Home QuadrinhosMangá Crítica | Pluto: Naoki Urasawa X Osamu Tezuka – Vol.2

Crítica | Pluto: Naoki Urasawa X Osamu Tezuka – Vol.2

por Daniel Tristao
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Este segundo volume de Pluto começa, assim como o primeiro, com um assassinato. Desta vez a vítima é Junichiro Tasaki, um humano. Mas não qualquer humano, já que Tasaki é o criador da lei internacional dos robôs, que garantiu a eles liberdade e igualdade de direitos. Outros também já foram mortos e parece que todos tinham um passado em comum. Um detalhe curioso é que todos os assassinatos, tanto de humanos quanto de robôs, têm uma marca, que remete a um excêntrico serial killer: chifres. No corpo ou destroços encontrados sempre há, junto à cabeça da vítima, dois objetos colocados deliberadamente de forma a lembrarem chifres. Aposto que você lembrou da primeira temporada de True Detective, certo? Pois é, eu também. Pluto foi publicado originalmente em 2004 e, portanto, é possível que tenha influenciado os criadores da série (embora eu não tenha encontrado evidências disso, exceto pela semelhança estética). De qualquer forma, ao menos até terminar de ler o mangá, prefiro tratar como coincidência (apesar de que coincidências são, normalmente, pouco prováveis quando se trata de obras da cultura pop).

Divagações à parte, diante de tal panorama, o detetive Gesicht mergulha cada vez mais profundamente nos detalhes do caso (e na mente de outros personagens, literalmente, através da troca de chips de memória). Diferentemente da edição inicial, que investiu bastante tempo na construção de alguns personagens, o volume dois gasta um pouco desta “gordura” e avança bastante com a trama. Atom (o Astro Boy) faz também algumas investigações por conta própria e discute com Gesicht aspectos envolvendo os crimes. Com isso, Urasawa e Nagasaki revelam gradativamente um Atom bem mais complexo do que aparenta, com um passado nebuloso e uma percepção acurada das relações e da essência humana.

Outro personagem que promete bastante é Brau 1589, pois parece que é nele que se encontra a chave para uma questão fundamental da trama. Ele é o único caso conhecido de um robô que já cometeu um crime contra humanos sem apresentar absolutamente nenhuma falha de sistema. Gesicht já o havia visitado na edição anterior e o encontro de ambos se repete aqui, num tipo de cela de contenção e isolamento na qual o robô é mantido. Brau demonstra ter consciência do seu estado atual e do motivo pelo qual está lá, mas tudo o mais a seu respeito permanece em segredo ao leitor, o que cria enorme expectativa a cada nova aparição.

No entanto, a discussão mais importante é didática e formalmente introduzida num diálogo entre Atom e o Professor Ochanomizu, quando ambos conversam sobre o que poderia fazer um robô cometer um ato de violência contra um humano (lembre-se que neste universo há também as famosas leis da robótica de Asimov!). Tal exposição, naturalmente, joga nova luz sobre a natureza de todos os personagens. Porém, acredito que um pouco mais de sutileza neste momento tornaria a trama ainda mais instigante, contribuindo para enaltecer o clima de mistério da obra.

Diferentemente de Blade Runner, que insere elementos que levam o espectador a questionar a natureza de Rick Deckard, aqui não há dúvida sobre o fato de Gesicht ser um robô. Sua mão se reconfigura para virar uma arma, ele insere chips de memória em sua cabeça e pode se conectar fisicamente a computadores e outros equipamentos. Com isso, a questão sobre o que difere humanos de robôs tão avançados surge, principalmente, na forma como Gesicht se sente em relação à sociedade. Seu distanciamento, sua curiosidade sobre como os outros robôs (sobretudo Atom) lidam com isso, o aparente distanciamento de sua esposa e seu jeito meio calado e observador demonstram o quanto se sente deslocado e revelam também uma busca por sentido. Tal condição é ainda mais acentuada pelos seus sonhos estranhos e pela revelação da provável manipulação de memórias que sofreu.

Desta forma, a jornada de Gesicht apresenta certa semelhança à da Major Motoko Kusanagi em The Ghost in the Shell. O detetive não aparenta a mesma curiosidade pelo vilão que a Major demonstra, mas suas dúvidas podem colocá-lo num caminho similar. A busca de Gesicht por autoafirmação, até aqui, é menos evidente do que a de Motoko, mas sugere que pode haver algum tipo de identificação com Brau 1589 ou com o próprio assassino (cuja identidade permanece em segredo).

Apesar de trazer novos acontecimentos e algumas revelações, este segundo volume possui elementos estruturais em comum ao primeiro. Em ambos a história começa com um assassinato, que desencadeia uma série de investigações e revelações sobre o passado das vítimas; há também uma morte importante em cada edição, sendo as duas já na metade final do volume; e, por fim, as duas edições terminam com a apresentação impactante de um novo personagem (antes Atom e agora Uran), que servem de ganchos para a edição seguinte. Sendo assim, de certa forma, parece que você leu duas vezes a mesma história, não fosse pelas sequências que preenchem a estrutura narrativa. Fica a curiosidade sobre como a dupla criativa vai sair deste “loop” nas edições posteriores, uma vez que há ainda elementos a serem explorados e personagens não apresentados.

Pluto: Urasawa x Tezuka – Volume 2 (Japão, 2004)
No Brasil: Pluto – Naoki Urasawa X Osamu Tezuka 002
Roteiro: Naoki Urasawa
Coautor: Takashi Nagasaki
Desenhos: Naoki Urasawa
Capa: Naoki Urasawa
Supervisão: Macoto Tezka
Editora no Brasil: Panini Comics/ Planet Manga
208 páginas (edição nacional)

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