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Crítica | Onde Começa o Inferno (Rio Bravo)

por Luiz Santiago
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Depois de uma temporada de trabalho e residência na Europa, Howard Hawks retornou aos Estados Unidos pronto para emplacar mais uma fase – a última – de sua carreira, o período entre 1959 e 1970, onde o diretor assinou 6 filmes, três deles westerns estrelados por John Wayne (Onde Começa o Inferno, El Dorado e Rio Lobo).

Onde Começa o Inferno, o “faroeste de retorno” de Hawks ao gênero, foi uma resposta a Matar ou Morrer, de Fred Zinnemann, filme que nem Hawks e nem Wayne tinham aprovado e ambos deixaram isso bem claro para a grande mídia no decorrer dos anos. Para eles, a icônica obra protagonizada por Gary Cooper era um filme antiamericano e mostrava uma ideologia que jamais poderia ser aplicada a um contexto do Velho Oeste.

O curioso, porém, é que mesmo não carregando o teor ideológico e as ideias sociais de Matar ou Morrer, Onde Começa o Inferno expõe algo que, por concepção, tentava ocultar ou negar: a fraqueza física, espiritual e moral do homem americano.

O filme é um espelho perfeito para a reformulação dos faroestes que marcou a década de 1950, expondo o ciclo vicioso das relações sociais e políticas, a vitória constante dos que podem subornar pessoas ou pagar justiceiros para se verem livres de problemas ou a morosidade e ineficiência da lei para ajudar a quem de fato precisa. É evidente que a obra adota uma atmosfera e um caminho ideológico distintos de Matar ou Morrer, mas no fim, acaba não sendo assim tão diferente dele em termos de crítica social e comportamento humano.

A história tem Dude ‘Borachón’ (Dean Martin, provando que podia fazer um bom papel dramático) às voltas com o vício em bebida e as memórias amarguradas de uma decepção amorosa; tem o Xerife John T. Chance (John Wayne, como sempre incrível, mas aqui apagado algumas vezes pelo brilho de Martin), um homem desesperançado e pouco afeito a afetos – o típico durão dos westerns; e, também, a dupla Colorado Ryan (Ricky Nelson, o roqueiro de 17 anos com quase nenhuma experiência no cinema) e Stumpy (Walter Brennan, ator vencedor de 3 Oscars em excelente atuação cômica), todos eles digladiando-se em sua mesquinhez, dúvidas, medos e, ao mesmo tempo, tentando fazer o bem para a própria cidade sem ter o apoio dela – e o mais interessante: sem querer demonstrar que as coisas não iam nada bem.

O problema das boas aparências a serem mantidas fica ainda mais evidente quando o papel da atriz Angie Dickinson é destacado no roteiro e o medo do Xerife de John Wayne em relação ao seu ambiente e a insegurança inconfessa em si mesmo vêm à tona. É fato que esse é um ponto comum de alguns dos cowboys clássicos ou do período transição para a decadência do western nos anos 60, mas a questão aqui é trabalhada com um tom de culpa e desesperança tão fortes que a faz especial em comparação às outras abordagens.

A inesquecível trilha sonora de Dimitri Tiomkin (cujo Degüello dá a macabra marcação que em Matar ou Morrer é feita pelo relógio), o notável personagem de Dean Martin e a direção clássica de Howard Hawks dão a Onde Começa o Inferno todos os ingredientes de um filme inesquecível. O que atrapalha nessa afirmação é o modo como o roteiro orquestra o romance – o ponto fraco do filme, unicamente pelo modo como é finalizado –. Porém, a estrutura da obra não é fundamentalmente abalada e o espectador termina a sessão com aquela alegria que normalmente tem ao assistir a um grande épico. Embora não seja uma realização perfeita, o longa marca em grande estilo o retorno de Hawks às terras selvagens do Oeste.

Onde Começa o Inferno (Rio Bravo) — EUA, 1959
Direção: Howard Hawks
Roteiro: Jules Furthman, Leigh Brackett (baseado em conto de B.H. McCampbell)
Elenco: John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson, Angie Dickinson, Walter Brennan, Ward Bond, John Russell, Pedro Gonzalez Gonzalez, Estelita Rodriguez, Claude Akins, Malcolm Atterbury
Duração: 141 min.

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