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Crítica | Orange Is the New Black – 6ª Temporada

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das temporadas anteriores.

Gostando ou não gostando das temporadas mais recentes de Orange is the New Black, não há como deixar de elogiar a vontade de Jenji Kohan de tentar coisas novas. Usando Piper Chapman (Taylor Schilling) como o conduíte do espectador para dentro de um fascinante mundo feminino em uma prisão de segurança mínima, a criadora e showrunner da série conseguiu – com a inestimável contribuição de um elenco incrível – estabelecer personagens variados, com dramas diversos. Na quinta temporada, fazendo uso de um cliffhanger da temporada anterior, Kohan partiu para a experimentação, com 13 episódios passados durante três dias caóticos de uma revolta em Litchfield e, agora, ela lida com as consequências do ocorrido, alterando completamente o cenário, retirando personagens e acrescentando outros em uma temporada que tem toda a cara – e poderia muito bem ser – a derradeira.

Sem perder tempo, a série começa com uma seleção dos personagens principais encarcerada na seção AdSeg (sigla para segregação administrativa) da prisão de segurança máxima do complexo de Litchfield, uma espécie de “solitária” envidraçada criada para servir também de triagem de prisioneiros para os mais diversos fins. O primeiro episódio, visto quase que integralmente a partir dos olhos da maluquinha Suzanne (Uzo Aduba), é um primor por saber encapsular toda a trama da temporada com uma abordagem diferente e refrescante, que logo prende o espectador. E o mesmo vale para o episódio seguinte que termina de estruturar toda a temporada, com a apresentação completa da trama principal, além de iniciar as narrativas secundárias.

A partir do terceiro episódio, porém, um padrão emerge e mantém-se até o final: a história principal, que é uma continuação da temática geral da perversidade do sistema carcerário (e não só do americano, que fique claro), e que vagarosamente coloca Red (Kate Mulgrew) e Taystee (Danielle Brooks) como bodes expiatórios da MCC e do FBI no caso da rebelião e da morte de dois agentes carcerários, carrega uma narrativa que salpica historietas menores debaixo do conflito de décadas existente entre as detentas dos blocos C e D, fruto da inimizade mortal entre as irmãs Carol (Henny Russell) e Barb Denning (Mackenzie Phillips), as líderes de lá. O problema é que uma linha narrativa macro acaba canibalizando a outra, impedindo desenvolvimentos relevantes fora seus respectivos – e bem construídos – clímaces, trabalhados, claro, nos dois episódios finais, notadamente no último, de duração de longa-metragem.

Com isso, porém, não quero dizer que a temporada é ruim. Muito ao contrário, os dramas humanos de OITNB continuam firmes e fortes, com especial destaque, claro, para tudo que envolve Red e Taystee, com as respectivas atrizes mais uma vez devorando os cenários. Claro, não há como não destacar a já mencionada Uzo Aduba como a cativante Suzanne, Natasha Lyonne como a espertíssima Nicky, Adrienne C. Moore como a torturada Black Cindy e, do lado de fora da prisão, o estranhamente simpático relacionamento de Joe Caputo (Nick Sandow) com Fig (Alysia Reiner). Esses são, sem dúvida, os destaques da temporada e os personagens que mais ganham atenção das lentes e dos roteiros, com o relacionamento de Piper e Alex Vause (Laura Prepon) correndo por fora e ganhando um desfecho  interessante e até lacrimoso ao final.

A questão é que nenhum dos novos personagens, sejam Barb e Carol, sejam suas respectivas segundo-em-comando Daddy (Vicci Martinez) e Mádison (Amanda Fuller), sejam os novos guardas trazem arcos realmente interessantes e diferentes para a série. O conflito prisional interno clássico entre detentas e entre elas e os agentes carcerários são trabalhados dentro do contexto desumano de um jogo no estilo fantasy football que os guardas jogam e isso é o destaque, mas há uma repetição temática infindável que não contribui para o desenvolvimento orgânico da história. Ao contrário até, ele acaba forçando uma compartimentalização narrativa que, combinado com o cacoete de Jenji Kohan de abordar o maior número de personagens possível, sejam antigos ou novos, dilui as histórias, tornando-as breves e pontuais, com diversas detentas aparecendo por apenas alguns minutos aqui e ali (como é o caso, por exemplo, de Sophia, vivida por Laverne Cox) de acordo com a conveniência do roteiro. Até mesmo Pennsatucky (Taryn Manning) e Frieda (Dale Soules), ambas com bom destaque no começo, a primeira foragida, com foco em seu perturbador relacionamento com o estuprador Charlie Coates (James McMenamin) e a segunda fazendo de tudo para sobreviver em ambiente hostil diante de seu passado distante com Carol, desaparecem de grande parte da temporada, emergindo aqui e ali quando há um “espaço” narrativo. Por outro lado, e talvez contraditoriamente, as doses homeopáticas ajudam na imersão do espectador, que ganha menos de mais, mas com uma variedade grande e interessante, que impede qualquer traço de monotonia.

A moralidade das atitudes das personagens que antes considerávamos heroínas é, porém, o verdadeiro ponto alto da temporada. Ao colocar Taystee no banco dos réus e ao forçar Red a assinar um acordo que estende sua pena por 10 anos, a série coloca diversas outras personagens em uma posição complicada, como delatoras, como traidoras. Mas os roteiros são inteligentes ao não jogá-las na fogueira diretamente, trazendo uma versão equilibrada e humana da coisa. Estamos falando de uma prisão de segurança máxima e a perspectiva – diante de sistemas carcerário e judiciário hostis – de adição de anos de sentença às penas de cada uma. O desespero move essas personagens que acabam enterrando sua moralidade e sua lealdade em prol de uma chance de ainda terem uma vida pós-prisão. Egoísmo? Confesso que não seria tão rápido em julgar, pois não é uma situação trivial. Aliás, é muito interessante como o aspecto da moralidade é também trabalhado no jogo que os guardas jogam e nas consequências da rebelião para a agente carcerária McCullough (Emily Tarver), mais uma vez em uma tentativa bem-sucedida de trazer equilíbrio para as histórias.

Com um final acridoce, a temporada parece encerrar completamente diversos arcos importantes e poderia muito facilmente ser a última temporada da série. Não é, porém, pois pequenas pontas soltas são deixadas. No entanto, diria que OITNB talvez devesse mesmo acabar aqui, por mais que seus personagens e elenco sejam irresistíveis. Há um risco de a criação de Kohan continuar apenas por continuar, repetindo mensagens ad nauseam ou inventando novas maneiras de fazer a mesma coisa (é o que a crítica anti-Trump ao final dá a entender, pelo menos) e isso certamente não faria bem para uma série que soube reinventar-se muito bem até agora.

Orange Is the New Black – 6ª Temporada (EUA, 27 de julho de 2018)
Criação e showrunner: Jenji Kohan
Direção: Michael Trim, Mark A. Burley, Erin Feeley, Phil Abraham, Andrew McCarthy, Constantine Makris, Sian Heder, Nick Sandow, Ludovic Littee, Laura Prepon, Clark Johnson
Roteiro: Jenji Kohan, Brian Chamberlayne, Hilary Weisman Graham, Tami Sagher, Anthony Natoli, Merritt Tierce, Heather Jeng Bladt, Vera Santamaria, Kirsa Rein, Carolina Paiz
Elenco: Taylor Schilling, Laura Prepon, Kate Mulgrew, Uzo Aduba, Danielle Brooks, Jackie Cruz, Laura Gomez, Selenis Leyva, Taryn Manning, Adrienne C. Moore, Matt Peters, Jessica Pimentel, Dascha Polanco, Elizabeth Rodriguez, Nick Sandow, Dale Soules, Yael Stone, Lea DeLaria, Alysia Reiner, Emily Tarver, Susan Heyward, Nicholas Webber, Mike Houston, James McMenamin, Josh Segarra, Beth Dover, Nick Dillenburg, Amanda Fuller, Finnerty Steeves, Alice Kremelberg, Vicci Martinez, Henny Russell, Mackenzie Phillips, Ali Ahn, Michael J. Harney
Produção: Tilted Productions, Lionsgate Television
Distribuição:
Netflix
Duração: 810 min. aprox. (13 episódios)

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