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Crítica | O Filho de King Kong

por Ritter Fan
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estrelas 2

Produzido a toque de caixa para surfar no estrondoso sucesso de King Kong e lançado apenas nove meses depois, O Filho de King Kong é a típica continuação desavergonhada e caça-níquel (não seriam todas?) que comprova que a Hollywood que hoje conhecemos, galgada em reciclagens, não é invenção moderna. Se existe uma qualidade neste segundo filme – por muito pouco não é um curta-metragem – é a reunião de parte do elenco e da equipe técnica do original, de certa forma ajudando na transição, ainda que a queda na qualidade seja mais do que evidente.

Quando a história começa, um mês se passou desde os eventos do primeiro filme e o ex-produtor inescrupuloso Carl Denham (Robert Armstrong) é alvo de dezenas de ações judiciais pelos danos e mortes causados por King Kong solto em Nova York. Ao sair escondido de onde está e visitar o Capitão Englehorn (Frank Reicher) que o ajudara na empreitada de trazer o gigantesco símio para a cidade, os dois acabam zarpando para fugir das responsabilidades, navegando pelo mundo e fazendo bicos de transporte de carga aqui e ali. Em um belo dia, em Dakang, Denham conhece uma bela cantora (Helen Mack, vivendo uma personagem sem nome em tela, mas que é Hilda nos créditos) que encerra o show de uma banda de Jõao Penca e os micos adestrados por seu pai. Ato contínuo, em uma daquelas coincidências de revirar os olhos, Denham também se reencontra com o capitão falido Nils Helstrom, que lhe vendera o mapa da Ilha da Caveira, lar de Kong. E, mais coincidentemente ainda, Helstrom e o pai da bela moça era amigos, até que a tragédia se abate.

Helstrom quer sair dali o mais rápido possível e, para isso, diz que, na Ilha da Caveira, havia, também, um tesouro, o que, claro, desperta o interesse em Denham e Englehorn que partem para lá carregando Helstrom e, sem saber, como uma clandestina, Hilda. Com metade do curto filme dedicado a esse preparativos, resta pouquíssimo tempo para a trupe (Denham, Englehorn, Hilda, Helstrom e, claro, Charlie, o cozinheiro chinês, vivido por Victor Wong, mais um do elenco clássico que volta) sofrer um motim e ser jogada, somente com um bote, na Ilha da Caveira, onde encontram o que deduzem ser o filhote albino de Kong – bem menor que o pai e muito mais amigável (e idiota…) – e alguns outros simpáticos monstros que querem jantá-los.

Chega a ser constrangedora a pegada cômica que Ruth Rose, co-roteirista do original, impõe à narrativa. Não porque a comicidade não possa ser elemento da obra, mas sim por sua inabilidade em inseri-la naturalmente no texto. Tudo fica por conta de Kiko (o apelido do filho de Kong para a produção, nunca usado no filme) e um tipo de comédia pastelão completa e irritantemente deslocada de toda a primeira metade que também tem uma pegada leve, mas com muito mais estrutura e lógica. Aqui, o não-tão-pequeno símio branco (aliás, porque raios ele é albino???) é tratado como atração de circo pelas lentes de Ernest B. Schoedsack (co-diretor do original) que só está interessado em colocá-lo em sucessivos combates contra outras criaturas convenientemente do tamanho reduzido dele.

Com isso, toda a mágica de King Kong desaparece debaixo do puro espetáculo para ganhar mais alguns trocados em cima da obra original. O que antes continha profundidade e sub-texto, agora é só superfície e efeitos especiais. O que antes passava algum tipo de mensagem duradoura, agora só deixa na lembrança o mini-Kong albino e trapalhão e isso por não mais do que algumas horas depois do The End. Em outras palavras, é a típica continuação hollywoodiana que, nesse caso, até tenta carregar mais no lado dos “fogos de artificio” (dentro da teoria do “quanto mais, melhor”), mas tudo o que consegue é um clímax apocalíptico que é ao mesmo tempo completamente sem sentido e jamais trabalhado na narrativa, além de instantâneo, durando pouco mais de dois minutos. É um “show” de conveniência narrativa que deixará o espectador coçando a cabeça e soltando risadas inadvertidas e constrangidas.

Mas e os efeitos especiais? Será que pelo menos eles – tão dramáticos e inovadores na primeira versão – se sobressaem? Afinal, também está de volta à produção Willis H. O’Brien, responsável por capitanear o espetacular stop motion de King Kong e das criaturas da Ilha da Caveira. A grande verdade é que, por mais que O’Brien tenha tentado manter a qualidade, a velocidade da produção impediu resultados comparáveis. Ainda que o mini-Kong tenha boas expressões e movimentações, os demais monstros parecem duros e imóveis, especialmente o dinossauro que ele enfrenta depois de lutar contra o urso que pelo menos parece mais fluido. Mas não há senso de escala, não há urgência e o lado pastelão da fita acaba transformando o trabalho do artista em não mais do que um detalhe nessa produção tenebrosa.

O Filho de King Kong, por incrível que pareça, fez um moderado sucesso de bilheteria, mas foi massacrado pela crítica. E merecidamente. Se existe algo bom para se tirar de toda essa experiência é que, primeiro, ela só dura 70 minutos e, depois, que o conceito de King Kong permaneceria enterrado por décadas, até 1962, quando o monstrão reapareceria para lutar contra Godzilla

O Filho de King Kong (The Son of Kong, EUA – 1933)
Direção: Ernest B. Schoedsack
Roteiro: Ruth Rose
Elenco: Robert Armstrong, Helen Mack, Frank Reicher, John Marston, Victor Wong, Ed Brady, Clarence Wilson
Duração: 70 min.

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