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Crítica | O Filho da Noiva

por Rodrigo Pereira
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Vivemos em uma sociedade onde tudo fica mais rápido a cada segundo que passa e, por ser inevitável, nos vemos obrigados a acompanhar esse ritmo alucinante. Até que ponto, entretanto, podemos lidar com isso sem deixarmos o que realmente importa de lado? Até que ponto vale abdicarmos da família, amigos, amores e até mesmo da saúde para construir uma carreira sólida, com estabilidade financeira e provar que somos alguém respeitável? Esse é o principal questionamento que traz o estupendo filme argentino O Filho da Noiva, uma produção extremamente tocante e bem executada por seus idealizadores.

Rafael Belvedere (Ricardo Darín) é um homem de 42 anos, separado, pai de uma menina e que administra o restaurante Belvedere, construído por seus pais, Nino (Héctor Alterio) e Norma (Norma Aleandro) Belvedere, décadas atrás. Enquanto lida com a frenética rotina do estabelecimento, atendendo clientes, fornecedores, bancos e um grupo empresarial interessado em comprar o local, Rafael precisa dar atenção para sua namorada Naty (Natalia Verbeke), manter uma relação minimamente civilizada com sua ex-esposa Sandra (Claudia Fontán), para o melhor desenvolvimento de sua filha Victoria (Gimena Nóbile); ocupar-se com o ressurgimento de Juan Carlos (Eduardo Blanco), um amigo de infância que não via há décadas, ao mesmo tempo que cuida de seus pais e com a doença de Alzheimer que sua mãe enfrenta, algo que dificulta ainda mais a já conturbada relação de mãe e filho.

Dirigido por Juan José Campanella (O Segredo dos Seus Olhos, O Clube da Lua), o longa segue com extrema competência a cartilha de como um bom filme deve ser realizado em todos os aspectos cinematográficos, algo que o torna ainda mais encantador. Desde um roteiro bem desenvolvido, coeso e amarrado até as atuações maravilhosas dos atores, com destaque para Norma Aleandro que atua de forma tão convincente a ponto de questionarmos se realmente não sofre de Alzheimer, o filme é uma bela amostra do já tão rico cinema argentino.

E como falar das atuações sem citar o sempre ótimo Ricardo Darín? O ator, que já é figurinha carimbada em dezenas de belíssimos filmes argentinos desde o início dos anos 2000, nos dá, mais uma vez, uma demonstração de todo o seu talento diante das câmeras. Seja na cena em que Rafael sofre um enfarte devido a toda pressão, stress e até mágoas que acumula há bastante tempo ou quando tem um diálogo franco e emocionante com sua mãe, no qual confessa tudo o que sempre quis: ser alguém na vida e deixá-la orgulhosa do filho que tem, expressando todo seu amor, carinho e admiração. Como protagonista da película, Darín nos faz crer e torcer para que seu personagem opte pelas melhores escolhas e consiga atingir seus objetivos da melhor maneira possível. Uma atuação primorosa.

A trilha sonora de Ángel Illarramendi, apesar de aparecer pouco, faz parte das cenas mais marcantes e fortes do longa, acrescentando muito sentimento mesmo que de forma sutil. É uma tarefa dificílima não sentir apreensão quando Rafael enfarta, não torcer para que ele consiga se reconciliar com Naty debaixo de muita chuva; não encher os olhos d’água quando conversa francamente com sua mãe ou no casamento de seus pais. Em todas essas cenas a trilha sonora marca presença e é como se puxasse as cordas exatas para ativar precisamente cada emoção que o diretor gostaria de passar.

Recheado de grandiosas atuações, um ótimo roteiro e diversos momentos emocionantes (misturado de algumas cenas cômicas), O Filho da Noiva é uma obra tocante e muito bem idealizada que expõe com maestria todos os problemas que podemos adquirir ao nos preocuparmos em excesso com trabalho e esquecermos de viver e nos importar com o que e com quem realmente importa.

O Filho da Noiva (El Hijo de la Novia) — Argentina, Espanha, 2001
Direção: Juan José Campanella
Roteiro: Juan José Campanella, Fernando Castets
Elenco: Ricardo Darín, Norma Aleandro, Héctor Alterio, Eduardo Blanco, Natalia Verbeke, Gimena Nóbile, Claudia Fontán
Duração: 125 min.

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