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Crítica | Ozark – 2ª Temporada

por Rafael W. Oliveira
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Mesmo em suas diversas comparações e similaridades com a muitíssimo bem-sucedida Breaking Bad, Ozark, da Netflix, é um seriado essencialmente diferente, e com uma identidade totalmente contrária à descida ao inferno protagonizada por Bryan Cranston. Criada por Bill Dubuque (roteirista do thriller O Contador), a primeira temporada extraiu o que havia de melhor em seu estudo da corruptibilidade humana em meio a uma família americana comum que adentra no universo dos cartéis mexicanos e se veem diante de corrupções internas e externas, situações-limite e decisões moralmente contestáveis. Marty Birde (Jason Bateman, duplamente indicado ao Emmy por sua atuação e seu trabalho de direção em dois episódios) e sua esposa Wendy (Laura Linney, que há anos não era vista tão equilibrada em cena) são os chefes dessa família que, desta vez, adentram ainda mais em jogos de interesse político e também de interesses próprios.

Mantendo uma continuidade natural para os eventos da temporada anterior, inclusive aproveitando com bom gosto a impactante season finale e as consequências de seus eventos trágicos, esta segunda temporada se desenrola quase que exclusivamente em cima de um MacGuffin: a construção de um novo cassino no lago Ozark, um mero pano de fundo para os novos desdobramentos de uma trama que jamais se permite aliviar da tensão contínua.

Acentuando a presença de Wendy na participação dos negócios e, mais ainda, quase uma ameaça para a própria auto-segurança de Marty (algo que lhe aproxima, guardadas as proporções, com a situação atual de House of Cards), Ozark se aprimora no estudo moral daqueles personagens, e aqui, até mesmo os filhos Charlotte (Sofia Hublitz) e Jonah (Skylar Gaertner, uma promessa) ganham seu devido espaço, por mais que seus plots individuais pouco adicionem ao que a série precisa. Os artifícios do roteiro seguem bem distribuídos e explorados com eficácia dentro de situações que desafiam a credibilidade de Marty e Wendy em suas próprias decisões, e por mais que alguns plots e soluções soem apressados em sua solidificação na trama (a adoção do bebê, por exemplo), não há como não se surpreender com forma renovadora com que o roteiro trata os personagens, sempre lhes desdobrando de forma complexa com situações estimulantes em seu desafio de moralidade.

Da mesma forma, é no crescimento da participação de Ruth Langmore (Julia Garner) que Ozark encontra seu novo elemento valioso para manter esse toque de imprevisibilidade. Com  a adição de uma nova ‘vilã’, a impiedosa Helen Pierce (Janet McTeer), o roteiro se solidifica ainda mais com o jogo de interesses entre essas duas personagens vs os Byrde, e Ruth, com a gerência do stripclub e seus trabalhos com Marty, além da presença ameaçadora e instável de seu pai, parece estar sempre prestes a explodir numa tragédia anunciada, o que nos aproxima ainda mais de sua personagem que provavelmente deva ser a mais humana de Ozark, com suas tentativas em manter seu próprio equilíbrio e a preocupação com Wyatt (Charlie Tahan, quase dispensável).

A presença forte de Garner, felizmente, não ofusca em nada os desempenhos de Bateman e Linney, donos de um entrosamento repleto de nuances bem estudadas e lapidadas por um roteiro que realmente conhece seus personagens e dá coesão para suas ações, reações e atitudes. Apesar do tempo menor em tela, Bateman segue provando o quanto é mais do que somente um ator de ótima veia cômica, e explora sutilmente, sem necessitar de momentos explosivos para si (Bateman NUNCA foi um ator de histrionismos), o peso e a pressão de tantas situações sobre si. Linney aproveita com inteligência o crescimento de Wendy e se aprofunda numa interpretação que se faz muito acima do bem e do mal, de uma criminosa fria e estrategista para uma mãe preocupada com o bem-estar de sua família, e o episódio em que Wendy é sequestrada e se encontra diante de uma consequência sangrenta é a prova do quanto Linney se encontrou nessa persona. Próximo a eles, o agente Roy Petty, tão interessado em desmascarar os Byrde, surge como uma desmistificação inteligente da figura incorruptível do FBI, e seus métodos recônditos apenas lhe aproximam do mesmo espelho moral onde se encontram Marty e Wendy.

Ancorando-se ainda mais em seus personagens para movimentar sua narrativa e, consequentemente, desdobrar sua história, esta segunda temporada de Ozark ainda adiciona um maravilhoso tempero irônico que é marcado pelo frame final com a família Byrde, nos deixando intrigados e ainda mais interessados sobre quais os planos para testar novamente todos os limites desses habitantes do pequeno lago Ozark. Ainda mais imersiva, e até mesmo sarcástica, Ozark segue sendo um dos tesouros atuais da Netflix.

Ozark – 2ª Temporada (EUA, 31 de agosto de 2018)
Showrunner: Bill Dubuque, Mark Williams
Direção: Jason Bateman, Andrew Bernstein, Phil Abraham, Alik Sakharov, Ben Semanoff, Amanda Marsalis
Roteiro: Chris Mundy, David Manson, Alyson Feltes, Ryan Farley, Paul Kolsby, Ning Zhou, Martin Zimmerman
Elenco: Jason Bateman, Laura Linney, Sofia Hublitz, Skylar Gaertner, Julia Garner, Jordana Spiro, Jason Butler Harner, Peter Mullan, Lisa Emery, Janet McTeer, Charlie Tahan, Darren Goldstein, Damian Young, Nelson Bonilla, Melissa Saint-Amand, Pedro Lopez
Duração: 52 a 80 min. (10 episódios no total)

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