Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | O Menino que Colecionava Homem-Aranha

Crítica | O Menino que Colecionava Homem-Aranha

por Handerson Ornelas
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“Esta história é dedicada a todas as crianças que sonham… especialmente aquelas que nunca viverão para ver seu sonho realizado.”

.Spoilers são inevitáveis.

A razão do Homem-Aranha ser meu super-herói preferido, assim como o de um público enorme, provavelmente é unanimidade e senso comum: seu lado humano. Peter Parker é um personagem totalmente relacionável, fácil de se colocar na pele e simpatizável; essa foi a grande sacada na criação de Stan Lee e Steve Ditko. É o espelho perfeito do que muitos de nós, leitores de quadrinhos, somos, com apenas o diferencial da dádiva (ou seria infortúnio?) de poderes que lhe foi dada. Um personagem ordinário com uma vida ordinária, apesar das habilidades extraordinárias.

E em uma história curta, de apenas 11 páginas, publicada na edição #248 da Amazing Spider-Man, Roger Stern parece sintetizar perfeitamente a essência do personagem. Esqueça vilões a serem combatidos, esqueça arcos e plots mega elaborados e até mesmo os constantes problemas da vida amorosa e familiar de Peter Parker. Vamos ao encontro de Timmothy Harrison, uma criança fã número 1 do Amigão da Vizinhança, que inclusive se deu o trabalho de criar uma coleção de coisas sobre o herói. Finalmente, uma noite, ele é surpreendido com seu sonho sendo realizado: o Homem-Aranha aparece para visitá-lo.

O Menino que Colecionava Homem-Aranha recebe até hoje um prestígio enorme dos fãs e críticos de quadrinhos. Trata-se de um conto nos moldes de Will Eisner – simples, tocante e quase filosófico – influência já admitida por Roger Stern. Por mais que a arte de Ron Frenz aqui seja ótima e não deixe a desejar, o real trunfo da obra inegavelmente está em seu texto. Acompanhando os diálogos entre fã e ídolo vamos aos poucos mergulhando na curta trama sem saber o que nos espera. Ao longo da história, vários trechos de uma publicação sobre Tim no jornal Daily Bugle são mostradas, divulgando sua obsessão pelo aracnídeo.

O plot twist que nos aguarda ao fim é realizado com a maestria da arte sequencial de grandes mestres da Nona Arte. Enquanto o herói vai embora do local onde Tim está, Ron faz questão de dar ênfase à placa em frente ao prédio: Hospital do Câncer. O que vem a seguir é o trecho final da reportagem presente no jornal, fazendo questão de explicar a situação difícil de Tim e o pouco tempo de vida que lhe resta. A obra é finalizada de forma que corte até o mais duro dos corações, não tenha dúvidas. Difícil não se deixar levar pela emoção.

Acima de tudo, é importante notar como esse roteiro emotivo faz jus ao cerne do personagem. Diria ser impossível imaginar tal história sendo contada da mesma forma pelo ponto de vista de outro herói, seja ele da Marvel ou DC. Tudo funciona tão bem talvez por termos noção da característica humana do Homem-Aranha, de sabermos que o indivíduo por trás daquela máscara é quase tão frágil quanto aquela criança a beira da morte. Além disso, vemos o herói contemplando sua total fragilidade, enfrentando um problema que vai muito além de sua alçada. Ele está diante de alguém que ele não pode salvar. Tudo isso parece perfeitamente resumido no semblante de Peter Parker ao se revelar para o menino, assim que este lhe pede para mostrar sua identidade.

O Menino que Colecionava Homem-Aranha é uma história única, não só no catálogo do personagem, mas para as HQs de super-heróis no geral. Leve, belíssima e honesta – a despretensão que encontramos aqui carrega um fator emocional difícil de encontrar em obras do tipo. Por fim, encapsula perfeitamente quem é o cabeça de teia: um herói frágil e que nem sempre poderá salvar a todos, mas fará o que for possível. Afinal, para sermos heróis para o próximo às vezes precisamos de bem menos do que parece.

The Amazing Spider-Man #248 – parte (EUA, 1984)
Roteiro: Roger Stern
Arte: Ron Frenz
Capa: John Romita Jr.
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: janeiro de 1984
Editora no Brasil: Editora Abril
Data de publicação no Brasil: janeiro de 1985 (Homem-Aranha Série 1, #19)
Páginas: 11

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