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Crítica | Os Oito Odiados (Trilha Sonora Original)

por Leonardo Campos
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Os Oito Odiados foi a oitava grande incursão industrial de Quentin Tarantino no cinema. No filme, acompanhamos dois caçadores de recompensas, uma prisioneira e um homem que alega atuar como xerife. Eles caminham por uma via em plena nevasca. Durante uma “tempestade”, param numa paragem de carruagens onde estão quatro homens nunca vistos anteriormente, formando assim, um grupo que não sabemos exatamente os resultados. O que resultará deste encontro em seis capítulos? Sendo um filme de Tarantino, a catarse é garantida.

Diferente dos filmes anteriores, a trilha sonora em Os Oito Odiados ocupa um menor grau de mixagem de estilos, dando espaço para algo que o cineasta já havia ensaiado de maneira sutil anteriormente, na condução musical de Django Livre: a abertura de espaço para realização de uma trilha encomendada especialmente para o seu filme. Minimalista, madura e mais intensa, as canções demonstram alguma diferença, mas Tarantino ainda mantém a sua essência mitológica de não abrir tanto espaço para alguém transcender de maneira muito abrangente em seu filme.

O próprio Ennio Morricone deu declarações sobre isso, ao falar que forneceu o trabalho ao cineasta, mas não sabia exatamente como ele iria mixar o material. Convergências e divergências à parte, a trilha sonora do filme é guiada por um tema simples, de absorção fácil, com tons que se permitem permanecer na memória do espectador. Ao longo das faixas, o compositor flerta com músicas que expressam sonoramente o perfil psicológico dos personagens, misteriosos e cheio de particularidades decifradas em desdobramentos sutis ao longo dos seis episódios do filme.

As seguintes faixas compõem o álbum: L’Ultima Diligenza Di Red Rock, Ouverture, Major Warren Meet Daisy Domergue, de Jennifer Jason Leigh; Narratore Letterario; Apple Blossom, de The White Stripes;Frontier Justice, de Tim Roth; L’Ultima Diligenza Di Red rock; Neve; This Here Is Daisy Domergu, de Kurt Russell; Sei cavalli; Raggi Di Sole Sulla Montagna; Son of the Bloody N**ger Kller of Baton Rouge, por Samuel L. Jackson, e Jim Jones at Botany Bay, diálogo deJennifer J Leigh; Neve; Uncle Charlie’s Stew, diálogo de Samuel L. Jackson;  I Quattro Passeggeri; La Musica Prima del Massacro; L’inferno bianco; The Suggestive Oswaldo Mobray, de Tim Roth; Now You’re All Alone, de David Hess; Sangue e neve; L’inferno bianco; Daisy’s Speech, de Walton Goggins; La Lettera di Lincoln; There Won’t Be Many Coming Home, de Roy Orbison; La puntura della morte.

Em L’Ultima Diligenza di Red Rock, tema central, Morricone resume a justaposição destes elementos, nos momentos de contemplação do espaço por meio de planos gerais abertos e situacionais. Além dos 25 minutos de música original composta por Ennio Morricone, a trilha traz algumas músicas já conhecidas do passado, dentre elas, Apple Blossom, por The White Stripes, Jim Jones at Botany Bay (música tradicional folk australiana), Now You’re All Alone, de David Hess e There Won’t Be Many Coming Home, de Roy Orbison.

Ademais, no projeto geral, Morricone aplica a sua experiência na produção musical e alcança resultados satisfatórios. Juntamente com a Orquestra Sinfônica Nacional Tcheca, o compositor que acredita ser o cinema “uma linha hereditária da ópera”, trouxe para o filme, a musicalidade oriunda dos instrumentos de corda (violino, violoncelo), metal (trompa, trompete, trombone), madeira (flauta e clarinete),  além da inserção de bateria, acrescentada por um coro. Conhecido por sua postura de ruptura com as ideias musicais do cinema clássico, Morricone traz humor e o acréscimo costumeiro de linguagens. Uma trilha inesquecível para um filme pouco expressivo.

Pensar a trilha é dialogar com a importância de Morricone para a história das trilhas sonoras cinematográficas. Nascido em Roma, o compositor pode de gabar das suas mais de quinhentas trilhas assinadas em produções prestigiadas comercialmente. Em 2007, ganhou o Oscar Honorário pelo conjunto da obra, premiado pela primeira vez em 2016 com o filme em questão, Os Oito Odiados. As suas contribuições, conectadas ao trabalho de diversos cineastas, sendo os principais, Sergio Leone e Giuseppe Tornatore, Morricone é um apaixonado pelas trilhas, estilo musical que considera ser de natureza operística na forma, estilo e função. Pesquisador importante, experimentou bastante ao longo da carreira e investiu, tal como Tarantino, na irreverência, com toques de música pop em diálogo com música de concerto, em suma, um promovedor de fusões criativas e originais, mesmo as referencias (metalinguísticas).

The Hateful Eight: Original Motion Picture Soundtrack
Composto e conduzido por Ennio Morricone
Gravadora: Decca Records, Third Man Records
Ano: 2015
Estilo: Trilha Sonora

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