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Crítica | Pachamama (2009)

por Luiz Santiago
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estrelas 3

Em Rocha Que Voa (2003), o diretor Eryk Rocha apresentou um documentário no mínimo diferente. O olhar fotográfico, lírico e quase romântico para a Cuba de seu tempo, deu ao filme um tom muito peculiar, que de tanto experimentalismo, algo parecia escapar ao controle do realizador e à percepção do espectador. Em Pachamama (2009), um road-documentário saído da mesma forma que Diários de Motocicleta, de Walter Salles, Rocha faz um retrato sobre a mentalidade e as mudanças ideológico-políticas na América Latina na década de 2000, mas o produto final parece um ser etéreo, não se completa totalmente e termina consideravelmente solto.

O caráter de manipulação fotográfica de Rocha Que Voa, todavia, não aparece novamente aqui. Além de dirigir o filme, Rocha foi também responsável pela câmera e talvez aí esteja a minimização do trabalho imagético para a captação criativa da realidade, acrescida de certa inventividade na sala de edição. No filme, vários depoimentos e histórias no Brasil, Peru e Bolívia se encontram. Somos apresentados a diferentes paisagens em longas panorâmicas, feitas da janela de um carro, a diferentes opiniões políticas e às diversas manifestações sociais que acontecem nesses países e em seus vizinhos, especialmente em favor da causa andina, em suas mais diversas etnias indígenas.

Mais político que antropológico, Pachamama é o retrato de uma luta que perpassa gerações nessa parte da América e que a duras penas teve relevância política, alternando entre escanteamento e tratamento relevante por parte de diferentes governos. Com citações de Cuba ao Equador, falas de ativistas políticos, trechos de discursos de Evo Morales e reunião ou protestos de manifestantes, a questão da terra destinada aos indígenas e da dominação colonial fica como questão periférica, dando lugar a ideias de mudança ligadas à esquerda política pelas quais o sub-continente passava naquele momento.

O formato usado pelo diretor é muito interessante. Na primeira parte do filme, a narração é a única coisa que nos guia, além da música e do som direto. Conforme o carro avança pelas rodovias, ouvimos algumas reflexões daquele que está atrás da câmera e que não esconde essa posição de observador e crítico da própria matéria fílmica, inclusive deixando claro que é primeira vez que se ocupa inteiramente do aparelho. Ao chegar na tríplice fronteira Brasil-Peru-Bolívia, a narração dá lugar às músicas e depoimentos locais, seguindo nessa linha cultural para questões mais amplas, que infelizmente nunca recebem um tratamento muito crítico ou mesmo reveses para um bom debate.

No fim, Pachamama peca pela falta de um fechamento mais objetivo. No entanto, sabendo que o filme é a redução de muitas horas de material filmado (inclusive transformado em série para a TV), entendemos a origem desse trabalho “solto demais”, embora isso não tire o peso negativo que tal falta faz ao longa. A grande questão aqui é que a experiência de ver o documentário, por diversos motivos, compensa os seus atropelos formais e garantem uma sessão no mínimo acima da média.

Pachamama (Brasil, 2009)
Direção: Eryk Rocha
Roteiro: Eryk Rocha
Duração: 105 min.

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