Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | O Que Aconteceria Se… Jane Foster Tivesse Encontrado o Martelo de Thor?

Crítica | O Que Aconteceria Se… Jane Foster Tivesse Encontrado o Martelo de Thor?

por Luiz Santiago
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ATENÇÃO: Este quadrinho foi lançado em agosto de 1978, muito antes de uma versão feminina de Thor (uma versão válida) estabelecer-se, de fato, na linha temporal da Marvel Comics. Este é apenas um conto imaginativo para algo que de fato iria acontecer 36 anos depois, quando Jane Foster se tornaria Thor: A Deusa do Trovão.

SPOILERS!

Algumas vezes é inacreditável que alguém tenha pensado em uma história e achado que ela tinha o mínimo de aceitabilidade e valor para ser publicada. Mais inacreditável ainda é que uma editora grande como a Marvel tenha publicado algumas dessas péssimas ideias. E tudo ainda piora quando Roy Thomas e Jim Shooter são os editores da tal revista e, ainda assim, dão o sinal verde para um horror como esta 10ª edição da série O Que Aconteceria Se…, que soma mais uma bola fora do roteirista Don Glut no título.

A trama, como de praxe na What If…, é baseada em aventuras já estabelecidas no Universo Marvel para o herói em questão. No presente caso, as atenções se voltam para Journey Into Mystery #83, quando tivemos a primeira aparição de Thor, o filho de Odin, exilado na Terra para um período de aprendizado de humildade. Depois de uma breve recapitulação dos acontecimentos na Noruega, Uatu, o Vigia, guia o nosso olhar para a Terra-788, onde a mesma invasão dos homens rochosos de Saturno acontece. Mas os eventos desta ocasião farão com que Jane Foster, a enfermeira e assistente do Dr. Donald Blake, encontre o cajado que se transformará no Mjölnir, fazendo-a absorver os poderes do objeto e se tornar… THORDIS!!!

A história de Don Glut é mais ou menos estabelecida para ser uma duplicata engraçadinha da origem de Thor, onde identificamos não só informações sobre a primeira aparição do Deus nórdico nos quadrinhos, mas também acontecimentos da Journey Into Mystery #84 a 95 e importantes enfrentamentos posteriores, junto de informações sobre Asgard, Loki e sobre a relação de corpo humano versus corpo divino, algo que a partir de um determinado ponto se torna discussão no roteiro. Jane assume os poderes de Thor e tenta entender o que está acontecendo com ela, já que não há memória ou informações sobre o que de fato é aquele cajado. Em um primeiro momento, tirando alguns cacoetes do texto, é possível aproveitar a história pela sua peculiaridade e pelas inúmeras possibilidades de boa representação para o Deus do Trovão, como deveria ser. Mas as coisas vão por um caminho completamente diferente. Um péssimo caminho.

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“O que aconteceria se… um sonho de Princesa-Marvel + Sugar Daddy & Sentimentalmente Vulnerável fosse realizado?”.

A inclusão de Loki na história já bastaria para um caos dramático que nem a bela arte de Rick Hoberg, com finalização de Dave Hunt, seria capaz de compensar. Aliás, a única coisa verdadeiramente boa da história, mesmo que em determinado ponto não sirva mais como “amortecedor de bobagens”, é a arte, especialmente nas páginas maiores, nos grandes closes em rosto de personagens e na última cena de luta — não pela luta em si (que no enredo, é tenebrosa), mas pela dinâmica dos movimentos nos desenhos e boa diagramação das páginas.

O roteiro vai aos poucos se perdendo nos planos de Loki e se esquece que o foco é mostrar as consequência de Jane Foster ser THORDIS. Em alguns momentos, o leitor tem a impressão de que a personagem será melhor desenvolvida e que a trama irá mostrar as consequências de Blake não ter sido o Thor no momento em que era para ser. Mas é só uma impressão mesmo. No roteiro, chega a acontecer de Odin decretar que Jane JAMAIS voltaria para Asgard, algo que “nem ele poderia desfazer“, mas eis que no final… ela volta! E sem justificativa plausível para esta quebra de comando do Todo Poderoso — uma determinação dele não deveria ser anulada pelo sono, certo? Não faz sentido! — ou maiores consequências pelo seus atos.

Como se não bastasse, do meio para o final da leitura nós nos deparamos com um drama de amores não correspondidos, com Lady Sif e Jane chorando pitangas e querendo o mesmo homem… um verdadeiro bolo de machismo estranho envernizado de conto de fadas que termina com Jane “percebendo que todos os valores que ela amava em Thor também estavam em Odin“; e, o que ela faz? Casa-se com ele, claro! Para vocês terem noção do quanto isso é estruturalmente bizarro, absolutamente NENHUMA das 9 histórias anteriores da série What If… (devidamente criticadas aqui) foi entregue a um cenário de romance dessa magnitude, tendo toda a trama se direcionado para relações entre indivíduos apaixonados e não para as consequências maiores daquilo que o próprio título diz — como deveria ser! Uma coisa simplesmente vergonhosa. Sem sombra de dúvidas, esta já ganha o topo da lista das piores edições da série até o momento.

What If Jane Foster Had Found — the Hammer of Thor? (What If? Vol.1 #10) — EUA, agosto de 1978
No Brasil:
 O que aconteceria se… o martelo de Thor fosse encontrado por uma mulher? (Editora Abril, 1981)
Roteiro: Don Glut
Arte: Rick Hoberg
Arte-final: Dave Hunt
Cores: Carl Gafford
Letras: Carol Lay
Capa: John Buscema, Gaspar Saladino
Editoria: Roy Thomas, Jim Shooter
34 páginas

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