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Crítica | O Quinto Elemento

por Guilherme Coral
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estrelas 4,5

Lembro-me claramente: final da década de 1990, minha família adquiriu seu primeiro aparelho de DVD, ainda área 1, já que a tecnologia não havia chegado ao Brasil. O primeiro disco, estreante do novo aparelho foi O Quinto Elemento, do diretor Luc Besson, que na minha ignorância cinematográfica – aos oito ou nove anos – eu ainda não conhecia. O filme me marcou desde a primeira vez, tornando-se logo um de meus preferidos – mais por razões pessoais que técnicas, obviamente. Agora, assistindo-o novamente, nada mais gratificante que enxergar que todo o fascínio presente de quando ainda criança se mantém mais de uma década mais tarde.

Três anos após dirigir sua obra-prima, O Profissional, Besson foge de seus retratos de cidadãos marginalizados e excêntricos, saindo da realidade e entrando de cabeça na ficção científica. Através dessa sua escolha, o diretor praticamente brinca consigo mesmo, transformando todos os personagens de seu longa-metragem em caricaturas ambulantes, utilizando-se do sci-fi para criar esse cenário surreal de uma Terra três séculos no futuro. E por que digo que ele faz uma brincadeira? Pois, em total oposição a suas outras obras, a única personalidade normal desse quadro é o protagonista, Korben Dallas (Bruce Willis), um taxista, ex-militar, que de um dia para o outro tem sua vida revirada pela aparição de uma garota. Parece familiar?

Apesar de podermos traçar esse paralelo com seu filme anterior, O Quinto Elemento se sustenta por si só, trazendo uma história não só original, mas que consegue nos manter imersos durante toda sua duração. A problemática geral é a chegada de uma entidade maligna à Terra e que, para impedi-la, é preciso que quatro pedras, simbolizando cada elemento, sejam obtidas em conjunto com o quinto elemento. Este elemento “extra” é ninguém menos que Leeloo (Milla Jovovich), uma garota de cabelos vermelhos que, perseguida pela polícia, cai no táxi de Dallas. Besson, porém, como sempre, não trabalha com a simplicidade e não só insere diferentes obstáculos, como demonstra um grande foco mais íntimo em cada um dos personagens principais.

Esse foco, contudo, quando comparado a Imensidão Azul, por exemplo, é menos constante na obra, ao ponto que o diretor prefere utilizar grande parte da projeção para construir esse universo futurístico. Voltamos à questão da excentricidade geral e não de apenas um ou dois indivíduos, característica que pede ao cineasta um retrato mais amplo da sociedade que deseja ilustrar. Ainda assim, tal amplitude frequentemente dá espaço para a velha intimidade, deixada clara pelos constantes planos mais fechados de Thierry Arbogast, que não tem medo de oferecer inúmeros closes que captam tão bem as emoções de cada personagem – ponto essencial dentro da narrativa para garantir a evidente química existente entre Korben e Leeloo.

De fato, a garota não só é o ponto central da trama, como o maior atrativo da obra, com uma personalidade que muito nos lembra àquela de Nikita em mais uma auto-citação do diretor. Jovovich consegue transmitir com exatidão toda a alienação de seu personagem, contrastando não só com a figura “filme de ação” de Bruce Willis, como do mundo à sua volta – que por si só já causa estranhamento pelo criativo design utilizado. Com uma notável inocência, Milla consegue cativar as audiências, provando de uma vez o interesse de Luc em tirar o foco do protagonista.

O que permanece no fim da projeção são as vívidas memórias dessa grande caricatura que é O Quinto Elemento, uma obra que, à primeira vista, parece distante do restante da filmografia do diretor, mas, quando analisada de perto, demonstra todos as queridas características de seu cinema. Partimos dos closes e vamos para os planos mais abertos, em um retrato que consegue prender desde crianças, assistindo seu primeiro DVD, até adultos que já cansaram de assistir ficções científicas. Trata-se de um filme que atua em diferentes camadas, indo do filme de ação dos anos 80, passando pela comédia e chegando até o Cinema du Look, marcado pelas obras anteriores de Luc Besson.

O Quinto Elemento (The Fifth Element – França, 1997)
Direção: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson, Robert Mark Kamen
Elenco: Bruce Willis, Milla Jovovich, Gary Oldman, Ian Holm, Luke Perry, Chris Tucker, Brion James, Tommy ‘Tiny’ Lister
Duração: 126 min.

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