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Crítica | O Ursinho Pooh (2011)

por Gabriel Carvalho
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“Corujão, precisamos de mais mel.”

Quando O Ursinho Pooh foi anunciado, os espectadores estavam preparados para a segunda sequência que os estúdios Walt Disney produziriam de um longa original deles – sendo a primeira, Bernardo e Bianca e Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus. Os personagens do Bosque dos 100 Acres, embora não fossem enormes sucessos de bilheteria – o filme do Tigrão, com o maior retorno financeiro, embora feito fora do estúdio de animação principal, arrecadou menos de cem milhões de dólares -, rendiam valores absurdos em diferentes mídias, tornando Pooh e companhia uma das marcas mais bem sucedidas dentro da empresa do camundongo falante. Mesmo assim, a retomada de uma franquia, nos moldes mais valiosos da Walt Disney Animation Studios, decidida a produzir mais uma animação feita de modo tradicional, não poderia dar errado, poderia? Ledo engano, quando você escolhe para o lançamento do seu produto a mesma data que Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2, épica conclusão da bilionária saga do bruxinho, você está claramente se auto sabotando. O Ursinho Pooh é uma das produções menos relembradas da Retomada Disney, mas, definitivamente, uma das mais charmosas e inspiradas dessa fase que reacendeu a chama do público e da crítica pela empresa dos era uma vez.

Os contos atemporais de A. A. Milne, dessa forma, são retornados ao cinema, em uma história, teoricamente, capaz de definir uma franquia, trazendo o melhor do material fonte. O Ursinho Pooh não é, primeiramente, um conjunto de esquetes, apesar de termos uma estrutura fragmentada. O que a animação apresenta é uma história simplíssima, interligando tramas da mesma maneira, sem muita complexidade. Em primeiro lugar, acompanhamos a busca dos protagonistas pelo rabo de Ió (Bud Luckey), misteriosamente desaparecido. Já, em segundo, temos um suposto sequestro de Christopher Robin (Jack Boulter), raptado pelo temível Voltogo. A fragmentação, inicialmente, torna toda a ação extremamente trivial, o que imerge o espectador dentro do universo, caracterizado pela sua inocência e despretensão – como uma brincadeira de criança é. Entretanto, no final da fita, percebemos um desleixo do roteiro em concluir uma das vertentes, enquanto a outra é muito bem resolvida. Já a narrativa é impressionante, sendo uma costura de momentos imaginativos com outros momentos imaginativos, resultando em um conjunto de ideias excepcionais, divertidíssimas. Com isso, o espectador, adulto ou criança, é guiado suavemente por toda a duração do longa-metragem, que passa despercebida – até o filme acabar, acontecimento que resultará em imensa frustração.

A justificativa para esse efeito no espectador é simples: O Ursinho Pooh é curto demais. A duração da obra é similar a de Dumbo, contendo a mesma problemática que o filme do elefante voador possui: a conclusão apressada. O roteiro poderia ter aproveitado mais tempo de tela para, diferentemente de tornar a narrativa mais complexa, costurar um ponto ao outro, unindo a jornada em busca do rabo de Ió com a jornada em busca de Christopher Robin. As Aventuras do Ursinho Pooh, de 1977, apresentava nenhuma costura nesse formato, apenas sendo concluída, narrativamente, com a despedida da criança, após três jornadas completamente diferentes terem sido contadas. Naquele caso, as trajetórias funcionavam como contos naturalmente distintos, de livros diferentes, sendo narradas uma atrás da outra. Já aqui, as trajetórias estão presentes na mesma continuidade. Mesmo assim, as intercessões são excepcionais, sendo possível exaltarmos duas: a fome do Ursinho Pooh (Jim Cummings) e a tristeza inerente de Ió. Por um lado, Ió permanece “especialmente” apático por todo o filme, tentando ser alegrado por Tigrão – também interpretado por Cummings -, e, por outro, o ursinho bobo que aprendemos a amar se envolve nas maiores trapalhadas ansiando por mel, mas, finalmente, abrindo mão do seu desejo pela felicidade dos seus amigos.

As excelentes ideias da obra, sendo assim, encontram o maior ápice de criatividade nas sequências musicais, especialmente The Backson Song e Everything is Honey – canções que, particularmente, realçam a falta de imaginação presente em Tigrão – O Filme, por exemplo. Ao mesmo passo, It’s Gonna Be Great também é um bom embalo para nos ajudar a, mentalmente, transformar Tigrão no Voltogo, grande ameaça do filme. Ademais, uma outra característica de O Ursinho Pooh, que torna toda a experiência ainda mais gratificante, é a exímia qualidade de animação, permitindo as mentes criativas por trás da produção explorarem cenários e ideias visuais magníficas, como a invasão das letras ao filme, retornando as passagens metalinguísticas que existiam em As Aventuras do Ursinho Pooh. A covardia fofa de Leitão (Travis Oates), a rabugice do Coelho (Tom Kenny), a falsa sabedoria do Corujão (Craig Ferguson) – em sua melhor participação -, a inquietude saltitante de Tigrão, a eterna tristeza de Ió, a visão de mundo simplificada existente no coração de Pooh; todos esses personagens e suas peculiaridades são evidenciados por uma obra contendo muitos dos melhores momentos envolvendo esse universo. O Ursinho Pooh não conquistou o mundo quando fora lançado, mas é uma história que merece ser resgatada e contada para todos.

“Nós todos vamos morrer.”

O Ursinho Pooh (Winnie the Pooh) – EUA, 2011
Direção: Stephen J. Anderson, Don Hall
Roteiro: Burny Mattinson, Stephen J. Anderson, Clio Chiang, Don Dougherty, Don Hall, Kendelle Hoyer, Brian Kesinger, Nicole Mitchell, Jeremy Spears
Elenco: Jim Cummings, Jack Boulter, Travis Oates, Bud Luckey, Wyatt Hall, Kristen Anderson-Lopez, Tom Kenny, Craig Ferguson, Huell Howser, John Cleese
Duração: 63 min.

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