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Crítica | Predador: Caçadores

por Ritter Fan
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Chris Warner foi o primeiro desenhista dos quadrinhos da franquia Predador, da Dark Horse Comics, na minissérie Concrete Jungle, iniciada em 1989. Ao longo de sua eclética carreira, ele voltou diversas vezes a essa propriedade, tornando-se quase que um “padrinho” para a longeva licença da editora. Em 2017, como parte das comemorações pelos 30 anos de O Predador, ele retornou para mais uma história, desta vez na capacidade de roteirista e o resultado foi Predador: Caçadores (Predator: Hunters) no original que tem como principal característica inverter a lógica padrão de todos os filmes e de grande parte dos quadrinhos da série.

No lugar de colocar o Predador como caçador, Warner o coloca como o alvo de um grupo de elite formado por pessoas que já sobrevieram a ataques dos alienígenas, abrindo oportunidade para o roteirista trazer de volta personagens já utilizados em outras histórias ao longo dos anos, incluindo a descendente de um deles. Com isso, a premissa já batida na linha de que os humanos ignoram a existência dos monstros inexiste aqui e a equipe protagonista sabe tanto quanto nós, leitores, sobre eles desde o início da primeira edição. O resultado é que Warner evita aquela construção clássica que coloca o “humano caçado” em uma rápida – mas às vezes nem tanto – curva de aprendizado sobre o extraterrestre, sua intenção e sua tecnologia.

No entanto, substituindo essa curva, ele emprega integralmente o primeiro número e um bom pedaço do segundo para lidar com as histórias pregressas de cada um da equipe, usando como ponto focal o recrutamento de Enoch Nakai (que apareceu pela primeira vez nos quadrinhos em Predador: Big Game, de 1991) por Jaya Soames, a líder da equipe e tataraneta de Edward Soames, introduzido em Predador: Nemesis, de 1997. Somos levados a flashbacks atrás de flashbacks que lidam, lógico, com os primeiros encontros de cada um com os Predadores. Por um lado, há pouco espaço para tanta “história de origem” e, por outro, elas pouco acrescentam à construção dos personagens em si e sua interação e integração em uma equipe. Em outras palavras, Warner escapa de uma potencial armadilha para cair em outra, desperdiçando todo o início da minissérie.

(1) Predador bárbaro e (2) o momento em que tudo começa a dar muito errado…

Quando ele parte para efetivamente abordar a missão em si, informando-nos que o Predador que vemos no prólogo vive em uma ilha remota no Pacífico, com o navio dos Caçadores disfarçado de expedição científica em razão do pequeno arquipélago ser habitado por um grupo de ermitões neozelandeses proprietário das ilhas, a narrativa começa a ficar muito mais interessante. Além disso, na medida em que a história progride, o autor acrescenta reviravoltas que, se não são surpresas absolutas para aqueles mais tarimbados com quadrinhos, pelo menos são orgânicas e fluidas, com belo desenvolvimento e lógica interna que amarra bem a história que Warner deseja contar. Warner não consegue evitar – e acho que nem era mesmo seu objetivo – a sensação de que as cinco edições da minissérie são como a ponta de um iceberg, o começo de algo potencialmente maior. E, de fato, na data em que a presente crítica foi publicada, a Dark Horse, mantendo o roteirista no leme, iniciou uma segunda minissérie usado o grupo de caçadores de Predadores como protagonista, algo natural e perfeitamente esperado, para ser sincero.

Se a história tem seus problemas no início, decolando apenas em sua segunda metade, o mesmo não acontece com a arte de Francisco Ruiz Velasco, que é cativante desde a primeira página. Pela primeira vez em muito tempo, vemos um estilo de Predador mais primitivo, selvagem, não tecnológico, algo que, vale deixar bem claro, é explicado organicamente na minissérie para aqueles que porventura tenham revirado os olhos agora em incredulidade. Velasco parece ter se inspirado em criaturas sobrenaturais da saudosa A Espada Selvagem de Conan para recriar o extraterrestre, apostando na crueza e na violência quase cega para guiar seu lápis e suas tintas, estas normalmente tendentes ao azul e verde. Chega a ser quase um crime Warner perder tanto tempo com flashbacks sobre os humanos (ainda que isso tenha lhe dado oportunidade de desenhar Predadores mais tradicionais, só que com seus traços diferenciadores), pois eu poderia facilmente ler uma minissérie inteira só sobre essa versão “Conan, o Bárbaro” do Predador. Mas, se eu quiser ser chato – e eu quero – diria que há uma queda razoável na qualidade dos desenhos lá pela última edição, dando a entender que Velasco correu demais com sua arte, talvez em razão de prazos, mas a grande verdade é que o resultado geral é da mais alta qualidade.

Predador: Caçadores parte de uma ideia simples, mas poucas vezes tentada, que nos permite ver os alienígenas caçadores sob outra luz em uma minissérie que, se gasta tempo demais em seus preparativos, depois quase compensa com as sequências de ação e reviravoltas. E, isso sem contar com a arte contagiante e diferente, no que se refere ao Predador, de quase tudo já tentado antes. Em outras palavras, uma leitura mais do que recomendada nesse universo tão bem desenvolvido ao longo de décadas pela Dark Horse Comics.

Predador: Caçadores (Predator: Hunters, EUA – 2017)
Roteiro: Chris Warner
Arte: Francisco Ruiz Velasco
Letras: Michael Heisler
Capas: Doug Wheatley, Francisco Ruiz Velasco
Editoria: Randy Stradley
Editora original: Dark Horse Comics
Data original de publicação: maio a setembro de 2017
Páginas: 116

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