Home TVEpisódio Crítica | Outcast – 2X03: Not My Job to Judge

Crítica | Outcast – 2X03: Not My Job to Judge

por Ritter Fan
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estrelas 3,5

Obs: Contém spoilers. Leia as críticas dos demais episódios, aqui e dos quadrinhos, aqui.

Há que se louvar uma série que não tenta sair correndo com revelações e sustos à galope. Mas também não podemos perder de vista a necessidade de se avançar na narrativa firmemente. Como disse na crítica anterior, Outcast, em sua 2ª temporada, assume o risco de levar os mais impacientes à loucura com roteiros que mais criam atmosfera do que realmente caminham para frente como aqueles filmes de terror que prezam pela tensão, para deixar a ação propriamente dita relegada aos minutos finais de projeção.

Portanto, é necessário que expectativas sejam ajustadas para que a série seja absorvida corretamente. Chris Black ainda está construindo o universo imaginado por Robert Kirkman e que, justiça seja feita, caminha de maneira substancialmente diferente da HQ de Kirkman e Paul Azaceta até agora, o que é ótimo. A grande verdade é que há uma natural restrição narrativa, que vem da gênese da ideia plantada na série: possessões demoníacas na pequena cidade de Rome que, na verdade, não são exatamente possessões demoníacas e nem estão restritas à cidadezinha. Ou seja, de uma trama em escala “micro”, Black vai vagarosamente expandindo-a de forma a tornar a ameaça bem maior e inexorável do que antes parecia. Mas o mistério sobre a exata natureza das possessões persiste e, enquanto ele não for revelado – nem que seja em parte – a história não vai andar de verdade.

E vejam, não estou aqui dizendo que a série é sem defeitos. Basta ler minhas críticas anteriores para que notem que, muito ao contrário, venho pontuando problemas com uma certa constância. Mas o passo narrativo está correto e tem feito sentido. Lentamente, a história vem sim saindo do confinamento a que foi inicialmente sujeita, com uma quantidade de possessões “antigas” muito maior do que se imaginava, consequências indesejadas para aqueles que foram exorcizados, notadamente Megan e Allison e, agora, um uso potencialmente bem maior de um Aaron marcado pelo fogo e a interessante revelação que Kyle Barnes não é o primeiro exorcista da cidade e que esse manto aparentemente pertence ao seu pai.

Ou seja, agora a série trata de algo consolidado, que há pelo menos 30 anos está em andamento, seja com o assassinato dos possuídos, seja com seu exorcismo. A infestação (demoníaca ou não) está a uma geração por aí ficando raízes e pode até ser que venha ainda de antes, com Kyle talvez sendo não apenas a segunda, mas potencialmente a mais recente geração dos Barnes a enfrentar a ameaça. Claro que a entrada de Bob (M.C. Gainey), que cuida do ferro-velho e esporadicamente enterra pessoas possuídas, me pareceu um tanto forçada goela abaixo, especialmente com o Chefe Giles já conhecendo bem do assunto e fazendo parceria com ele. É de se esperar que alguma explicação mais elaborada venha à superfície.

Falando em explicação, aliás, o cliffhanger da tentativa de suicídio de Megan funcionou como tal no episódio anterior, mas sua resolução deixou muito a desejar. Quer dizer então que o ex-reverendo Anderson estava por ali dando sopa, viu ela se debater (mas ela não se debateu, vale lembrar) e mergulhou corajosamente para salvar a moça? Um pouco forçado e sem uma consequência direta que exigisse esse momento. Afinal, dali vemos Megan com Holly de volta à sua casa, lidando com o fantasma da terrível morte de Mark em alguns momentos construídos para nos fazer achar que Holly fora possuída. Novamente a série brinca eficientemente com o imaginário do espectador em relação ao uso de crianças em séries e filmes de horror, artifício que naturalmente causa mais apreensão e medo.

Esse medo também está presente nas aterrorizantes sequências com Amber no sanatório em que sua mãe se auto-internou. As sequências não só reforçam que os possuídos estão em todos os lugares e em quantidades generosas, como também estabelecem um suspense old school que dá gosto de ver, com bom uso de uma câmera subjetiva e da trilha sonora pontual e bem sincronizada, sem ditar sentimentos.

No entanto, a direção de Howard Deutch deixou em evidência algo que já vinha me incomodando há algum tempo e que, aqui, foi particularmente ruim: o uso constante de ângulo holandês e de câmera invertida. Essas técnicas – a primeira inclina o eixo da sequência e a segunda a coloca de cabeça para baixo – servem para intensificar a sensação de estranheza em um filme ou série. No entanto, em Not My Job to Judge, toda a ambientação já e estranha, claustrofóbica e, convenhamos, deprimente, desesperadora. O uso desse artifícios técnicos com a frequência que vemos aqui os banalizam completamente e não passam de bis in idem que poderia ser evitado. A fotografia noturna e a paleta de cores por vezes esverdeada e por vezes azulada já transmitem e fixam toda a ideia de horror e fragilidade dos protagonistas sem que movimentações exageradas de câmera sejam necessárias.

Aparentemente, Kyle e Anderson, agora, contarão com uma equipe para faze frente à ameça de Sidney, com o “culto do farol” correndo por fora ainda sem uma definição sobre o que exatamente ele é. Vê-se a formação de uma sólida mitologia que, ainda que precise ser trabalhada, Black pode fazê-lo de forma orgânica, efetivamente impulsionamento a trama no processo.

Outcast – 2×03: Not My Job to Judge (EUA, 24 de abril de 2017)
Criação:
Robert Kirkman
Showrunner: Chris Black
Direção: Howard Deutch
Roteiro: Jeff Vlaming
Elenco: Patrick Fugit, Philip Glenister, Wrenn Schmidt, David Denman, Julia Crockett, Kate Lyn Sheil, Reg E. Cathey, Gabriel Bateman, Callie Brook McClincy, Brent Spiner, Zach Shirey, Pete Burris, Debra Christofferson, C.J. Hoff, M.C. Gainey
Produtora: Cinemax
Disponibilização no Brasil (à época da elaboração da crítica): Fox Premium 1
Duração: 47 min.

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