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Crítica | Personal Shopper

por Guilherme Coral
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estrelas 4,5

A existência da vida após a morte assola a mente do ser humano desde seu estágio primitivo – o questionamento de nossa realidade e o sentido de nossas vidas esteve presente na religião e filosofia desde que o homem consegue se lembrar e o que mais nos obriga a pensar nessas questões do que a morte de um ente querido? Personal Shopper, que garantiu o prêmio de melhor diretor ao francês Olivier Assayas, coloca essa questão no centro do palco, mostrando o quão difícil pode ser vencer o luto após a perda de alguém querido, evidenciando a forma como isso afeta nossas vidas.

A trama gira em torno de Maureen (Kristen Stewart), uma jovem americana que se mudara para Paris após a morte de seu irmão gêmeo, Lewis. Sua intenção é entrar em contato com seu espírito de alguma forma e, para isso, visita sua antiga casa a fim de obter algum sinal. Os dois, sendo médiuns, prometeram, se morressem, enviariam algo para o outro a fim de ajudar nessa transição e mostrar que estão bem. Para sustentar sua estadia ali, a garota passa a trabalhar para uma celebridade como sua compradora de roupas e joias, tudo se complica, porém, quando ela passa a receber mensagens de um número desconhecido, não sabendo se elas vem de seu irmão ou de alguém que tem seguido seus movimentos e sabe mais do que deveria de sua vida.

Personal Shopper nos pega imediatamente de surpresa com seu teor sobrenatural logo no princípio da projeção – há um realismo na forma como aborda tal questão que pode ser verdadeiramente desconcertante para o espectador, mas o roteiro de Assayas sabiamente não foca unicamente nessa questão. Esse é um filme com um foco psicológico, é um thriller e não um terror, dito isso, ele prefere colocar em evidência a forma como a protagonista é afetada por todas essas reviravoltas em sua vida.

Kristen Stewart, que já provara que sabe entregar uma boa atuação quando bem dirigida, nos traz um retrato da instabilidade. Sentimos que seu interior está em polvorosa e a atriz, desde o olhar, passando pelas mãos que tremem, até a forma hesitante que fala, nos passa a impressão de alguém sob forte pressão psicológica, de sofrimento, tentando encontrar um sentido em sua vida após a perda do irmão. A profissão de Maureen é um perfeito exemplo disso, uma futilidade gigantesca que deixa claro a perda da base dessa pessoa. Trata-se de um estágio transitório, é claro, mas não podemos deixar de ansiar para que algum sinal venha para que ela possa, enfim, seguir adiante.

Apesar de ser bastante previsível quem, de fato, envia as mensagens para a personagem, é criada uma tensão que chega a ser palpável no espectador. Não é o clássico whodunnit, o quem matou, e sim o medo do que irá acontecer a seguir com a protagonista, que parece querer atrair essa figura misteriosa para ela. É criado um sentimento em nós de que ela, de fato, ansia pela morte em certo nível, como uma forma de reencontro com seu irmão – o perigo a deixa viva. Existe, é claro, a possibilidade dele próprio enviar as mensagens, mas, desde cedo, suspeitamos que não se trata dele.

A direção de Assayas sabe muito bem trabalhar com a sugestão, criando o suspense no espectador através do que ele pensa que viu em tela ou do que nos é ocultado. É criada uma forte expectativa na audiência e ele apenas a incita através de respostas que não são claras e, na realidade, somente abrem espaço para mais perguntas, nos deixando com um final em aberto que nos obriga a pensar, não nos oferecendo um texto mastigado e quebrando um pouco a previsibilidade do que fora apresentado anteriormente.

Personal Shopper consegue, portanto, nos atingir como um bem realizado thriller psicológico, que nos mantém na dúvida do início ao fim do filme. Jamais é oferecida a resposta da eterna pergunta: existe a algo após o fim da vida? O que fica é a história de superação da perda, seja através da própria morte ou do simples seguir em frente, que tira alguém da vida ausente de propósito no qual ela próprio se colocara.

Personal Shopper — França, 2016
Direção: Olivier Assayas
Roteiro: Olivier Assayas
Elenco: Kristen Stewart, Lars Eidinger, Sigrid Bouaziz, Anders Danielsen Lie, Ty Olwin
Duração: 105 min.

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