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Crítica | O Melhor Lance

por Gabriela Miranda
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Um leiloeiro desonesto. A trama toda gira em torno da falsidade. Na arte nem os melhores falsificadores resistem à tentação de deixar um traço pessoal, o que entrega a autoria deles. A vida copia a arte nessa trama muito bem trabalhada e desenvolvida para instigar o espectador a espiar os movimentos resolutos do martelo de um leiloeiro, som que assegura que o lote foi arrematado pelo comprador.

A capacidade de articular uma trama de suspense em torno da performance de um homem – Virgil Oldman, interpretado por Geoffrey Rush –  que incorpora a figura central em um ritual altamente estruturado, em que cada comprador acaba exibindo características claras da personalidade, demonstra uma habilidade de roteiro cativante. Os atores conseguem envolver o espectador como se cada cena fosse um novo lance até que possa ouvir o martelo marcar o maior lance.

A personagem do leiloeiro se baseia em parte por alguns símbolos de fetichismo, tais como a coleção de luvas e os retratos de mulheres. O que pode muito bem ser interpretado como uma maneira de se manter protegido contra o toque real de uma mulher. Nesse sentido, o temor é também veículo de excitação e torna-se também a razão da aproximação entre este homem, recluso e discreto, com uma mulher que sofre de agorafobia – medo de estar em espaços abertos – Claire Ibbetson.

Conforme a trama se desenvolve, o filme vai se interiorizando. A necessidade de permanecer no âmago dos acontecimentos traduz o discurso alinhado entre o que está exposto para os olhos verem e o que o espectador tem que distinguir como a linguagem do falsificador. Ou seja, o leilão se expande para todas as cenas do filme, que se torna palco de intrigas, especulação e demonstração de poder e persuasão.

O que nos leva a questão do nome do filme. O melhor lance funciona como um código para alertar um comprador sobre o fato de que chegou a hora de comprar o item do lote ofertado. O silêncio intensifica a tensão no salão do leilão a cada novo lance. Os menores movimentos e gestos são notados, uma linguagem particular de cada comprador. O ritmo adotado por Virgil em suas performances é acelerado, o que encoraja os lances e encadeia as reações esperadas como se ensaiasse uma peça teatral devidamente arquitetada, com um resultado premeditado.

São detalhes que vão ajudando o espectador a querer participar do percurso de Virgil entre as obras de arte e a mulher misteriosa, que se esconde atrás de uma parede falsa de uma casa antiga e cheia de itens valiosos e sedutores. Virgil é acima de tudo um consultor de arte, e um adorador. Isso justifica a desonestidade dele. E nele fica gravada a máxima de que há sempre algo autêntico escondido em cada falsificação.

O Melhor Lance (La Migliore Offerta, Itália – 2013)
Diretor: Giuseppe Tornatore
Roteiro: Giuseppe Tornatore
Elenco: Geoffrey Rush, Jim Sturgess, Sylvia Hoeks, Donald Sutherland, Philip Jackson, Dermont Crowley, Liya Kebede
Duração: 131 min.

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