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Crítica | Dreadstar: Odisseia da Metamorfose – O Preço

por Luiz Santiago
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Na conduta dos homens, especialmente dos príncipes, contra a qual não há recursos, os fins justificam os meios. Portanto, se um príncipe pretende conquistar e manter o poder, os meios que empregue serão sempre tidos como honrosos, e elogiados por todos, pois o vulgo atenta sempre para as aparências e os resultados; o mundo se compõe só de pessoas do vulgo e de umas poucas que, não sendo vulgares, ficam sem oportunidade quando a multidão se reúne em torno do soberano.

Maquiavel

Inicialmente publicada em preto e branco na Eclipse Graphic Album Series #5 (1981) esta história, que é a parte dois do arco da Odisseia da Metamorfose, recebeu uma reimpressão em cores na Dreadstar Annual #1 (Marvel Comics, 1983), dando maior significado à arte de Jim Starlin e ao roteiro místico e filosófico do volume que, a rigor, não é uma história de Dreadstar e sim de Syzygy Darklock. Starlin não faz um trabalho melhor que o de Odisseia da Metamorfose, mas mantém uma arte excelente, com belos painéis estelares. No começo há uma menor quantidade de desenhos e certa pobreza estética, mas à medida que o verdadeiro protagonista da história ganha destaque, a arte recebe um maior número de detalhes, ganha vida, finalizando-se de maneira bastante admirável.

O título aqui não poderia ser mais icônico. O Preço. Uma espécie de “lição de moral” que já vem embutida na denominação da obra, dizendo-nos que todo poder, toda posição em um alto escalão e toda glória tem um preço. E normalmente não é um preço baixo. Como nos ensina um antigo ditado popular, não existe almoço grátis.

Para um leitor desavisado, a narrativa aqui pode estranhar ou não ter uma boa recepção. Não por ser ruim, longe disso. É claro que ela não é tão bem escrita quanto o volume anterior, mas ainda assim é uma ótima história. O motivo para a possível estranheza pode vir porque normalmente se coloca O Preço como uma aventura de Dreadstar, todavia, esta é a história do homem que treinou o Guerreiro das Estrelas, daquele que o fez ser o grande ícone da Galáxia Empírica e o verdadeiro motivo de ódio para a Instrumentalidade.

odisseia da etamorfose o preco jim starlin

Começamos com uma narrativa do ponto de vista de Ajar’l Darklock, irmão de Syzygy, um homem atormentado pelo medo de algo escondido nas sombras, no canto do olho. Pouco tempo depois temos a história de Syzygy como Bispo da Instrumentalidade e seu empenho em descobrir a morte do irmão, o que o leva ao encontro de dois demônios (um deles em forma de gato, interesse recorrente na arte/texto de Jim Starlin) e a fazer dois grandes sacrifícios, um em relação ao próprio corpo e outro em relação à pessoa que mais amava no Universo. Como se vê, o preço para se conseguir alguma coisa de importância relevante na vida é um motivo moral presente em toda a história (assim como nos eventos da Trombeta do Infinito) e se manteria como uma das bases na saga de Dreadstar.

A relação entre sacrifício, preço e consequências vem à tona exatamente como veio para Vanth em Odisseia da Metamorfose. Até a relação do Guerreiro com Aknaton, naquela ocasião, é a mesma de Syzygy com Taurus Killgaren em O Preço, com a diferença de que aqui temos um personagem que quase nada participou de um plano-propósito para o Universo e para sua própria vida. O leitor se sente um pouco incomodado com essa intromissão alheia na existência do personagem (você acredita em destino?), mas esse pensamento é problematizado de forma genial quando se coloca em mente que tais manipulações colocariam fim ao conflito do Império com a Instrumentalidade. A humanidade ganharia muito com isso.

Caímos então no abismo do Príncipe de Maquiavel. Só que desta vez [e mais uma vez] os riscos podem começar em escala menor, mas tendem a crescer até se tornarem eventos cósmicos. Ao final da edição, com o encontro entre Syzygy e Vanth, vemos isso muito claro. Dois homens, dois poderosos marcados por ações, culpa e lamentos que carregarão por toda a vida. Mas de maneira curiosa, não existe um genuíno arrependimento deles pelo que fizeram. Ambos enxergam essas ações como parte de um propósito e abraçam a ideia com suas vidas porque é justamente isso que entendem que é viver. Sem um propósito, melhor seria se estivessem mortos. Um pensamento bastante denso em mais uma história cheia de conflitos morais e éticos de Jim Starlin.

A Odisseia da Metamorfose: O Preço (Metamorphosis Odyssey: The Price) — EUA, 1981
Roteiro: Jim Starlin
Arte: Jim Starlin
52 páginas

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