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Crítica | O Noivo, a Comediante e o Cafetão

por Luiz Santiago
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É preciso ter muito boa vontade ou mente cinematográfica muito aberta para acompanhar os 23 minutos desse curta-metragem de Jean-Marie Straub. A obra é a adaptação do cineasta e sua esposa, Danièle Huillet, para a peça de Ferdinand Bruckner, e é dividida em praticamente três momentos distintos. O primeiro é a apresentação do espaço geográfico ao espectador, em uma panorâmica móvel por uma rua, onde podemos ver diversas prostitutas em trabalho (parte das sequências não utilizadas por Straub aqui foram cedidas a Fassbinder para compor uma sequência de O Amor é Mais Frio Que a Morte). O segundo é literalmente um pequeno teatro filmado que ocupa 10 minutos do curta. E o último, a consumação de um casamento que não faz o cafetão do título muito feliz.

O Noivo, a Comediante e o Cafetão é o quarto filme de Jean-Marie Straub, que já havia realizado Machorka-Muff (1963), Os Não-Reconciliados (1965) e Crônica de Anna Magdalena Bach (1968). Diferente de seus filmes anteriores, o diretor empreendeu aqui um exercício cinematográfico de fragmentos autônomos, um teste narrativo interessante a princípio, mas que impede uma aproximação mais confortável do público em relação ao filme.

O espectador precisa pensar o projeto como uma colcha de retalhos urbana, filmada em lugares diferentes, com composição cênica de diferentes intensidades e, apesar de os esquetes não serem bem conectados, fazem parte de um único bloco dramático, quase como a figura da vida comum de qualquer cidadão. Essa diferença entre os pontos constituintes do enredo e o tipo de experiência a que o diretor se entrega, misturando teatro e cinema, poesia e filme-ensaio, acabam por se tornar um produto fílmico onde muito se diz, muito se vê e se faz, mas pouco se abstrai. O curta vale bastante como experiência, mas este é o seu único ponto verdadeiramente positivo.

A sequência teatral da obra padece dos males dessa arte quando misturada inadvertidamente com o cinema e a realização crua de Straub pouco faz para diminuir o impacto negativo desses pontos da dramaturgia. Ao fim, se o espectador conseguiu entender a intenção do diretor em fundir tais elementos, já terá em mãos um ponto positivo. E quanto à mensagem do conjunto da obra e possíveis críticas sociais que nela possamos ver, cada um irá fazer uma leitura muito particular, que pode ser a de um amargo ponto de interrogação ou de um símbolo caótico e colossal envolvendo sociedade e condicionamento comportamental dos indivíduos.

O Noivo, a Comediante E o Cafetão (Der Bräutigam, die Komödiantin und der Zuhälter) – Alemanha Ocidental, 1968
Direção:
Jean-Marie Straub
Roteiro: Jean-Marie Straub, Danièle Huillet (baseado nos poemas de Juan de la Cruz e na peça de Ferdinand Bruckner)
Elenco: Irm Hermann, Kristin Peterson, Hanna Schygulla, Rainer Werner Fassbinder, Peer Raben, Rudolf Waldemar Brem, Jimmy Powell, Lilith Ungerer
Duração: 23 min.

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