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Crítica | O Fantástico Alfabeto Lovecraft, de Jason Ciaramella e Greg Murphy

por Luiz Santiago
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Fundada em 2012, a editora brasileira DarkSide Books se dedica exclusivamente a publicar obras de terror, suspense e fantasia (com aberturas para sci-fi macabro) tendo rapidamente caído nas graças do público pela qualidade de suas edições e pela forma cuidadosa de escolher quais títulos, séries e selos oferecer aos leitores, como o Tokyo Terror (que nos trouxe Fragmentos do Horror) e, no presente caso, o Caveirinha, selo de publicações infantis endiabradas da editora, lançado no final de 2017, justamente com este O Fantástico Alfabeto Lovecraft.

A primeira coisa que o leitor deve ter em mente é o seguinte: trata-se de um livro infantil. Logo, é psicótico esperar grandes arroubos satânicos e de terror cósmico, possessões, domadores de corpos, mentes e almas, revelações profundas das trevas e medo puro e absoluto de um livrinho de 32 páginas cujo objetivo é utilizar personagens, cenários, criaturas e situações do Universo do escritor americano H.P. Lovecraft para repassar o alfabeto para as crianças. Pois é. Ao longo das páginas, temos exatamente as 26 letras do nosso alfabeto mostrando coisas diferentes desse mundo.Vejam, por exemplo, como o meu nome é fofuchamente diabólico nesta versão:

L de Lovecraft. H.P. para alguns, mestre para todos.

U de Ulthar. Um lugar incrível de se imaginar, todos os gatos são muito amados por lá.

I de Innsmouth. A aldeia sombria onde todos observam e são observados.

Z de Zumbi. O Mestre falou: “ninguém zomba de zumbi pra mim!”
.

letra l lovecraft plano critico

Letra “L” do alfabeto lovecraftiano.

Eu primeiro comprei a edição eletrônica, em inglês, e gostei tanto do material, que acabei comprando a versão nacional da DarkSide, que é realmente incrível. O tratamento gráfico, a excelente tradução de Bruno Dorigatti e Christiano Menezes (a brincadeira com versos e a prosa ficou realmente bacana em português, algo que sempre chama a atenção em um livro infantil); tudo isso valorizou ao máximo a escrita de Jason Ciaramella e principalmente a arte de Greg Murphy, o grande tesouro desse livrinho.

Sabendo que a obra de Lovecraft é bastante densa e assustadora, o autor e o desenhista procuraram transformar esse mundo em algo acessível para os pequenos, mas sem tirar a essência do medo. Isso é o que mais impressiona aqui. Todas as criaturas e os lugares são desenhados com uma delicadeza típica das histórias de terror para crianças (a gente tem isso aqui no Brasil, em menor medida, com a Turma do Penadinho) e ao mesmo tempo passam a sensação de perturbação dos indivíduos pelas feições de seus rostos, pelos olhos, boca, tamanho ou mesmo aspecto da criatura representada. Não é um trabalho que choca, mas é um trabalho que “assusta gentilmente“.

Mesmo se eu não tivesse um sobrinho para ler e mostrar as letras nesse livro, eu com certeza iria comprá-lo. A obra é simples, mas divertida, com um projeto artístico aplaudível e um teor didático de alto potencial. Devido a dificuldade das palavras — até para nós, adultos –, ele não é indicado para ajudar as crianças APRENDEREM o alfabeto, mas é uma forma divertida de brincar de reconhecimento de letras. Abrir uma página e perguntar para criança: “que letra é essa?“, e quando ela identificar, tentar ler a descrição daquela página com ela e contar a história simplificada é algo que indico fortemente (eu fiz o teste com priminhos e afilhados entre 5 e 7 anos e funcionou perfeitamente). Com os dois mais velhos, de sete anos, eu disse que a palavra difícil “destravava” a história. Então, se eles quisessem saber, precisavam ler. E acreditem, foi uma mistura de alegria, orgulho e fofura vê-los pronunciar Cthulhu, Abdul Alhazred e Q’Yth-Az à sua maneira, porque ficaram intrigados pelos desenhos e porque queriam saber “que história maluca era aquela“. Lovecraft ficaria orgulhoso em ver sua obra ganhando essa dimensão.

O Fantástico Alfabeto Lovecraft (C is for Cthulhu: The Lovecraft Alphabet Book) — EUA, 2014 – 2015
Autor: Jason Ciaramella
Arte: Greg Murphy
Publicação original: ComixTribe (dezembro de 2014, capa de janeiro de 2015)
No Brasil: DarkSide Books (Selo Caveirinha), dezembro de 2017
Tradução: Bruno Dorigatti, Christiano Menezes
32 páginas

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