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Crítica | Penny Dreadful 3X01-03: The Day Tennyson Died/ Predators Far and Near/ Good and Evil Braided Be

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

Obs: contém spoilers do episódio e das temporadas anteriores. Leiam as demais críticas da série aqui.

Verdadeiramente melancólico, o finale da segunda temporada de Penny Dreadful deixou seus personagens no pior lugar possível. Vanessa Ives adentrou profundamente em sua solidão (e depressão), Ethan Chandler foi forçado a retornar para os Estados Unidos após se entregar para a Scotland Yard, Malcolm fora buscar o cadáver de seu filho na África, Victor Frankenstein rejeitado por sua própria criação se entregou às drogas, John Clare optara pelo exílio e Dorian, juntamente de Lily iniciaram uma espécie de odisseia visando a supremacia sobre a humanidade, um caminho obviamente destinado à auto-destruição. Não é preciso dizer, portanto, que os indivíduos que acompanhamos na série encontramos no pior lugar possível em The Day Tennyson Died e somente essa separação já pode significar que enfrentarão sua maior ameaça até então.

Naturalmente sabemos que o mal está longe de deixar em paz esse estranho bando e logo o primeiro episódio deste terceiro ano já procura deixar isso claro, à imagem do que presenciamos na temporada anterior. Indicada para um tipo de psiscóloga, a Srta. Ives mal esperava que o próprio Dracula estaria em seu encalço – revelação que temos logo no season première, ainda que o emblemático I am Dracula tenha soado como uma quebra da quarta parede, visto que todos seus lacaios se referem a ele como Mestre. Uma nota pessoal à parte, acostumado com a fantástica adaptação cinematográfica por Francis Ford Coppola, Drácula de Bram Stoker, devo dizer que chega a ser estranho ouvir o nome Dracula inteiramente em inglês, sem sequer uma fagulha de um sotaque do leste europeu – não é um defeito do seriado, naturalmente, apenas uma observação minha.

E já que entramos no filme de 1992, esses três primeiros capítulos estiveram recheados de referências a ele, até mais que o livro original. A srta. Ives evidentemente rouba o lugar de Mina Harker e se torna o objeto da busca do vampiro. Nisso, os passeios com o Dr. Alexander Sweet se espelham claramente naqueles que Dracula faz com Mina, inclusive a visita ao cinematógrafo – na série há uma pequena inversão muito bem vinda, que ainda dialoga com o discurso feminista presente na série. A escolha de Christian Camargo, o eterno Brian Moser de Dexter, fora excepcional, ao passo que o ator consegue vagar livremente pela ameaça do vilão e o gentil zoólogo. A revelação deste como antagonista primário da temporada já era esperada, mas contou com seu impacto pela forma como referencia obras passadas.

Um fator interessante desta temporada é a fuga das ruas de Londres – o resgate de Ethan, conduzido por Malcolm (que ganha uma participação mais ative neste ano) e  Kaetenay é muito bem vindo por retratar outro aspecto desse mesmo período: a Inglaterra vitoriana x o velho oeste americano. Cria-se assim uma evidente pluralidade narrativa, diferenciando este terceiro ano evidentemente dos anteriores. Enquanto antes tínhamos o eterno nublado ou a noite da capital inglesa, agora temos o sol e o vazio imperdoável do faroeste. Somado a isso, através de Chandler, as duas últimas temporadas assumem um vínculo mais que ativo, visto que a profecia decifrada menciona o místico lobo de Deus. Claramente os personagens irão novamente se reencontrar e chega a ser praticamente óbvio um futuro conflito entre o lobisomem e o vampiro.

Outra feliz adição a Penny Dreadful é ninguém menos que o Dr. Jekyll, mais um personagem tirado da literatura clássica de terror que ajuda a preencher essa “liga extraordinária”. Sua aliança com Frankenstein soa completamente orgânica, é fácil imaginar que ambos tenham se conhecido anteriormente, em virtude de suas experiências e a presença do médico (e o monstro) cria imediatamente uma tensão no espectador, ainda mais agora que sabemos que ele, provavelmente, só mantém sua sanidade em virtude de um soro de efeito temporário, algo deixado implícito após os eventos de Predators Far and Near. Se Victor irá conseguir uma solução permanente para o problema de seu amigo se mantém como uma incógnita, mas certamente veremos o sr. Hyde até o final da temporada.

As criações de Frankenstein também ganham fascinantes arcos conforme progredimos. Lily, como dito anteriormente, entra em uma jornada um tanto quanto questionável junto de Dorian, aumentando ainda mais o grau de loucura dos personagens em questão. Permanecemos na dúvida se as consequências dessas ações irão estourar logo neste ano, mas não podemos deixar de sentir um crescente medo em relação a isso, principalmente considerando a outra ameaça que os personagens principais enfrentam. Não há como notar, também, que o espaço em tela que cada um deles conta faz a narrativa manter uma efetiva fluidez, todas as subtramas parecem, verdadeiramente, caminhar adiante, não temos perdas de tempo aqui e lá, algo de se espantar considerando o crescente número de indivíduos que acompanhamos.

John Clare, por sua vez, buscando sua família após recobrar parte de suas memórias cria uma deliciosa circularidade narrativa quando descobrimos, ao final de Good and Evil Braid, que ele trabalhara no hospital psiquiátrico onde a srta. Ives fora internada. Ele oferecendo sopa para Vanessa imediatamente nos remete à segunda temporada, quando ela faz o mesmo por ele. O encontro dos dois anteriormente não foi por acaso e enxergar isso agora cria uma forte sensação de coesão – nada é inserido por acaso e o cliffhanger deixado nos deixa ansiosos para o que está por vir, ao mesmo tempo que descobrimos mais do passado dessa problemática e fascinante mulher.

A terceira temporada de Penny Dreadful começa, portanto, com o pé direito, já nos trazendo inúmeras problemáticas que podem tornar a vida de seus personagens um verdadeiro inferno. Com subtramas fascinantes, cada qual com trechos impactantes, somos mergulhados nessa narrativa de horror que muito tira da literatura do final do século XIX e início do XX. Resta esperar e torcer para que a qualidade vista aqui se mantenha nos episódios que estão por vir e que a série jamais se deixe estagnar no lugar comum.

Penny Dreadful 3X01-03: The Day Tennyson Died/ Predators Far and Near/ Good and Evil Braid (EUA/ Reino Unido/ Irlanda – 2016)
Showrunner: John Logan
Direção: Damon Thomas
Roteiro: John Logan
Elenco: Eva Green, Timothy Dalton, Reeve Carney, Rory Kinnear, Patti LuPone, Billie Piper, Wes Studi, Harry Treadaway, Josh Hartnett, Christian Camargo, Douglas Hodge, Shazad Latif, Sarah Greene, Samuel Barnett.
Duração: aproximadamente 55 min. cada episódio

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