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Crítica | Outcast – 2X08: Mercy

por Ritter Fan
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estrelas 4,5

Obs: Contém spoilers. Leia as críticas dos demais episódios, aqui e dos quadrinhos, aqui.

Bem cedo na série, logo em seu terceiro episódio – All Alone Now – fomos apresentados à dupla policial Luke e Blake em um prelúdio assustador em que Blake, possuído, assassina com requintes de crueldade a esposa de Luke que, depois, pede a intervenção de Kyle e do reverendo Anderson em um exorcismo na prisão que acaba frustrado. Esse foi um dos momentos mais tensos da série até agora, com uma fantástica atuação de Lee Tergesen como Blake em contraponto a Patrick Fugit e Philip Glenister.

Quinze episódios depois e de forma surpreendente, eis que Blake Morrow volta à série, desta vez, aparentemente, para ficar. Logo no início de Mercy, nós o vemos ser morto por injeção letal pelo crime que cometeu, somente para descobrirmos que o Dr. Park alterou o veneno, permitindo que ele seja, depois, “libertado”. Park é ambicioso e tem um plano que envolve a aparente resistência de Blake ao exorcismo de Kyle, lembrando que, em All Alone Now, há um longo jogo de sombras que deixa dúvidas sobre a possessão do assassino. O que Park quer é permitir que eles – as gosmas pretas – consigam viver plenamente e não apenas fundidos aos hospedeiros humanos. Como isso pode se dar ainda não está claro, mas é evidente que seus próprios colegas e Sidney duvidam dessa possibilidade ao ponto de ele ter que assassinar todo o “conselho”.

Mas Mercy tem muito mais coisa acontecendo do que apenas a sinistra volta de Blake para a equação. Se a mitologia já vinha sendo francamente expandida, aqui ela avança a passos largos com a revelação do que a misteriosa Helen fizera 30 anos antes com oitos faróis, transformando-os em zumbis depois de uma lobotomia à base de furadeira elétrica. E mais: descobrimos que o pai de Kyle, como desconfiávamos, foi o responsável por desbaratar o plano de longa data e também por terminar de matar seus pares, todos enterrados no ferro velho de Bob, o que catalisou a separação dos dois.

Toda essa tenebrosa história, vista em rápidos flashes para o passado, ganha um cliffhanger em que vemos Sarah Barnes, mãe de Kyle, que sumira do hospital, em uma cama sendo observada por um homem vivido por C. Thomas Howell. Sem dúvida alguma, trata-se de Simon Barnes, pai de Kyle, que também entrará para a série talvez como um bom contraponto a Blake. Será particularmente interessante entender o que exatamente Simon vem fazendo esse tempo todo e porque deixou seu filho e esposa sozinhos, algo que certamente dará muito pano para manga.

No lado de Megan, a descoberta de que ela está grávida por Dakota leva a uma tentativa de aborto pela parteira da Igreja do Farol, que acredita que ela carrega algo equivalente ao anticristo no útero. E, de fato, o filho nascituro de Megan parece ser particularmente importante para os “viajantes”, como Sidney passa a chamar seu povo, com Blake assassinando a parteira e muito provavelmente sequestrando Megan.

Mas há mais. O diálogo entre o vingativo reverendo Anderson, que marca Sidney com uma cruz de sangue no peito, é violento, revelador e profundamente herético para aqueles que não conseguirem separar ficção de sua religião. Afinal, o raciocínio de Sidney é muito claro: ao longo da história do “divino”, o bem e o mal foram vividos de maneira equânime por seu povo, com Jesus Cristo tendo sido um deles. Se Anderson já não tinha mais escoras para sustentar sua fé, agora o mundo desabou de vez sob seus pés.

Com essa quantidade de novas informações, era de se esperar que o roteiro de Jeff Vlaming escorregasse em algum momento. E, ainda que ele tenha conseguido manter o norte pela grande maioria do episódio, ele erra na paranoia do Chefe Giles e de Rose, que se armam até os dentes, inclusive minando seu jardim. Pareceu-me uma sequência deslocada e sem sentido dentro da lógica da série, já que Giles sabe que ele enfrenta seres etéreos que possuem seus hospedeiros sem aviso e sem defesa. Mesmo que todo seu armamento tenha se provado útil contra a policial Nuñez – em outro momento exagerado e estranho ao episódio -, não há bala ou bomba que possa impedir a possessão de sua esposa. Além disso, de todos na série, Giles foi o que sempre se manteve de cabeça mais fria e, mesmo considerando que sua recente possessão possa tê-lo desequilibrado, sua mudança foi radical demais e em pouco tempo demais.

Mas o deslize do roteiro de Vlaming nesse ponto é algo menor diante de um episódio muito eficiente em não só avançar a narrativa, como, principalmente, em diversificá-la. Aquele meu receio lá atrás de que a série poderia não ter material para passar de duas, no máximo três temporadas, já se dissipou por completo com as camadas narrativas que têm sido acrescentadas ao longo dos últimos três ou quatro episódios. É como ver um novo mundo de possibilidades sendo aberto.

No entanto, Chris Black precisa ter cuidado para não se perder. Ao abrir muitas frentes e ao não responder as perguntas na medida em que elas são feitas, a série pode começar a trilhar um perigoso caminho sem volta em que o mistério só aumenta em progressão geométrica sem que respostas satisfatórias sejam oferecidas. Outcast ainda está longe de algo assim acontecer, mas é importante que Black tenha um plano claro em mente para manter rédea curta sobre sua produção, evitando que os devaneios criativos de Robert Kirkman expandam a série ao infinito.

Outcast – 2X08: Mercy (EUA, 29 de maio de 2017)
Criação:
Robert Kirkman
Showrunner: Chris Black
Direção: Daisy von Scherler Mayer
Roteiro: Jeff Vlaming
Elenco: Patrick Fugit, Philip Glenister, Wrenn Schmidt, David Denman, Julia Crockett, Kate Lyn Sheil, Reg E. Cathey, Gabriel Bateman, Callie Brook McClincy, Brent Spiner, Zach Shirey, Pete Burris, Debra Christofferson, C.J. Hoff, M.C. Gainey, Hoon Lee, Madelyn Deutch, Lee Tergesen, C. Thomas Howell
Produtora: Cinemax
Disponibilização no Brasil (à época da elaboração da crítica): Fox Premium 1
Duração: 46 min.

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