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Crítica | Planeta dos Macacos: A Guerra (Trilha Sonora Original)

por Guilherme Coral
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estrelas 4

– Contém spoilers de Planeta dos Macacos: A Guerra. Leiam, aqui, a nossa crítica sem spoilers do filme.

Quando falamos de trilhas sonoras, imediatamente alguns nomes vêm à mente. Não há, por exemplo, como pensar em Star WarsTubarão ou Indiana Jones sem, ao menos, se lembrar de John Williams, ou não vincular os filmes de Sergio Leone a Ennio Morricone. Mais recentemente, alguns nomes em específico vem ganhando cada vez mais espaço no mercado – primeiro Hans Zimmer, que já está mais que estabelecido, tendo, inclusive, ganhado o Oscar por O Rei Leão. Não muito atrás vêm Alexandre Desplat e Michael Giacchino, esse último sendo responsável por inúmeras trilhas de destaque nos últimos anos, como Rogue OneDoutor EstranhoHomem-Aranha: De Volta ao Lar e, é claro, Planeta dos Macacos: A Guerra.

De fato, Giacchino já está envolvido com a franquia Planeta dos Macacos desde o longa-metragem anterior, O Confronto e se lá ele já chamara a atenção vemos um completo amadurecimento do compositor nessa sua obra mais recente, a qual claramente se inspira nas composições experimentais de Jerry Goldsmith para O Planeta dos Macacos, ao mesmo tempo que compõe uma trilha mais old school, com alguns temas bem definidos, os quais representam claramente as diferentes facetas do filme. Temos aqui uma trilha consideravelmente melancólica, mas que não tem medo de intensificar a ação do longa através de variações mais “explosivas”, que contrastam perfeitamente com a sutileza do piano e violino das faixas mais intimistas.

Apes’ Past is Prologue, que abre o álbum, é a perfeita introdução para as composições do maestro. Trata-se de uma música que nos apresenta todos os temas que escutaremos posteriormente com suas devidas variações, claro. Giacchino já apresenta aqui o uso de utensílios como vasilhas para misturar e instrumentos como o tambor, que claramente se estabelece como o principal de toda a orquestra, refletindo o aspecto tribal da sociedade símia a qual acompanhamos. Além disso, é interessante notar os tons agressivos desses mesmos tambores em determinados momentos, nos remetendo aos tambores de guerra, acompanhando e motivando os exércitos em marcha de outrora – considerando o título e, claro, a própria temática do filme, não poderia pensar em um instrumento melhor para servir como base dessa trilha.

Há de se notar, também, o uso do coro de maneira pontual, recurso muito bem empregado por Giacchino a fim não só de intensificar o tom épico da narrativa, como evocar um claro saudosismo, ao passo que tais vozes claramente trazem um sentimento de paz e missão cumprida, algo muito bem representado em Paradise Found, a perfeita melodia para encerrar essa trilogia focada em César. Naturalmente que existem ocasiões nas quais o compositor utiliza o vocal em outros tons, acompanhando faixas mais agressivas como The Bad Ape Bagatelle. O interessante é observar como ele procura intercalar tais músicas mais agitadas com outras mais contemplativas, em geral variações de Exodus Wounds, certamente a mais impactante faixa do álbum, que desde cedo nos prepara para toda a tragédia que veremos no filme.

Outro aspecto notável da trilha é como ela assume o caráter western observado em diversos trechos do longa-metragem. O perfeito exemplo disso é The Ecstasy of the Bold, cujo título evidentemente referencia The Ecstasy of Gold, de Morricone. Aqui Giacchino faz bom uso da percussão, marcando nitidamente o tempo da música, de tal forma que praticamente enxergamos, em nossas mentes, os cortes em tela. Faixas como essa são empregadas nas viagens dos personagens, funcionando perfeitamente para criar a sensação de passagem de tempo.

O álbum somente conta com um tema que claramente se distancia de todos os outros, esse é o que gira em torno do personagem Bad Ape. Esse tema e suas variações são melodias mais descontraídas, até com uma pegada mais cômica, que se encaixa com a atmosfera da obra no início do segundo ato, mas que acaba sendo mal colocada depois desse ponto, tirando o impacto de determinadas cenas, como a fuga do campo de concentração, marcada pela faixa Planet of the Escapes. Essa quebra ruptura atmosférica chega até a prejudicar o ritmo da obra, visto que interfere em nossa imersão. Tons mais melancólicos ou que evocassem o suspense seriam mais bem-vindos nesse momento.

No meio disso tudo é preciso comentar, porém, sobre um dos temas específicos da trilha, que soa perigosamente idêntico à música tocada durante a luta contra o chefe final de Super Mario Bros. 2. Naturalmente que o compositor pode ter, sem intenção, utilizado as mesmas notas, mas, considerando que Giacchino já compôs trilhas para videogames, ainda que para franquias completamente distintas de Super Mario, é possível que ele tenha se espelhado nessa melodia em específico. Independente da intenção original do compositor, algo assim pode invalidar qualquer chance de premiação para trilha sonora original, similarmente ao que acontecera à Nino Rota, com a trilha de O Poderoso Chefão.

Essa infeliz coincidência (ou não), contudo, não é o suficiente para tirar o impacto da trilha de Miachel Giacchino, que, apesar de eventuais deslizes, prova ser um trabalho sólido, que muito bem trabalha a atmosfera do filme, além de introduzir alguns temas marcantes. Com cada vez mais composições em seu currículo, o maestro certamente justifica sua contratação para tantas trilhas nos últimos anos, transformando o seu nome, aos poucos, em sinônimo de trilha sonora.

Planeta dos Macacos: A Guerra (Trilha Sonora Original)
Compositor:
 Michael Giacchino
País: Estados Unidos
Lançamento: 7 de julho de 2017
Gravadora: Sony Classical
Estilo: Trilha sonora

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