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Crítica | Piranha 3D

por Leonardo Campos
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No era posterior ao lançamento de Tubarão, em 1975, a indústria cultural estava em polvorosa com a possibilidade de emular a aventura do monstro marinho e criar um segmento que já existia anteriormente, mas se potencializou com a transformação de uma história que poderia ser mais um filme B de bicho numa narrativa esteticamente poderosa, notável também em seus elementos dramáticos, conjunto de conteúdos que mantém a produção relevante até os dias atuais. Em 1978, Roger Corman, o mestre do horror que sempre foi da classe B aos limites do Z, produziu o clássico paródico Piranha, dirigido por Joe Dante, um filme de horror que toma a estrutura do seu ponto de partida e modifica alguns elementos. Quase quatro décadas depois, Alejandro Aja assumiu a refilmagem da versão contemporânea destes animais, transformados em monstros.  Conhecido por ter dado ótimos novos rumos ao clássico Quadrilha de Sádicos, lançado como Viagem Maldita, em 2006, Aja faz outro bom trabalho ao construir Piranha 3D, um filme consciente da falta de qualquer seriedade em seu projeto, uma divertida, sangrenta e quase pornográfica aventura no mundo do entretenimento sem culpa.

Com roteiro de Pete Goldfinger e Josh Stolberg, a produção nos faz acompanhar uma cidade aterrorizada com os ataques de piranhas nas imediações do lago Victoria, zona que move a economia, o turismo e outras relações do cotidiano de seus moradores. O filme começa nas férias de primavera, momento em que a região está cheia de visitantes e pulsando energia, em especial, dos adolescentes que adoram uma orgia regada aos melhores tipos de bebidas alcoólicas. Essa galera desprovida de qualquer grande responsabilidade dá trabalho constante para a xerife Julie Foster (Elisabeth Shue), mãe de Jake (Steven R. McQueen), jovem que se sente pronto para iniciar a vida sexual e viver as aventuras dos demais garotos de sua cidade, mas podado constantemente pela mãe, preocupada com os rumos de seus estudos, etc. Além da sombra materna que paira a todo momento, ele é um rapaz que ainda precisa ajudar em casa e tomar conta dos dois irmãos mais novos, tarefa nada fácil, algo que toma bastante tempo das horas em que ele poderia aderir ao estilo selvagem dos demais jovens da cidade.

Certo dia, a sua mão deixa-lhe a habitual missão de babá, mas um convite tentador mexe com a sua postura de filho aborrecido, mas certinho. Derrick (Jerry O’Connel) quer que o rapaz seja guia turístico numa expedição no lago, enquanto o contratante realiza o seu filme pornô com algumas garotas bem-dispostas a se entregar ao máximo nas cenas aquáticas de sexo. Ele dribla os irmãos, segue na empreitada, desobedece a mãe que em algum ponto, descobre o corpo de um pescador. Junto ao seu parceiro Fallon (Ving Rhames), ela parte numa investigação ferrenha para descobrir algo que logo mais se estabelecerá como uma ameaça. Quem avalia um espécime levado pelo xerife é Henry Goodman (Christopher Lloyd), dono de um pet shop que atua no modo cientista. Há também uma força-tarefa de especialistas: Novak (Adam Scott), Sam (Ricardo C.) e Paula (Dina Meyer), as pessoas certas para definirem de fato o tamanho da ameaça que promete transformar a temporada num intenso festival de sangue e mortes, algumas bastante gráficas, haja vista a maquiagem de Greg Nicotero, uma das autoridades no assunto.

Além do bom elenco, Piranha 3D goza dos privilégios de ser uma produção consciente de sua estrutura paródica, voltada ao humor e desbloqueada de qualquer sentimento culposo em relação ao bom-senso. É nonsense dos grandes, cheio de situações absurdas, mas muito, excessivamente divertidas e intensas. O pênis que rodopia na tela enquanto afunda, após ser arrancado de uma das vítimas, é uma cena ao mesmo tempo cômica e grosseira, mas nenhum dos envolvidos se importa, afinal, este é um filme de piranhas assassinas documentadas como extintas e que após a falha sísmica, toma o lago e promove a devastação típica do subgênero horror ecológico. Aqui, outra vantagem é a falta de interesse dos realizadores em dosar a presença das piranhas em cena. Grandiosas, exageradas e bizarras, elas estão a todo instante promovendo ataques e devorando humanos incautos, num festival de mortes preocupado exclusivamente em entreter, com algumas pitadas de análise comportamental e exposição de padrões familiares contemporâneos, nada aprofundado, apenas na superfície.

Na cena de abertura, homenagem maior não há: o pescador Matthew Boyd (Richard Deyfruss) cantarola e aguarda os seus peixes no anzol quando é consumido por um redemoinho, oriundo do terremoto que libera as piranhas de um bolsão de água abaixo da terra e as permite ganhar o lago numa velocidade absurda. Elas, obviamente, devoram o personagem que neste momento, realiza apenas uma ponta. Para quem conhece, sabe que Deyfruss é o herói de Tubarão, personagem dominante que coloca ordem no caos estabelecido com a chegada do monstro marinho, alegoria para diversos temas debatidos ao longo do filme e de seu legado extenso. O filme é e ainda será durante muito tempo, referência para outras produções que focam no velho embate entre seres humanos e forças da natureza. Ademais, a trilha sonora de Michael Wandmacher potencializa os vertiginosos barulhos da aventura, produzidos por Myron Nettinga, design de som, setores essenciais para o bom funcionamento de um filme do segmento horror ecológico. Quem também realiza um bom trabalho é John R. Leonetti, na direção de fotografia, eficiente em seus movimentos e na captação de imagens subaquáticas para a nossa imersão no contexto das piranhas, aqui observadas na passageira febre 3D que fez o cinema da época.

Piranha 3D — EUA, 2010
Direção:
 Alexandre Aja
Roteiro: Pete Goldfinger, Josh Stolberg
Elenco: Elisabeth Shue, Jerry O’Connell, Richard Dreyfuss, Ving Rhames, Christopher Lloyd, Eli Roth, Steven R. McQueen, Jessica Szohr, Kelly Brook, Riley Steele, Adam Scott, Ricardo Chavira
Duração: 88 min.

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