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Crítica | Os Estranhos: Caçada Noturna

por Gabriel Carvalho
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Halloween – A Noite do Terror, lançado há 40 anos, é um dos grandes exemplares do gênero de terror, tendo sido, estruturalmente e tematicamente, revisitado por outras obras ao longo das décadas passadas desde a terrível noite de 1978. John Carpenter, diretor não apenas desta, mas de diversas outras realizações extremamente influentes, é referenciado de diversas maneiras em Os Estranhos: Caçada Noturna – sequência do primeiro filme, de 2008. Todavia, isso não é algo a ser encarado como demérito, muito pelo contrário, visto que é interessante um cineasta ter Carpenter como uma de suas influências. São vários elementos semelhares, muitos que retornam do filme anterior, como os antagonistas, versões do icônico Michael Myers, com máscaras distintas para os tornarem, presumidamente, memoráveis. Mas os problemas começam justamente por aí, quando o efeito comparativo surge, colocando a obra dirigida por Johannes Roberts em xeque. Uma derivação pouco acertada, um clone de qualidade discutível, é evidenciado. Caçada Noturna, entre tantos problemas, é inconstante na abordagem dos seus vilões, da natureza deles. Os famigerados estranhos, afinal, são mortais ou imortais? Esse fator é crucial para o estabelecimento de regras específicas, necessárias para imersão, além do desprendimento de visões mundanas, ou a aproximação destas, na hora do enfrentamento. As mortes começam logo na primeira cena, assim como os erros.

Contudo, em defesa da direção, o maior problema da obra encontra-se, na realidade, no roteiro, autoria de Bryan Bertino e Ben Ketai, definitivamente genérico e pouco inventivo. A obra, como a maior parte das do gênero, investe o seu preâmbulo para estabelecer as relações entre os protagonistas da história, aqueles que se verão indefesos diante das ameaças externas, surgindo mais para frente no desenrolar narrativo. Tornando Kinsey (Bailee Madison), a jovem frustrada com a decisão dos pais de a levarem para um internato, a figura central da obra, a dupla acaba dependendo de uma força que não é trabalhada bem no primeiro ato, cambaleando para recriar algo inteiramente novo na hora errada. Durante perseguições e sustos, ela e o seu irmão, interpretado por Lewis Pullman, começam a conversar sobre histórias passadas, um claro intuito do roteiro em enfiar informações de background e nos aproximar daquela família sob uma vertente bastante óbvia e expositiva. A associação entre espectador e personagem, no entanto, não necessariamente deve depender disso, podendo ser algo criado a partir de decisões inteligentes tomadas por eles. Por exemplo, o próprio Luke, ao conseguir fazer uma das únicas coisas acertadas no filme, nos faz torcer pelo garoto, protagonizando, dessa maneira, uma das melhores cenas de Caçada Noturna, ambientada em uma piscina, ao som de Total Eclipse of the Heart, decisão criativa que desperta um senso de ironia fortíssimo.

Dessa forma, a mão de Johannes Roberts é estilosa, principalmente nessa opção por uma trilha sonora dos anos 80, criando um contraste musical interessantíssimo ao teor sanguinolento. Além disso, o diretor opta por diversos zooms, com o ápice do uso sendo justamente nessa cena da piscina citada acima. Ademais, assim como Carpenter fez em 1978, os antagonistas muitas vezes aparecem em segundo plano, devendo ser notados pelo espectador, o que gera tensão, premeditando-se os acontecimentos de um breve futuro. Porém, em outras ocasiões, o diretor decide por levar a câmera aos estranhos, esquecendo das possibilidades infinitas que residem na angulação de planos. As intenções do diretor ficam extremamente claras. Já em demais momentos, Roberts a aponta para direções aleatórias, que nada acrescentam em termos narrativos ou de construção atmosférica, quase como uma sabotagem do espectador. Em momento claro de deficiência do que se fazer com a visão do público, o diretor entende ser necessário um dos vilões olhar para a câmera, escondido na frente de um arbusto, mesmo a vítima correndo atrás dele, fora de seu campo visual. Por que o inimigo estaria olhando para nenhum lugar, apenas sentindo a presença da presa? Eles são onipotentes quando não são vistos, mas essa invasão da intimidade deles, como se víssemos para onde Myers ia quando, de repente, sumia do alcance de visão de Laurie Strode, em Haloween, quebra qualquer clima, destruindo a imagem do terror.

A obra também não procura investir no gore. O foco é na ambientação, no suspense e na tensão, realçados, sob uma diferente instância, pela fotografia, que captura muito bem a escuridão inóspita. O cenário, bastante deserto, com uma aparente ausência de vida humana, é bastante similar, em certos aspectos, ao de Halloween, filme no qual Laurie Strode sai de sua casa, berrando, pedindo ajuda, e não é socorrida por ninguém, ignorada completamente. Não existe ninguém ou ninguém se importa? Ambos os pais, interpretados por Christina Hendricks e Martin Henderson, pelo menos são aproximados do espectador, vistos como figuras protetoras, criando-se um vínculo emocional suficientemente pequeno. Contudo, é nessa troca que a narrativa fica bastante previsível, dada a equivalência dos dois como manivelas narrativas. Os Estranhos: Caçada Noturna também reitera batidas da obra original, principalmente as relacionadas com as poucas falas dos antagonistas. O interessante escopo dessa vilania, baseada no tédio que se torna diversão nos moldes de assassinatos e torturas, certamente sádico e problematicamente juvenil, é revisto da mesma maneira que na fita anterior, dando, na ocasião, a uma das personagens, a fala “Porque você estava em casa” à pergunta “Por que vocês estão fazendo isso?”. O longa-metragem é convencional, utilizando dos clichês de maneira rasa, sem novidade, faltando inventividade para conciliar-se com o charmoso estilo adotado pelo diretor e, principalmente, atender a demanda por um filme verdadeiramente estranho.

Os Estranhos: Caçada Noturna (The Strangers: Prey at Night) – EUA, 2018
Direção: Johannes Roberts
Roteiro: Bryan Bertino, Ben Ketai
Elenco: Bailee Madison, Lewis Pullman, Christina Hendricks, Martin Henderson, Emma Bellomy, Damian Maffei, Lea Enslin
Duração: 85 min.

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