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Crítica | O Julgamento do Incrível Hulk

por Ritter Fan
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Se você, como eu, assistiu a série live action O Incrível Hulk que foi ao ar entre 1978 e 1982 na televisão, com direito a muitas reprises, sabe perfeitamente o que esperar de O Julgamento do Incrível Hulk, telefilme lançado como parte de uma “trilogia” que começou seis anos depois do cancelamento da série. O espírito melancólico da complicada vida de David Bruce Banner (o David foi acrescentado pois o showrunner achava aliterações irreais, o que é uma ironia, pois Bill Bixby, o ator que vive o personagem e que dirige o filme, tem um nome formado justamente por uma aliteração…)  foi perfeitamente mantido aqui, além do tradicionalmente parco orçamento para efeitos especiais.

O Julgamento não seria muito mais do que a versão estendida de um episódio da série não fosse a participação muito especial de outro herói da Marvel, em seu début televisivo: Matt Murdock, o Demolidor. No filme anterior – A Volta do Incrível Hulk, de 1988 – o Gigante Esmeralda (nem tão gigante e nem tão esmeralda assim, na verdade) lutou ao lado de Thor, no primeiro gostinho de um “universo compartilhado”, algo tão lugar-comum hoje em dia para a Marvel na televisão e no cinema. E, assim como em A Volta, O Julgamento foi, na verdade, um backdoor pilot para uma possível série derivada de O Incrível Hulk, dessa vez focada no Demolidor. Como a história deixa claro, nenhum dos dois projetos vingou e Thor e Demolidor demorariam ainda alguns anos para surgirem em carne e osso novamente.

No entanto, justamente por manter a linha do que os fãs da série estavam acostumados, o filme não desaponta completamente. Claro que, se compararmos a séries e telefilmes modernos, O Julgamento parecerá algo feito por um fã completamente sem inspiração e orçamento. Lembre-se: a transformação de Banner em Hulk se limitava a Bixby fazendo cara de alguém com sérios problemas intestinais, lentes de contato verdes e, em um rápido corte, a substituição do ator pelo musculoso Lou Ferrigno pintado de verde e com uma tenebrosa peruca. Mas a transformação, em si, nem é a prova cabal do baixo orçamento do filme (e da série). Há até certo charme nesse ponto. O que entrega de bandeja o filme à categoria de semi-trash são as paredes de isopor, a repetição de cenários, a direção de jardim de infância e o roteiro pueril, sem nenhum arroubo criativo.

Apesar do título, a história não é sobre o julgamento do Hulk, mas sim sobre a prisão de Banner depois que ele tenta ajudar uma mulher prestes a ser violentada no metrô por uma dupla de bandidos que acabara de assaltar uma joalheria a mando de Wilson Fisk (John Rhys-Davies parecendo um cafetão). Ele é defendido por Matt Murdock, o advogado cego que secretamente é o vigilante Demolidor em uma cidade que não é nomeada. Murdock quer derrubar Fisk e faz a conexão entre Banner, os criminosos e o Rei do Crime (que jamais é nomeado assim).

Por ser justamente um backdoor pilot, o filme foca em Matt Murdock, na verdade. Com Banner na prisão, o advogado cego ganha os holofotes e, de certa forma, rouba o filme. Vivido por Rex Smith (da série oitentista Moto Laser – está lembrado?), o ator não desaponta e tem uma performance convincente tanto como Murdock como o vigilante mascarado. Bixby, como sempre, está muito bem e os dois fazem uma dupla com química, agradável de se ver. Mas é só isso. O roteiro não ajuda e o baixo orçamento impede momentos super-heroísticos mais elaborados. Para se ter uma ideia, Hulk e Demolidor não contracenam, a não ser por alguns breves segundos, quando o monstro está voltando a ser Banner diante de um Demolidor semi-desacordado.

Apesar de todos os defeitos, se o espectador entrar no espírito setentista/oitentista da série original e abordar o telefilme mais como uma curiosidade, o resultado final é passável como diversão rasa. Afinal, para os fãs da Marvel, essa não só é a segunda vez em que um universo live action compartilhado da editora é tentado (a primeira foi com Hulk + Thor, no filme anterior), como é a primeira vez que Matt Murdock/Demolidor aparece em carne e osso e, ainda por cima, com uma história de origem muito parecida com a original. Seu uniforme é preto, não vermelho ou amarelo, com uma máscara que parece um lenço amarrado no rosto, mas ele usa o cassetete e tem os mesmos poderes e habilidades. Até mesmo Frank Miller, na minissérie O Homem Sem Medo, viria a usar esse tipo de uniforme, o que foi repetido pela série de TV do Netflix com o personagem. O Julgamento é, também, a primeira que vemos o vilão Wilson Fisk e o informante Turk em carne e osso e também conta com a primeira ponta de Stan Lee em um filme da Marvel (ele é um dos jurados na sequência de sonho/pesadelo), além de ser a primeira vez que o Hulk aparece vestindo a tradicional calça roxa rasgada (também na sequência de sonho, durante o “julgamento”).

E, por cima disso tudo, ainda há um paralelo interessante entre a história de origem dos dois personagens, algo raramente pensado, mas que faz sentido: ambos tiveram suas origens ligadas a acidentes com radiação que lhe deram habilidades especiais, segregando-os do mundo ao seu redor. Claro que se transformar em um monstro verde é bem diferente de perder sua visão e ganhar um super-radar, mas acho que dá para entender o paralelo, não?

No final das contas, O Julgamento do Incrível Hulk é uma diversão descompromissada e simplista, que só vale mesmo pela curiosidade do inusitado que é ver o Demolidor nas telinhas junto com o Hulk. Tem seus atrativos, claro, mas muito mais de um jeito saudosista para quem viu a série de TV do que qualquer outra coisa.

O Julgamento do Incrível Hulk (The Trial of the Incredible Hulk, EUA – 1989)
Direção: Bill Bixby
Roteiro: Gerald Di Pego
Elenco: Bill Bixby, Lou Ferrigno, Rex Smith, John Rhys-Davies, Marta DuBois, Nancy Everhard, Richard Cummings Jr., Joseph Mascolo, Linda Darlow, John Novak, Dwight Koss
Duração: 100 min.

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