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Crítica | Penny Dreadful – 2ª Temporada

por Guilherme Coral
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estrelas 4

Obs: contém spoilers da primeira e segunda temporadas. Leiam as demais críticas da série aqui.

Inspirada em A Liga Extraordinária e, naturalmente, nos clássicos de terror do final do século XIX/ início do XX, Penny Dreadful foi um dos maiores destaques da televisão de 2014. A primeira temporada, que contava, sim, com suas irregularidades não nos deixou insatisfeitos, muito pelo contrário, nos trouxe uma apaixonante visão da Inglaterra vitoriana, preenchida por criaturas da noite e outros elementos sobrenaturais. Com um trabalho de direção memorável (quem não foi marcado pela possessão da Srta. Ives?), um roteiro inteligente, um desenho de produção completamente imersivo e atuações muito acima da média – não só da talentosa Eva Green – a série conseguiu cativar suas audiências. Este segundo ano, portanto, vinha com uma grande responsabilidade, especialmente após um cliffhanger denotando que a maior ameaça estava longe de ser vencida.

O episódio de abertura, Fresh Hell, como esperado, já nos insere na nova problemática da série, nos traz os principais antagonista da temporada e já vincula a linha narrativa aqui a ser mostrada com a já mencionada possessão de Vanessa. A utilização de tal enredo imediatamente cria uma nítida coesão, ao passo que esse ponto já fora abordado anteriormente, sabíamos que isso viria à tona novamente – não é tão fácil assim se livrar do Diabo – só não tínhamos conhecimento de quando. Dito isso, o senhor do Inferno faz uso de um séquito de bruxas para tentar capturar a Srta. Ives e cabe a ela, junto com Sir Malcolm, Ethan Chandler, Sembene e até mesmo Victor Frankenstein combater esse mal.

É interessante como as vilãs aqui presentes são utilizadas também para abordar o passado de Vanessa em um flashback muito bem inserido que interrompe a história presente sem quebrar seu ritmo, apenas aumento a urgência da situação. Mais ousada ainda é a forma como aprendemos dessa criação da personagem – tudo isso poderia ter sido dividido em inúmeros capítulos, mas o showrunner, John Logan, optou por mostrar tudo de uma vez, trazendo aos seus episódios uma maior relevância quando assistidos separadamente, evitando portanto uma dilatação angustiante da narrativa. Os capítulos, portanto, possuem focos muito específicos, por mais que cada personagem ocupe seu determinado tempo em tela.

Desses focos aquele que mais soa perdido, fora do lugar, é aquele em Dorian Gray. Sabemos que ele irá desempenhar seu papel de mais destaque futuramente, ao menos é o que esperamos, mas não posso deixar de sentir como se sua subtrama pudesse ser melhor aproveitada. O melhor exemplo disso é Angelique, que é descartada no trecho final da temporada sem trazer grandes repercussões, cumprindo a única função de nos mostrar o famigerado retrato do personagem. Certamente merecia um desenrolar melhor construído, especialmente sendo uma personagem transgênero, o que poderia trazer um discurso ainda mais interessante ao seriado, ainda mais pela época retratada. Evidentemente sua presença ajuda a construir a persona de Dorian, mas tudo vai pelos ares quando Lily (re)aparece em sua vida.

Enquanto, porém, Angelique é abandonada, outros indivíduos contam com um merecido destaque. De todos os personagens centrais, apenas Malcolm soa um tanto deixado de lado, enquanto os outros, cada um, contam com suas subtramas que chegam a ser tão fascinantes quanto a principal, que gira em volta da Srta. Ives. O enfoque nas vilãs é outro acerto e a traição de Hecate, ainda que previsível, se dá de forma completamente orgânica, colocando no palco mais uma peça que, definitivamente, cumprirá sua função nas temporadas que estão por vir. A presença mais constante de Ferdinand Lyle, interpretado pelo talentoso  Simon Russell Beale é outro acerto, o ator consegue realmente roubar a cena e transforma o decifrar da Verbis Diablo um dos pontos altos da temporada. A construção da língua em si, uma mistura de idiomas e dialetos antigos, traz uma ancestralidade notável para a trama e contribui para essa retratação de Lúcifer. E já falando no Diabo em pessoa, a escolha de John Logan em não mostrar o ser em ponto algum fora muito bem vinda, aumentando o tom sombrio do vilão e, portanto, não diminuí-lo.

Acima disso tudo, o que talvez nos chame mais atenção nesta segunda temporada é a crescente desolação que toma conta não só da atmosfera da série, como de seus personagens. Sentimos como se todos eles adentrassem uma esmagadora depressão, cada um de sua própria forma. Com isso, o finale, aos poucos vai se formando, colocando os indivíduos que acompanhamos desde o início do seriado em uma forma de isolamento. Ives fica sozinha, Malcolm vai para a África, Chandler para a América, Frankenstein recorre para os narcóticos e sua criação, John Clare, se auto-exila. Não há final feliz e a tristeza de cada um deles certamente passa para nós espectadores, que passamos a temer ainda mais o que está por vir na terceira temporada.

Penny Dreadful, portanto, mesmo com alguns deslizes, consegue manter o padrão de qualidade exibido na primeira temporada. A cada capítulo que se passa ansiamos pelo próximos e o binge-watching se torna praticamente inevitável (felizmente as duas primeiras temporadas estão disponíveis na Netflix). Com a dose certa de cliffhangers, esse ano conseguiu nos deixar verdadeiramente ansiosos pelo próximo, especialmente agora que aprendemos sobre as supostas origens dos vilões. Dito isso, a temporada se sustenta por si só e consegue ser assistida como uma obra fechada, característica essa que quase não se vê nas obras audiovisuais mainstream de hoje em dia.

Penny Dreadful – 2ª Temporada (EUA/ Reino Unido/ Irlanda – 2015)
Showrunner:
John Logan
Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: Eva Green, Timothy Dalton, Josh Hartnett, Harry Treadaway, Billie Piper, Helen McCrory, Simon Russell Beale, Reeve Carney.
Duração: 10 episódios de aproximadamente 55 minutos cada.

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