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Crítica | Patema Invertida

por Guilherme Coral
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estrelas 4

Junto com Der Samurai, Patema Invertida foi outro filme do Festival do Rio 2014 cuja sinopse me cativou imediatamente. Com uma premissa similar à de Mundos Opostos, temos neste anime uma grande brincadeira com a gravidade. A animação japonesa, contudo traz consigo diversos traços de famosas (e incríveis) produções anteriores do país, formando uma mistura homogênea de Evangelion e filmes do Studio Ghibli, como Viagem de Chihiro e Castelo Animado. O produto final é uma grande aventura de agradar a qualquer idade.

A projeção é iniciada com uma filmagem na qual um estranho fenômeno ocorre: os prédios estão se quebrando e caindo para cima, como se sugados pelo céu. Logo depois descobrimos que tal evento provocou a fuga da raça humana (os que sobreviveram) para o subterrâneo, onde construíram uma nova sociedade literalmente invertida. Anos e anos depois a jovem princesa Patema, aventureira, explora esse mundo subterrâneo, sempre buscando descobrir mais sobre o que há do lado de fora daquele lugar apertado. Ignorando aos conselhos e avisos dos guardiões da cidade ela acaba caindo em gigantesco buraco. Para sua surpresa (e a nossa), contudo, ela acaba chegando à superfície, onde continua a cair em direção ao céu, sendo, por pouco, salva por um menino, Age.

Aos poucos, sob a direção de Yasuhiro Yoshiura, o filme explora as diferenças entre esses dois mundos e o medo de Patema por estar nesse lugar “ao contrário”. Sabiamente, porém, o diretor/ roteirista decide ir além e introduz nesse mundo desconhecido de Age uma sociedade ditatorial, à moda de 1984. Câmeras por todos os lugares e um rígido controle comportamental restringem a liberdade de qualquer morador dali e, assim como a jovem princesa, o garoto se destaca dos demais.

Trabalhando nitidamente com o conceito de “pensar fora da caixa”, Yoshiura aborda a temática tão presente em filmes distópicos japoneses: a fuga do sistema rígido nos quais eles vivem e, consequentemente, a luta de gerações – velho conta o novo; auto-controle excessivo e impulsividade. Patema Invertida cria esse diálogo com o espectador chegando a nos assustar com o quão atual essa temática permanece, lembremos que em 1988 ela foi trabalhada também pelo incrível Akira.

Todavia, das obras distópicas em anime que o filme mais se aproxima é Evangelion. Impossível não se deixar levar pelos traços sombrios da trama, que ocultam um passado trágico. Yasuhiro, contudo, não nos deixa mergulhar nessa via mais melancólica, nos resgatando através da relação entre seus dois personagens principais. Nesse quesito o traçado ocupa um papel de destaque, oferecendo um visual, para os personagens, similar ao que vimos nas produções do Estúdio Ghibli. Os cenários, por sua vez, adotam um maior realismo, deixando visível o quão diferente aquela sociedade é da nossa.

A animação em si, para ilustrar as diferentes perspectivas desses dois protagonistas (um de cabeça para baixo em relação ao outro), utiliza constantes inversões da câmera, colocando-nos sob determinado ponto de vista quando a narrativa assim o pede. Não se preocupe, isso não ocorre o suficiente para nos deixar confusos (ou até mesmo enjoados). O longa sabe exatamente quando usar tal recurso, deixando essa mudança sempre divertida aos olhos do espectador.

Infelizmente, o anime acaba sofrendo por não saber utilizar por completo a mitologia que ele mesmo cria. Muitos elementos que nos deixam curiosos são deixados de lado, em detrimento de uma trama que beira o convencional, focada demais na loucura do principal antagonista. Os minutos finais, porém, conseguem nos cativar novamente e, por mais que abra ainda mais possibilidades para esse criativo universo, finaliza a narrativa de forma convincente.

Se apoiando em ombros de gigantes da animação japonesa, Patema Invertida consegue se destacar por si só. É uma aventura criativa que sabe mesclar organicamente aventura e drama. Por mais que conte com seus deslizes no roteiro, esses não são o suficiente para tirar os nossos constantes sorrisos ao assistirmos essa obra de fantasia, que definitivamente entrega muito mais do que sua sinopse prometia.

Patema Invertida (Sakasama no Patema – Japão, 2013)
Direção:
 Yasuhiro Yoshiura
Roteiro: Yasuhiro Yoshiura
Dubladores: Yukiyo Fujii, Nobuhiko Okamoto, Shintarô Oohata, Shinya Fukumatsu, Masayuki Katô, Hiroki Yasumoto
Duração: 98 min.

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