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Crítica | Pixels

por Guilherme Coral
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Esperar alguma coisa de positivo de um filme com Adam Sandler requer uma mente muito esperançosa, depois de verdadeiras tragédias gregas como Gente Grande (1 e 2)Trocando os Pés, Cada um tem a Gêmea que Merece, não poderíamos ter qualquer expectativa senão a pior. Pixels, contudo, vem dotado de uma premissa cativante, muito diferente da mesmice que assola o cenário hollywoodiano que cada vez mais aposta em super-heróis, remakes e reboots. Um pingo da última que morre, portanto, acabou se infiltrando pela minha psiquê, somente para, na maior das perversidades, concluir seu plano fatal para tornar essa experiência ainda pior.

Voltamos para 1982, o auge dos arcades, fliperamas, com prédios preenchidos de Galaga, Pac-Man, Donkey Kong, Space Invaders e outros. Nesse período encontramos o jovem Brenner (o personagem de Adam Sandler ainda criança), um verdadeiro gênio quando se trata desses games, que vence fase após fase por discernir o padrão dentro dos jogos. Nesse mesmo ano, para o espaço é enviado uma sonda com inúmeros artigos da cultura terrestre, na esperança de que, se houver alguma raça alienígena, que ela possa ter contato com nossas vidas aqui na Terra. Pulamos, então, para a atualidade, quando aliens, de fato, receberam a mensagem, mas captaram de maneira errada e enviam inúmeros ataques a nosso planeta com uma tecnologia que mimetiza os eletrônicos pixelados. Cabe a Brenner salvar o mundo graças ao seu conhecimento de videogames.

Mais uma vez voltamos à premissa da obra – ela sim é muito original, mas sofre de uma terrível execução. A começar que o argumento é completamente abandonado em favor das velhas comédias “Sandlerianas”, com piadas completamente previsiveis e que não conseguem tirar uma mísera risada de alguém que não esteja no mais dos excelentes estados de espírito. A situação complica ainda mais pela retratação das personagens femininas, alvos de muitas dessas gags, que são tidas apenas como objetos sexuais e existem apenas devido às suas contrapartes masculinas. O cúmulo pode ser visto no terço final, quando uma delas sequer diz uma palavra e aparece apenas para beijar um dos “mocinhos”, coroando todo o ar fantasioso que gira em torno do gênero, como um sonho de um pré-adolescente frustrado.

Toda a falta de verossimilhança, contudo, não se resume à forma como a mulher é vista. Estamos falando, naturalmente, de uma comédia e o realismo costuma passar longe, mas a completa inexistência dele acaba levantando algumas sobrancelhas. Refiro-me à forma como toda a sociedade é retratada, mais uma vez, com um certo caráter onírico (ou de pesadelo), tudo soa como uma construção feita por mente infantil, um roteiro que existe apenas dentro de si mesmo e em ponto algum conseguimos enxergar aquele universo fora do que é mostrado na tela. Mesmo nas coisas mais banais os defeitos se apresentam. Em uma cena, logo nos primeiros minutos da obra, assistimos uma reprodução do presidente americano lendo um livro para as crianças e nessas imagens, que mimetizam exibições de jornais televisivos, há a presença de planos e contra-planos frontais. Agora respondam-me, não conseguiríamos enxergar ao menos uma das câmeras nessa intercalação? Admito que essa foi a única risada que consegui emitir durante toda a projeção.

E já que estamos nesse aspecto, falemos da fotografia. Ela segue o modelo padrão atual, evidentemente, com planos curtos e sem muito espaço para a fuga do óbvio. O que mais nos choca, porém, é a forma como os enquadramentos não aproveitam toda a linguagem do video-game, não procura criar paralelos com os jogos originais e o que vemos nessa versão cinematográfica deles. Nesse quesito, a homenagem aos games clássicos, permanece apenas na aparição de tais criaturas, quando poderia se expandir e retratar, aos menos por instantes, os jogos como eles eram, escolha óbvia, mas que, aparentemente, foi descartada pela direção de fotografia.

O maior dos defeitos, porém, é, claro, Adam Sandler, cuja expressão blasé apenas nos faz lembrar de todos seus outros filmes, onde vemos o exato mesmo personagem. A direção de Chris Columbus nunca foi algo tão espetacular assim, tem em sua carreira o clássico Esqueceram de Mim e os dois primeiros Harry Potter (bons apenas), mas era de se esperar pelo menos uma mínima variação no protagonista, ou, talvez, um enfoque maior nos coadjuvantes – um deles, Peter Dinklage, de Game of Thrones, que apenas manchou sua carreira aqui.

Pixels, portanto, precisa ser evitado, um filme cujo único aspecto positivo é seu argumento, elemento que é totalmente subvertido em uma comédia besteirol qualquer que soa interminável por mais que conte apenas com cento e cinco minutos de duração. De inverossimilhança até completo sexismo o espectador está munido de uma variada gama de motivos para escapar dessa tragédia, que, por mais que apele para o saudosimo, acaba apenas nos afastando mais dos clássicos video-games da década de 1980.

Pixels (idem – EUA, 2015)
Direção:
Chris Columbus
Roteiro: Tim Herlihy, Timothy Dowling (baseado no curta de Patrick Jean)
Elenco: Adam Sandler, Kevin James, Michelle Monaghan, Peter Dinklage, Josh Gad, Matt Lintz, Brian Cox, Sean Bean
Duração: 105 min.

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