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Crítica | Parks and Recreation – 1ª e 2ª Temporadas

por Luiz Santiago
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Séries de comédia sobre ambientes de trabalho sempre rendem bons momentos e cativam rapidamente o espectador. Essa situação fica ainda melhor quando os roteiros brincam com tabus e problemas sociais de forma irônica e satírica, adicionando ao entretenimento uma boa dose de crítica social, algo que é elemento chave de Parks and Recreation, uma das mais interessantes comédias sobre o bizarro funcionamento de uma repartição pública.

Criada por Greg Daniels e Michael Schur em 2009, a série acompanha o cotidiano do Departamento de Parques e Recreação na fictícia cidade de Pawnee, Indiana (apesar do local não existir, o seu nome é real e dá título a uma tribo indígena nativa dos Estados Unidos). A cidade apresenta uma série de problemas de infraestrutura, um governo omisso e corrupto, uma rede de TV e mídia impressa sensacionalistas e oportunistas, preconceito étnico, sexual e religioso; racismo e analfabetismo político por parte da população e, a cereja do bolo, funcionários públicos incompetentes, com raríssimas exceções. Ou seja, Pawnee é o protótipo do funcionamento público da maior parte das cidades que conhecemos, pelo menos em algum ponto de sua constituição.

Essa comparação imediata (em especial para nós, brasileiros, que lidamos diariamente com esse tipo de realidade) torna os episódios de Parks and Recreation uma inteligente forma de criticar a estupidez da malha pública, sua burocracia e suas desculpas para que os serviços públicos permaneçam não servindo à população.

Mas a Prefeitura de Pawnee tem uma funcionária que não se encaixa no grupo dos preguiçosos, dos descontentes com o trabalho, dos indiferentes. Seu nome é Leslie Knope. Ela é a funcionária mais eficiente de toda a cidade, tomando para si responsabilidades comunitárias e fazendo o que pode e o que não pode pelo bem da população local. Leslie é o tipo de “Caxias” com ideologia patriótica: ela acredita piamente em seu país e o defende acima de tudo. Tem fé no governo, valoriza o trabalho mais do que tudo na vida, é extremamente competente em todas funções dentro da Prefeitura e não se importa em trabalhar fora de dia e horário. Ela é a funcionária perfeita e neurótica dentro de um sistema imperfeito e indiferente.

Durante os seis episódios da 1ª Temporada, temos as apresentações básicas das personagens principais (a rigor, todos os amigos de repartição de Leslie) e o impasse do buraco que precisa ser aterrado e transformado em parque. As situações seguem essa linha narrativa mas não deixam de apresentar particularidades de cada um ou da própria cidade de Pawnee. O elenco ainda não está totalmente à vontade com as personagens, mas faz um ótimo trabalho cômico em conjunto, o que torna o primeiro ano do show uma introdução divertida à longa 2ª Temporada, quando a trama se fragmenta e as crônicas do dia a dia na prefeitura ou na seção de Parques vêm à tona.

Num primeiro momento, o trabalho de câmera se dedica a interiores, seja na casa de Ann, na prefeitura ou outras locações ao redor da cidade, situação que com o passar dos episódios se estende para um grande número de cenários. A fotografia é essencialmente clara, sem excesso de brilho ou saturação de cor e passa uma interessante sensação de que a cidade é constantemente iluminada pelo sol ou sempre possui noites com céu limpo e temperatura agradável – temos chuva e tempo ruim e um único episódio. – Essa construção imagética do ambiente geográfico ajuda a criar um plano de fundo convidativo para o público e um excelente contraste do tipo “um bom lugar com um mau governo”. Uma espécie de Paraíso habitado e governado por quem não o merece.

Vale também destacar o trabalho de direção de arte para a prefeitura e residências. Não só pela concepção hilária das pinturas de massacre de indígenas e europeus (ou outros elementos polêmicos da história de Pawnee), mas também pela criação de um espaço decorado com o contestável gosto dos funcionários: a engraçada visão de mundo e decoração de Ron Swanson, a organização perfeita e caoticamente profissional da mesa de Leslie (em contraste com sua casa, onde reina o caos absoluto), a convidativa casa de Ann, os bares e lanchonetes visitados pelas personagens, etc.

Por mais que Pawnee seja visivelmente um lugar afastado de relações políticas com o mundo – vemos pouquíssimos exemplos de relações práticas da cidade com outros lugares – sua construção artística e o modo como seu cotidiano é tratado nos roteiros fazem com que ela tenha semelhanças com qualquer lugar minimamente urbanizado do mundo, o que também ajuda a tornar suas críticas e problemas internos algo universal. Seja num buraco para ser aterrado, nas denúncias de adultério feitas ao prefeito, na polêmica causada pelo casamento de “pinguins gays” ou nas relações com outras culturas (o episódio Sister City, onde representantes da Venezuela vão a Pwnee é um excelente exemplo disso), Parks and Recreation é um louvável exemplo de denúncia bem humorada para tudo o que é mal feito em escala municipal.

O final da 2ª Temporada traz um cliffhanger intrigante e engraçado. O governo é “fechado” devido a um número absurdo de gastos e por sua corrupção. Dois agentes nomeados pelo governo estadual chegam à cidade para promover o famoso “corte de gastos”. Leslie não consegue lidar bem com essa situação e faz de tudo para voltar a trabalhar. Os outros funcionários rumam para empregos paralelos. A irmandade de Leslie em Pawnee está ameaçada, mas ao mesmo tempo, a presença de outros dois personagens na organização da cidade acrescenta uma ótima possibilidade para o futuro. As promessas para a 3ª Temporada são as melhores. Pois que venha, então.

Parks and Recreation – 1ª e 2ª Temporadas (EUA, 2009 e 2010)
Showrunners: Greg Daniels, Michael Schur
Roteiro e Direção: Diversos
Elenco principal: Amy Poehler, Nick Offerman, Aubrey Plaza, Chris Pratt, Rashida Jones, Aziz Ansari, Jim O’Heir, Retta, Adam Scott, Rob Lowe
Duração: 20 min. (cada episódio)

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