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Crítica | Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas

por Guilherme Coral
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estrelas 2

Durante as gravações simultâneas de Piratas do Caribe: O Baú da MorteNo Fim do Mundo, a dupla de roteiristas da franquia descobriram sobre o livro On Stranger Tides, de Tim Powers e, desde já, começaram o planejamento para outro filme da série, algo que já foi deixado claro pelo desfecho do terceiro longa-metragem, que nos mostrou Jack Sparrow interessado na Fonte da Juventude. A ideia, contudo, foi congelada, em razão da greve de roteiristas de 2007-2008, sendo retomada após o término dessa. Eis que, em 2011, chegou aos cinemas Navegando em Águas Misteriosas, o quarto filme da saga de Sparrow, fechado em si próprio, ao contrário da trilogia que o precedeu.

A trama novamente acompanha Jack (Johnny Depp), que novamente se vê sem um navio e tripulação, desta vez perdido nas ruas de Londres. Lá ele acaba reencontrando uma velha paixão, Angelica (Penélope Cruz), que o coloca, sem ele saber, no navio de Barba Negra (Ian McShane), que busca a Fonte da Juventude e, para isso, precisa da ajuda de Sparrow. Enquanto isso, Barbossa, empregado pela Coroa Britânica, segue para o mesmo destino, almejando chegar lá antes dos espanhóis, que enviaram seu próprio navio para esse mítico local.

Apesar do sucesso arrebatador dos três primeiros filmes, a franquia Piratas do Caribe já estava morte e enterrada em 2011, já tendo seu desfecho ideal em No Fim do Mundo. Evidente que o dinheiro fala mais alto e que mais uma sequência seria produzida. Navegando em Águas Misteriosas, porém, não traz Gore Verbinski novamente na direção, algo que sentimos desde cedo, por mais que Elliott e Rossio tenham assinado o roteiro pela quarta vez. Embora funcione à parte de seus antecessores, sentimos como se a obra simplesmente repetisse a velha fórmula, que já se demonstra exaurida, não trazendo absolutamente nada de novo, por mais que busque retratar outra lenda do mar.

Um claro exemplo disso é como o próprio Barba Negra soa como um elemento forçado à trama, visto que ele próprio não tem qualquer conexão mais forte com a Fonte da Juventude, ao contrário dos antagonistas anteriores, Barbossa e Davy Jones, que representavam uma ameaça muito maior. Apesar do excelente Ian McShane viver o temido pirata, a forma como o roteiro o trabalha é menos que ideal, tratando-o mais como um coadjuvante glorificado do que o vilão da história de fato. Isso, claro, tira qualquer esperança de tensão do espectador e o que vemos é Jack Sparrow indo de um lado para o outro, sem nenhuma emoção.

Embora Johnny Depp continue ótimo no papel, não existe mais nada que ele possa oferecer, cansando o espectador com suas peripécias que soam já como uma piada contada mil vezes. Mesmo Geoffrey Rush, como Barbossa, perdeu muito do brilho, ainda que esteja caracterizado de forma completamente diferente, algo que poderia funcionar para trazer um senso de novidade, mas que não chega a tal ponto. O grau de repetição é tamanho que alguns duelos, como o de Sparrow contra Angelica, parecem ter sido copiados e colados de outros filmes, esse, especificamente, é quase igual ao de Will e Jack no início de A Maldição do Pérola Negra.

Rob Marshall, apesar de ter dirigido excelentes filmes, como Chicago, Memórias de uma Gueixa e Nine, parece não se encontrar nesse filme, desperdiçando todo sempre primoroso desenho de produção da franquia, empregando planos mais fechados e mais curtos, que tiram toda a sensação de deslumbramento que sentíamos nos três primeiros longas. O diretor claramente tem dificuldade em realizar as cenas de ação com distintos personagens, uma das marcas da série e foca demasiadamente em um, o que, muitas vezes, dificulta nosso entendimento. Mais de uma vez só sabemos o que, de fato, aconteceu após explicações para lá de didáticas. Já em outros momentos, essa luz jamais é jogada no espectador e ficamos nos perguntando o que ocorreu ali.

Mesmo Dariusz Wolski, diretor de fotografia da franquia, parece ter perdido seu toque com as tomadas noturnas, deixando a imagem exageradamente escura, prejudicando mais ainda nossa percepção do que se passa em tela. Não vemos mais, aqui, o velho uso da luz do luar ou o reflexo da água (seja do oceano em si, ou a pele molhada dos personagens) para clarear um pouco a imagem, provando, de uma vez por todas, como a série de piratas saiu dos trilhos.

Dito isso, Navegando em Águas Misteriosas acaba se configurando como um filme completamente esquecível, que desperdiça o material base e bate constantemente na mesma tecla, soando como uma grande repetição do que já vimos anteriormente. Por mais que seja de uma duração consideravelmente mais curta que os anteriores, a obra parece se estender por muito mais tempo, visto que não nos vemos nem um pouco engajados com sua narrativa. Jack Sparrow deveria ter pendurado o chapéu em No Fim do Mundo, nos poupando dessa triste prova de como uma franquia pode perder seu rumo.

Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas (Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides) — EUA/ Reino Unido, 2011
Direção:
 Rob Marshall
Roteiro: Ted Elliott, Terry Rossio
Elenco: Johnny Depp, Penélope Cruz, Ian McShane,  Geoffrey Rush, Kevin McNally, Sam Claflin,  Astrid Bergès-Frisbey, Stephen Graham,  Keith Richards, Richard Griffiths, Jonny Rees
Duração: 136 min.

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