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Crítica | Os Vingadores

por Luiz Santiago
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Steve Rogers: Stark, we need a plan of attack!

Tony Stark: I have a plan: attack!

  • Acessem, aqui, nosso índice do Universo Cinematográfico Marvel.

Há um grande perigo em ir para o cinema com aquela expectativa colossal, esperando maravilhas e surpresas estonteantes de um filme. As campanhas publicitárias bem realizadas e alguns temas adaptados atingem muito rápido o grande público e geram essa ansiedade que pode ser um grande mal, porque (e isso é comum de toda a humanidade) nós nos frustramos muito quando alguma coisa não atende às nossas altas expectativas.

Ao estabelecermos esse parâmetro, fica muito fácil compreender o motivo pelo qual Joss Whedon foi desacreditado e posto em questionamento por fãs e espectadores mais rigorosos quando lhe foi entregue a direção de Os Vingadores, a grande – e certeira – aposta da Marvel para um novo tempo das histórias de super-heróis. Acreditava-se que Whedon não atenderia às expectativas ao dirigir um filme dessa importância e que era bem provável que o novaiorquino de longa e bem sucedida carreira na televisão fizesse de Os Vingadores um Homem de Ferro 2. Com a estreia do filme no Brasil, em 27 de abril de 2012, as más línguas pagaram as pragas, os ranzinzas deram o braço a torcer e a nerdice tomou conta das salas, das conversas nas redes sociais e da crítica em geral, tudo isso porque Os Vingadores é um dos melhores produtos cinematográficos da Marvel.

Dirigido e coescrito por um roteirista e fã de quadrinhos, Os Vingadores não é apenas diferente dos filmes solos dos heróis das Marvel até então e também não é apenas melhor do que eles. Sem pensar muito, nos é possível afirmar que Os Vingadores será um parâmetro cinéfilo para futuras películas do gênero e, por isso mesmo, marca uma época: o filme está dentro de uma dinâmica de marketing que prima pela facilidade máxima aos espectadores, mas, surpreendentemente, foge de tudo disso e consegue divertir com um bom nível de conteúdo e pano para manga de muitas conversas. Entre piadas com ShakespeareO Senhor dos Anéis, Stephen Hawking e mitologia nórdica, nos deparamos com a primeira e surpreendente escolha dos roteiristas Joss Whedon e Zak Penn, a de equilibrar a narrativa entre o humor e a ação, uma opção que além de ser bem executada, deixou o filme acessível e inteligente, com diálogos repletos de piadas internas do tipo:

Thor: He’s my brother.

Natasha Romanoff: He killed 80 people in 2 days.

Thor: …He’s adopted.

É muito difícil um roteiro com a intenção de agradar às massas (ao menos até este momento do UCM) trazer tantas ironias e referências internas como o de Os Vingadores. E as escolhas certeiras não param por aí. Em nenhum momento os roteiristas se perderam em explicações desnecessárias sobre origem dos heróis, suas capacidades e por que fazem o que os vemos fazer no filme. Partindo do princípio que o público já conhecia a história – atitude um tanto perigosa, é claro, mas mesmo que um ermitão entrasse na sessão do filme, ele entenderia o enredo sem grandes problemas – os roteiristas centraram-se na reunião do grupo, na introdução da arma, do inimigo e na batalha final entre os dois lados da força. Como se vê, a dinâmica dos quadrinhos foi aplicada com êxito e isso fez com que cada um dos heróis tivesse espaço suficiente para agir e satisfazer o público. Exemplo maior dessa dinâmica observamos na cena em que o Capitão América define um lugar de ação para cada um dos heróis e a partir dali vemos takes separados de cada um deles lutando contra os chitauri.

Observe que não é todos os dias que vemos uma obra com seis super-heróis, três importantes agentes, um vilão e um exército de alienígenas muito bem trabalhados e relacionados em duas horas e dez minutos de filme. Embora o Homem de Ferro tenha um pouco mais de destaque, todos os outros Vingadores possuem espaço suficiente para mostrar o que sabem fazer em batalha. Era de se esperar que um ou outro se tornasse um mero coadjuvante, mas isso não acontece em nenhum momento. Adicione a toda ironia e força dos diálogos uma linha narrativa bem trabalhada e terá o esqueleto deste enredo.

É preciso relembrar uma coisa: ninguém tem o direito de cobrar de nenhuma obra de arte aquilo que ela jamais se propôs a dar. No caso do cinema, o primeiro critério para um filme ser bem realizado é que ele atenda com boa dose de inovações e referências inteligentes as exigências do gênero em que se enquadra. Depois, todos os elementos internos do filme devem ser coerentes com a proposta inicial, seu público e seu tema. Os Vingadores é um bom filme porque não deturpa a ação e a aventura de seu corpo (fugindo como o diabo da cruz de romances mimimis, sentimentalismos ou traminhas que não levam a lugar nenhum), não evita os elementos internos de ficção científica, caminha com segurança a trilha da edição-videoclipe, da fotografia ordinária e do massivo público adolescente, jovem ou nerd. Os 220 milhões de dólares investidos no filme tinham esse objetivo e todos eles foram cumpridos com louvor. O espectador pode não gostar tanto do que viu, mas adjetivar Os Vingadores com algo inferior a “muito bom” é um pecado a ser vingado.

A direção de Whedon é contida no início, com uma preparação quase em mini-capítulos do que seria o grupo dos Vingadores. Após os créditos de abertura, vemos com fluidez o intercalar de cenas de teor cômico ou neutro e uma planificação em choque de imagem. O espectador deve permanecer atento para não perder uma mudança de abordagem ou o início de uma sequência dramática. Assim, o diretor constrói um suspense e uma excitação constantes, passando de um cenário para outro com possibilidades que só se concluem ao final, ou seja, em nenhum momento o filme parece chato ou estacionado na Avenida do “Nada Acontece”.

Os erros cometidos por Whedon são poucos e estão mais na continuidade de alguns pontos do que na estrutura. O incômodo mesmo aparece no final, quando vemos as decisões pós-batalha aparecerem rápidas e reticentes. Mesmo sendo um erro, qualquer espectador atento saberia justificá-lo: Whedon seria um irracional se alongasse demais a trama após a batalha decisiva e fizesse planos mais longos que o normal para um blockbuster ou investisse em cenas mais verborrágicas. As resoluções da S.H.I.E.L.D. no final são uma desagradável armadilha do roteiro e da dinâmica do filme que não poderia demorar demais a partir daquele ponto. Na composição interna, a música de Alan Silvestri retrata bem as diferentes fases, compondo o ritmo psicológico de maneira sutil, mas decisiva. Seamus McGarvey não faz um trabalho genial de fotografia, mas suas composições de luz e captura de alguns momentos das batalhas são dignas de nota. O destaque do filme está nos setores de arte, figurino e efeitos especiais e visuais.

Os Vingadores é uma verdadeira surpresa. Primeiro, porque derruba desconfianças; depois, porque lança centelhas do que a Marvel pode nos oferecer daqui para frente. Desde Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte II eu não via uma ovação tão grande da plateia no meio das cenas. O afiado elenco agradou a maioria dos espectadores e o destaque vai para aquele que era a grande dúvida no papel, Mark Ruffalo, como Hulk. O gigante verde simplesmente rouba as cenas em que aparece e o ator conseguiu construir uma personalidade que realmente convencesse a transformação de Bruce Banner. Whedon logrou captar de cada um dos heróis uma marca forte e original, muito bem executada pelos atores: a calma colérica de Hulk, a determinação do Capitão América, a ironia do Homem de Ferro, o rancor do Gavião Arqueiro, o orgulho de Thor e a sagacidade da Viúva Negra. Da mesma forma, Tom Hiddleston encarna um Loki com muito mais qualidade do que antes.

Vacinados por outros péssimos exemplos, corremos para os cinemas buscando pelo menos um pouco de “tudo aquilo” que haviam falado sobre o filme nas prévias, e voltamos com “tudo aquilo e mais um pouco” para casa. Não é difícil concluir que Os Vingadores uma baita realização, divertida, coerente com os quadrinhos, condizente com sua proposta. Uma deliciosa e explosiva cereja do bolo da Marvel, no encerramento da Fase Um de seu Universo Cinematográfico.

  • Crítica originalmente publicada em 29 de abril de 2012. Atualizada para republicação.

Os Vingadores (The Avengers) – EUA, 2012
Direção: Joss Whedon
Roteiro: Joss Whedon, Zak Penn
Elenco: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Tom Hiddleston, Clark Gregg, Cobie Smulders, Stellan Skarsgård, Samuel L. Jackson, Gwyneth Paltrow, Paul Bettany, Alexis Denisof
Duração: 143 min.

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