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Crítica | Pantera Negra de Peter B. Gillis e Denys Cowan (1988)

por Luiz Santiago
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Publicada entre julho e outubro de 1988, esta minissérie em quatro edições do Pantera Negra foi escrita por Peter B. Gillis e ilustrada por Denys Cowan (com finalização de Sam de la Rosa) e tentou juntar em uma única trama o complexo sistema político vigente em Wakanda com uma densa e muito interessante mensagem contra o racismo, a escravidão e a segregação de povos, tendo como foco aqui os impasses na nação Azania, que é uma alegoria do autor para a África do Sul.

Na primeira edição, Pranto de Uma Nação Condenada (usarei aqui os títulos exatos da publicação dessa minissérie pela Editora Globo, entre 1990 e 1991) temos em essência um evento místico que gera a maior linha dramática da minissérie: o Espírito da Pantera abandona o corpo de T’Challa. Até este momento, nas séries solo do personagem — e só tinham outras duas, A Fúria do Pantera Negra e a Fase Jack Kirby — a questão espiritual havia sido tratada com um cuidado distanciado. Citava-se a questão espiritual, ritualística e tradicional, mas nunca o Espírito da Pantera tinha sido colocado como um elemento físico, passando do corpo de T’Challa para o de um prisioneiro (criando o Man-Cat) e depois manifestando-se em sua majestade animalesca, cruel (sob o ponto de vista humano), natural e divina, na forma da deusa Bast ou Bastet, do panteão de deuses egípcios. O leitor percebe o grande respeito que Gillis emprega na representação dessa realidade, estabelecendo como um fato a existência de um mundo fora da razão, ciência e tecnologia que marcam a superfície e algumas mentes de Wakanda, dando razão aos medos, “mitos” e exigências ancestrais.

O grande impasse do roteiro é que a junção entre o mundo místico e a realidade política igualmente forte e importante, às vezes, parece muito forçada ou não se conecta de maneira alguma ao todo da minissérie. Parece-nos que as resoluções do Conselho de Anciãos (os regentes que, na monarquia de Wakanda, a este ponto, guiam o país ao lado de T’Challa, podendo substituí-lo caso percebam que o Espírito da Pantera não está mais com o monarca) passam por mudanças muito bruscas e não condizem com a devoção e admiração que o povo e o próprio Conselho tem para com o filho de T’Chaka. Em um resumo mais cru, poderíamos facilmente dizer que a trama apresenta momentos contraditórios para a política interna de Wakanda, ao mesmo tempo tempo que consegue apesentar outras nuances do país de maneira elogiável.

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Um rei descontente porque ainda não “garantiu o seu espírito”.

A edição Pela Honra e Pela Pátria!, assim como a primeira parte de O Ultimato, são os pontos mais difíceis de se acompanhar. Muitas coisas acontecem em muitos lugares (Wakanda, França, Azania) e a integração entre os acontecimentos desses lugares sofre no ritmo e nos ganchos dramáticos, impedindo que a passagem de um lugar para o outro tenha uma intenção clara. A este ponto da trama, os elementos espirituais relacionados ao Pantera Negra são apenas citados em segunda camada. A linha principal avança nos entraves políticos em duas ordens: na posse do poder do próprio T’Challa e na inimizade política que Wakanda, de repente (por um engano causado pelo Man-Cat), tem com Azania. O protagonista recorre a um amigo e embaixador de seu país, Moise Bomvana, e a Malaika, uma aliada e antiga namorada. Juntos, eles iniciarão um contra-ataque que começa com a derrota de um dos grupos mais infames da Marvel, Os Supremacistas.

Formado por Capitão Flama, Víndice (ou Vingador Branco), Barricada, Drenox, Eléctrio e Vortreker, o grupo destila preconceito e age em favor dos colonizadores do pobre país africano. A partir deste ponto, muita coisa muda. A arte de Denys Cowan passa a ter momentos visualmente mais interessantes, com páginas que destacam os movimentos do Pantera e que mostram bem mais o cenário, especialmente a floresta tecno-orgânica de Wakanda.

O entendimento final entre monarca e Espírito da Pantera, na edição Homem ou Deus?, traz uma boa conclusão para a minissérie. Se não tivesse elevado tão alto o dilema de um ataque nuclear ou se tivesse centrado melhor a aparição do Conselho de anciãos, as atenções poderiam se voltar para o que realmente importa nessa minissérie. Assim, as discussões diretas sobre dominação europeia no continente africano, as guerras de independência, o apartheid e relação espiritual em torno do Culto ao felino negro ganhariam um lugar bem mais confortável aqui.

Black Panther Vol.2 (EUA, julho a outubro de 1988)
No Brasil:
Editora Globo, 1990 e 1991
Roteiro: Peter B. Gillis
Arte: Denys Cowan
Arte-final: Sam de la Rosa
Cores: Bob Sharen
Letras: Rick Parker (1 a 3), Max Scheele (4)
Capas: Denys Cowan, Sam de la Rosa
Editoria: Mark Gruenwald
24 páginas (cada edição)

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