terminator Genisys – EUA, 2015)
Direção:
Alan Taylor
Roteiro: Laeta Kalogridis, Patrick Lussier
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Jason Clarke, Emilia Clarke, Jai Courtney, J.K. Simmons, Matt Smith, Dayo Okeniyi, Courtney B. Vance, Michael Gladis, Sandrine Holt, Byung-Hun Lee, Bryant Prince
Duração: 126 min.

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