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Crítica | Olhos Abertos (1998)

por Rafael W. Oliveira
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Quando se trata de tecer uma análise do cinema de M. Night Shyamalan, é imprescindível olhar para trás e se dar conta das suas inspirações, que provém não de gênero (apesar de seu sucesso no campo do suspense indicar isso), mas de temas e ideologias que cercam a própria vivência do diretor indiano. Ao notarmos a tímida presença de Olhos Abertos  em sua filmografia, e isso numa era pré-boom de O Sexto Sentido, o que sentimos está mais para uma curiosidade não exatamente obrigatória em experimentar as raízes de um diretor que, dentro de um cinema autoral, sempre soube expandir suas narrativas para o grande público, para o bem ou para o mal.

E sendo arriscado na afirmação, Olhos Abertos é capaz de ser tão uma síntese sobre o cinema do indiano quanto viria a ser, de forma polêmica, A Dama na Água, onde acontece toda a junção de temas universais como família, fé e religião em um cenário propositalmente isolado, mas fluído de um sentimento universal. Aqui, apenas acompanhamos Joshua Bell (Joseph Cross), um garoto de 10 anos que estuda num colégio católico para meninos. Vivendo com os pais, Joshua  insiste em procurar entender o significado da vida e de Deus após a morte de seu avô Beal (Robert Loggia).

A abordagem de objetivos ideológicos, terapêuticos e até mesmo moralistas, mas que viriam a ser desenvolvidas com maior sutileza pelo diretor em seus projetos seguintes, estão fortemente presentes de forma desnudada em Olhos Abertos, não exatamente orgulhosas de estarem ali, mas inevitáveis em sua transcendência a própria construção da narrativa. Explico: Olhos Abertos é um filme que quer e precisa ser notado por seus temas internalizados na própria persona de Shyamalan. E talvez devido a essa extrema pessoalidade é que Olhos Abertos seja excessivo em sua pregação moral. Pois sim, não há outra forma de defender o roteiro tão discursivo da obra.

Há, é claro, toda a dicotomia entre o cômico e o trágico, as lágrimas e risadas, algo que Shyamalan já sabia fluir desde antes de seu garotinho que enxergava fantasmas. O grande incômodo está na ausência, por exemplo, do que o diretor enxertou em Sinais vários anos depois: a dúvida constante e a constatação final (ou não) da existência da divindade. Dependendo aqui uma reviravolta que quer forçar sua afirmação (pois realmente não há um chamado para discussão), Shyamalan nos diz que existe um Deus, uma divindade, uma forma transcendente a nós mesmos. Mas em seu filme de alienígenas, Shyamalan utiliza tal discurso como simbologia para o vazio interior do homem e um conflito de uma família com o alicerce prejudicado. Em Olhos Abertos, o que sobra é apenas a panfletagem religiosa.

Assim, Olhos Abertos termina exatamente como um filme para a afirmação, e menos para a contestação. E numa temática como esta, a dubiedade certamente enriqueceria a experiência, algo que felizmente o indiano aprendeu a moldar em seus filmes seguintes. Aqui, temos apenas uma experiência de indícios daquele que viria a ser um dos cineastas de nome mais controverso do cinema contemporâneo.

Olhos Abertos (Wide Awake) — EUA, 1998
Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Elenco: Joseph Cross, Timothy Reifsnyder, Dana Delany, Denis Leary, Robert Loggia, Rosie O’Donnell,  Camryn Manheim
Duração: 88 min.

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