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Crítica | O Grande Gatsby (2013)

por Rafael W. Oliveira
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O cinema de Baz Luhrmann sempre foi do tipo “ame ou odeie”. Há quem goste do estilo excêntrico, exibicionista e gritante do diretor, enquanto outros desaprovam toda a opulência exagerada e a paleta multicolorida de seus filmes. Funcionou no musical Moulin Rouge – Amor em Vermelho, mas levou o épico Austrália a um retumbante fracasso.

Após um hiato de cinco anos, Luhrmann retorna as telas mantendo seu mesmo estilo adaptando o elogiado conto de F. Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby, cuja adaptação mais conhecida havia sido aquela protagonizada por Robert Redford e Mia Farrow na metade dos anos 70. Para alguém como Baz Luhrmann, trazer mais uma adaptação do conto de Fitzgerald seria a oportunidade de não apenas trazer ao conhecimento do mundo moderno a trágica história de amor entre Jay Gatsby e sua prima Daysi, mas também de Luhrmann imprimir seu estilo próprio e peculiar a uma história que, por si só, já exigia uma visão mais despojada para retratar o espírito da obra de Fitzgerald e suas críticas ao consumismo e agitação social que mascarava vidas vazias e superficiais.

Em partes, Luhrmann obteve êxito. Seu olhar exótico faz de O Grande Gatsby uma experiência visualmente atraente, marcada por cenários grandiosos, efeitos especiais impressionantes, figurinos luxuosos e atores muito bem caracterizados. Como exigido, Luhrmann consegue retratar o quão inebriante aos olhos eram as festas dadas por Gatsby, que debaixo de todo aquele luxo, escondia uma personalidade humana, com suas próprias ambições e frustrações. A trilha sonora pop, um artifício já visto no mencionado Moulin Rouge, é novamente bem utilizado aqui, inserindo canções de artistas como Beyoncé, Jack White, Florence & The Machine, Jay-Z e Lana Del Rey, que casam perfeitamente com a proposta de retratar a grandiosidade das festas. Esteticamente, O Grande Gatsby é um filme repleto de atrativos.

Luhrmann, entretanto, falha na hora de retratar o lado oposto. Talvez ao estar fascinado com suas próprias concepções visuais e se deixando levar por seu gosto extravagante, o diretor acaba por se descuidar no desenvolvimento do lado mais humano da história, que pedia por um olhar mais contido sobre seus personagens. De fato, Luhrmann deixa se levar pelo didatismo e pela velocidade de sua narrativa (que não impede que o filme seja absurdamente longo) que distrai o diretor de detalhes essenciais para a compreensão da história.

Ao contrário do que afirmou desejar, Luhrmann não consegue capturar o espírito do livro e seu tempo em sua completude. Sua mão pesada contribui para que isto não aconteça. Preocupado em excesso com o contexto, o cineasta perde a oportunidade de retratar, de maneira vívida, as obsessões de seres humanos que aparentavam possuir tudo, mas cuja principal necessidade estava no desejo de ter a pessoa amada ao lado. O filme evoca ecos de Moulin Rouge e Romeu + Julieta, mas sem a mesma eficácia de ambos.

Desta forma, o excesso logo perde o fôlego, o uso do 3D, antes adequado, torna-se dispensável, e o que sobra é uma experiência que, apesar das tentativas, não chega a lugar nenhum. Se o filme consegue retratar, por mínimo que seja, as características do clássico de Fitzgerald, é devido ao seu elenco em ótima forma. Como o ator experiente que é, Leonardo DiCaprio personifica um Jay Gatsby fascinante de se acompanhar, encarnando bem os medos de angústias de seu personagem. Carey Mulligan dribla a tolice irritante de Daysi Buchanan tão presente no livro e nos entrega uma composição que oscila perfeitamente entre a doçura e um misterioso fascínio, além da atriz ser sempre um colírio para os olhos. E mesmo o limitadíssimo Tobey Maguire consegue inserir uma natural ingenuidade a Nick Carraway, aquele que adentra e descobre os mistérios e desejos que cercam a vida de Gatsby por traz de suas festas luxuosas.

Assim sendo, esta nova adaptação de O Grande Gatsby se resume a uma experiência de grande fascínio visual e sonoro, mas emocionalmente oca e distante, iludida consigo mesma, e o cinema então permanece sem uma adaptação decente do clássico conto de F. Scott Fitzgerald.

O Grande Gatsby (The Great Gatsby, Austrália/EUA, 2013)
Direção:
Baz Luhrmann
Roteiro
: Baz Luhrmann, baseado em romance de F. Scott Fitzgerald
Elenco: Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan, Tobey Maguire, Joel Edgerton, Isla Fisher, Gemma Ward
Duração: 142 min.

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