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Crítica | O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (versão de cinema e versão estendida)

por Guilherme Coral
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estrelas 5

Nem tudo que é ouro fulgura, 
   Nem todo o vagante é vadio; 
O velho que é forte perdura, 
   Raiz funda não sofre o frio. 
Das cinzas um fogo há de vir. 
   Das sombras a luz vai jorrar; 
A espada há de nova, luzir, 
   O sem-coroa há de reinar. 

O terceiro livro da trilogia O Senhor dos Anéis é o mais curto dos três em história. Grande parte de suas páginas são repletas de apêndices que vão desde a linhagem dos personagens da série até os eventos futuros da Quarta Era. Apesar disso, a adaptação de O Retorno do Rei é a de maior duração, contando com 201 minutos de projeção.

Essa duração começa pelo fato que Peter Jackson optou por deixar as sequências de Minas Morgul e Laracna (Shelob, no idioma original) para este terceiro filme, aumentando os momentos de tensão da parte de Frodo e Sam. Além disso, houve uma extensão do final (mesmo que não haja a batalha do condado) que não termina exatamente com o fim do Anel. Nisso, entrarei em detalhes posteriormente.

O Retorno do Rei, assim como seu predecessor, tem a sua história dividida em diferentes focos, dessa vez dois: a jornada de Frodo e Sam; a batalha de Minas Tirith. Na primeira metade do filme tudo gira em volta do ataque iminente à capital de Gondor. Mesmo que efetivamente vejamos Gandalf e Pippin na cidade e Aragorn, Legolas, Gimli e os Rohirrim em Rohan, o foco é um só.

Na criação de expectativa para a batalha, Peter Jackson não deixa a desejar, é um deslocar de peças, como em um tabuleiro de xadrez, cada um fazendo seus movimentos a fim de dar sua própria contribuição na guerra. É o respirar profundo antes do mergulho. Ao mesmo tempo vemos uma grande intensificação do drama: as dúvidas dos personagens vem à tona e a tristeza pela separação (como vemos com Merry e Pippin).

Aumentando a dramaticidade das cenas está o trabalho de fotografia de Andrew Lesnie que intercala closes e planos detalhes com grandes planos abertos. Podemos ver isso na sequência onde Faramir cavalga para sua perdição à mando do pai, Denethor (perfeitamente caracterizado por John Noble), que come enquanto tudo isso ocorre. A cena é ainda acompanhada pelo silêncio e a canção de Pippin que garante o tom que percorre todo o filme.

O Retorno do Rei é, definitivamente, o mais sombrio dos três filmes. Os momentos cômicos são praticamente inexistentes, limitados a pequenas intervenções, em geral pela parte de Gimli e Pippin. A caracterização de Frodo, cada vez mais prejudicado pelo Anel, deixa claro o peso de sua jornada – principalmente em contraposição com Sam. Aqui insiro elogios à atuação de Elijah Wood que nos mostra um declínio palpável do personagem.

Tratando da atuação, todos, como nos filmes anteriores, nos dão trabalhos sólidos, nos quais realmente acreditamos ver o personagem e não um ator. Em especial coloco a retratação de Ian McKellen do “novo” Gandalf. Sua mudança é tamanha que nos faz perguntar se estamos vendo o mesmo mago. Essa dúvida vai embora, contudo, ao vermos as nuances de sua personalidade antiga vindo à tona e, é claro, sua paixão palpável pelos Hobbits. Essa mudança se dá, é claro, n’As Duas Torres, mas no terceiro filme isso é colocado ainda mais em questão.

Quando chegamos na segunda metade da projeção já estamos praticamente sem esperanças. Peter Jackson trabalha em todos os elementos da preparação da batalha de forma que pelo menos um detalhe dê errado em cada um deles. Poucos Rohirrim aparecem, não sabemos se Aragorn conseguiu seu exército de fantasmas e as tropas de Minas Tirith estão totalmente desmotivadas, graças ao seu regente. No topo de tudo isso estão as palavras venenosas de Gollum que conseguem separar Frodo e Sam.

“Coragem é a melhor arma que vocês tem” e definitivamente somente com ela começam as tropas de Gondor. O elemento motivador da luta é o mago branco que administra os diferentes frontes de defesa. O início da batalha, com as catapultas destruindo a cidade nos deixam ainda mais na dúvida se dali sairá um final feliz. E quase para nos dar uma dose de esperança, é inserido um diálogo entre Gandalf e Pippin, na qual o mago conta sobre a vida após a morte.

Quando tudo parece perdido, chegam finalmente os cavaleiros de Rohan, acompanhados pela marcante e ainda mais dramática trilha sonora de Howard Shore, em um arranjo do tema que ouvimos na destruição de Isengard pelos Ents. Essa sequência é marcada pela ótima contraposição de luz e sombras e podemos quase que acompanhar o desenrolar da luta através da iluminação.

O suspiro de alívio garantido pela ajuda de Theoden e seus cavaleiros é curto, pois logo em seguida chegamos ao terceiro estágio da batalha nos campos de Pelennor: a chegada dos homens do leste e seus Oliphants. Vemos nas sequências subsequentes momentos de heroísmo contrapostos à brutalidade da guerra que vai atingindo um crescendo até o embate final com o Rei Bruxo de Angmar.

O pouso do líder dos Nazgúl no campo de batalha se dá da forma mais dramática possível. Seu aproximar visto por Theoden é mais um exemplo da precisa montagem e fotografia, sem falar na própria atuação. Somos jogados em uma crua e brutal cena e, em seguida, na luta contra o Rei Bruxo. Sua retratação está mais ameaçadora que nunca, com seu capacete e gigantesco mangual.

A batalha dos campos de Pelennor, enfim, chega ao seu último estágio, com a chegada de Aragorn, Legolas e Gimli e o exército de fantasmas. A esperança que havia praticamente deixado o espectador é trazida de volta. O fim da luta, contudo, se dá muito rapidamente e nos é dado um anti-clímax para o grandioso embate que presenciamos.

Enquanto toda a guerra acontece podemos presenciar o ótimo trabalho de montagem que percorre todo o filme. Através dele, a passagem do tempo é nítida e não mais temos a sensação de uma narrativa capitular como a vista no filme anterior. Toda a trama e ritmo do filme funcionam em crescendo e mesmo com a pausa após a batalha de Minas Tirith, sabemos que o clímax se aproxima.

Com a chegada de Frodo e Sam ao sopé da montanha da perdição e o resto dos guerreiros no portão negro, temos finalmente o que soa como um reencontro. Todos os personagens novamente unidos com um objetivo único. Essa sensação é ainda amplificada no que considero a melhor sequência do filme, que inicia com as dramáticas palavras de Aragorn “por Frodo”. A partir daí vemos a união dos heróis através da meticulosa montagem e o tema da sociedade (agora com um coro).

O filme, então, encaminha para seu desfecho, mas antes devo colocar em foco os momentos finais de Gollum/ Sméagol. A retratação da criatura e a composição da cena de seu reencontro com o Anel finalmente colocam em primeiro plano sua obsessão e paixão pelo objeto de poder. E mesmo que por alguns instantes sintamos pena do ser, assim como sentimos por Bilbo em O Hobbit.

Quanto aos inúmeros finais de O Retorno do Rei, devo tecer elogios e críticas. O problema da constituição de seu fim está no tom dado às cenas finais. Cada uma delas nos faz parecer que o filme irá terminar. Acredito que a projeção acaba exatamente onde deve acabar. Um filme de 201 minutos não precisa poupar esforços para nos mostrar o que acontece após o fim da Guerra do Anel.

Tendo isso em vista, Peter Jackson nos mostra cada um dos desfechos dos personagens e finaliza com os maiores heróis da história e criaturas preferidas do próprio Tolkien: Os Hobbits.

Por último, mas não menos importante, está a trilha sonora que permeia todo a projeção. Howard Shore alcançou, com a união das trilhas dos filmes anteriores, o seu ponto máximo. Nos entrega nesse terceiro filme as músicas mais dramáticas da trilogia que perfeitamente se encaixam no tom do filme.

O Retorno do Rei fecha a trilogia O Senhor dos Anéis com chave de ouro. Termina onde o primeiro começa, no condado, com a volta à normalidade. É uma obra que busca arrancar, desde o início, as lágrimas dos espectadores e, em diversos momentos, efetivamente consegue. Termina assim uma das maiores sagas da Terra-Média.

Versão Estendida

estrelas 5

Seguindo o mesmo estilo das duas outras versões estendidas, a de O Retorno do Rei insere cenas que ampliam a mitologia da Terra-Média. Além disso, diversas cenas cortadas devido à violência retratada são reinseridas, acabando por melhorar o clima inerente ao filme.

A batalha de Minas Tirith ganha diversas adições que contribuem para um melhor andamento e desfecho desta. Não mais a luta acaba em instantes após a chegada do exército de fantasmas.

Diversas cenas completamente cortadas da versão de cinema também foram acrescentadas, como Aragorn se revelando a Sauron, a morte de Saruman e o embate entre Gandalf e o Rei Bruxo (que foi mostrada no trailer de cinema).

As adições dessa versão são muito bem vindas tanto para fãs quanto para não fãs. Minha única ressalva é quanto à morte de Saruman que não se encaixa na montagem do filme e ficou muito exagerada. Fora essa, contudo, todas contribuem para o aprimorar da história e oferecem um melhor desfecho à épica trilogia filmada por Peter Jackson.

O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (The Lord of the Rings: The Return of The King, EUA/Nova Zelândia – 2003)
Direção: Peter Jackson
Roteiro: Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens, J.R.R. Tolkien (romance)
Elenco: Elijah Wood, Sean Astin, Sean Bean, Cate Blanchett, Orlando Bloom, Billy Boyd, Christopher Lee, Andy Serkis, Ian McKellen, Peter McKenzie, Dominic Monaghan, Viggo Mortensen, John Rhys-Davies, Liv Tyler, Hugo Weaving, Bernard Hill, Karl Urban, Miranda Otto, John Noble
Duração: 201 min. (versão de cinema), 252 min. (versão estendida)

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