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Crítica | Outcast – 2X06: Fireflies

por Ritter Fan
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estrelas 4,5

Obs: Contém spoilers. Leia as críticas dos demais episódios, aqui e dos quadrinhos, aqui.

Depois do espetacular The Common Good, que marcou a metade da segunda temporada de Outcast, era natural que o episódio seguinte fosse mais calmo e comedido, abordando as consequências do tenso cliffhanger com tranquilidade e até um certo grau de enrolação. No entanto, subvertendo completamente as expectativas, Fireflies não deixa a proverbial peteca cair e faz uma perfeita dobradinha com o anterior.

A premissa é que Kyle Barnes morreu depois de ser esfaqueado pelo chefe Giles possuído por uma das criaturas. O apoteótico exorcismo por Kyle, com direito até a um sobrevoo em um estacionamento de ônibus escolares, o leva à uma mesa de operações e ao comunicado, depois, de que ele não havia resistido ao ferimento. No entanto, essa morte falsa não é feita para enganar nenhum espectador. Se fosse esse o caso, o cirurgião que avisa a família do óbito não seria logo o Dr. Park, que já causara problemas para Kyle e, claro, é um dos possuídos.

O roteiro de Sarah Byrd, então, não perde tempo com charadas bobalhonas e vai logo ao âmago da questão, revelando Kyle em recuperação em um cama do que parece ser um antigo hospital, mas prisioneiro do sinistro Sidney. Ele tenta fugir ainda de maneira débil, mas o “chefão das gosmas pretas” aparece e acaba provocando-o ao usar de forma ameaçadora o apelido que Kyle dá a Amber – Vaga-Lume – e levando-o a se engalfinhar com ele. A luta é suja, descontrolada, feia e desesperada. E dos dois lados. Kyle esquece a dor que sente na barriga e só pensa em liquidar com Sidney que quase sucumbe à violência, só ganhando um momento para respirar quando usa o ferimento de Kyle contra ele mesmo.

A direção de Fernando Coimbra, nessa sequência, é precisa, colocando a câmera – e o espectador – no meio da confusão, o que aumenta a tensão e as incertezas do momento. Diferente de episódios anteriores como Not My Job to Judge, o diretor sabe usar o ângulo holandês e as filmagens de cabeça para baixo para amplificar sensações de estranheza e dificuldade e não apenas por questões estilísticas.

Da mesma forma, a direção de arte continua do mais alto gabarito, criando, obviamente também por intermédio da fotografia sombria e esverdeada, uma sensação de doença para a cidadezinha de Roma. O município está literalmente morrendo diante de nossos olhos e Kyle Barnes (além de sua filha Amber, claro), é quase que como o último leucócito lutando para debelar um vírus mortal. A metáfora visual funciona muito bem e, aqui, isso é particularmente evidente com o paralelismo das ações nas alas nova e antiga do hospital.

É também notável a forma como a pequena Amber é usada aqui. A menina, que já vinha demonstrando muita desenvoltura, parece ter a coragem de 10 homens e nada a faz recuar. Sua presença cada vez mais constante na série pode ser uma boa notícia para seu desenvolvimento e a pequena Madeleine McGraw é ao mesmo tempo firme e assustadora no papel.

Mas o episódio não teve apenas Kyle como centro das atenções. O relacionamento estranho e doentio entre Sidney e Aaron vai a um outro nível quando o completamente desequilibrado rapaz mata o outro jovem “iluminado” colhido por seu mentor. O menino morto, pelo visto, fazia parte de um plano de 30 anos atrás para acelerar a “fusão” que deve ter sido frustrado pelo pai de Kyle, pai esse que, provavelmente, é a pessoa para quem Dakota – do culto do farol – chega a ligar no episódio (mas isso fica para outro dia, claro). Aaron, que vinha sendo desenvolvido de maneira compassada desde a segunda metade da primeira temporada, é sumariamente eliminado aqui e isso, de certa forma, causa algum desconforto pelo investimento feito e que, em tese, não se pagou.

No entanto, a grande verdade é que Aaron cumpriu sua função narrativa. Ou funções, diria. Em primeiro lugar e acima de tudo, ele é uma espécie de troféu da versão humana e doentia de Sidney. Lembre-se que o corpo possuído mantém as características originais como já foi explicado em outros episódios e o de Sidney era um pedófilo assassino de crianças. Então, Aaron supre esse “vício” repugnante e ao mesmo tempo funciona como minion da entidade que possuiu Sidney, como quando ele matou Owen ao final do episódio anterior. Só que Aaron era, também, um retrato do humano não possuído que se curva aos desejos das entidades misteriosas de forma muito parecida ao que Renfield é para Drácula no original de Bram Stoker. Por cima disso tudo, ele ainda tinha o objetivo narrativo direto que vimos ser cumprido em Fireflies: eliminar um dos mecanismos que Sidney tinha para acelerar a fusão, algo que a autópsia provavelmente revelará o que é e que muito possivelmente será usado futuramente, talvez até tendo Amber como cobaia. Ou seja, ainda que Aaron tenha sido eliminado, seu legado maligno – ainda que inadvertido – permanecerá vivo.

Fireflies é mais uma excelente demonstração do certeiro caminho que a série vem trilhando. A trama vem avançando a passos largos, com o aprofundamento da mitologia, mas sem que o mistério central seja abordado diretamente. Chris Black parece ter encontrado a solução ideal para evitar revelar tudo de uma vez, o que poderia esvaziar a narrativa. Até onde isso pode continuar, só o tempo dirá.

Outcast – 2×06: Fireflies (EUA, 15 de maio de 2017)
Criação:
Robert Kirkman
Showrunner: Chris Black
Direção: Fernando Coimbra
Roteiro: Sarah Byrd
Elenco: Patrick Fugit, Philip Glenister, Wrenn Schmidt, David Denman, Julia Crockett, Kate Lyn Sheil, Reg E. Cathey, Gabriel Bateman, Callie Brook McClincy, Brent Spiner, Zach Shirey, Pete Burris, Debra Christofferson, C.J. Hoff, M.C. Gainey, Hoon Lee, Madelyn Deutch
Produtora: Cinemax
Disponibilização no Brasil (à época da elaboração da crítica): Fox Premium 1
Duração: 44 min.

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