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Crítica | “Purpose” – Justin Bieber

por Luiz Santiago
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Em seu 4º disco de estúdio, Justin Bieber tenta minimizar o impacto de seus “anos rebeldes” pedindo desculpas; praticamente estabelecendo que SÓ DEUS PODE JULGÁ-LO e tentando vender uma imagem de “bom-moço” que não engana nem mesmo às pessoas que imploram para ser enganadas por ele. Tudo isso em uma tessitura menor que a qualidade das letras das 13 faixas que compõem Purpose (2015) e igualmente menor que sua presença vocal em todo o disco.

O álbum contou diversos produtores, dentre os quais se destacam Diplo e Skrillex, e traz participações de Travis Scott, Big Sean e Halsey, que apesar de não estarem em canções realmente marcantes, se saem melhor que o próprio dono do disco. De início, é preciso estabelecer que o jovem cantor canadense não é um Biel da vida. Ele tem sim muitas qualidades musicais interessantes (os caminhos que optou para este lançamento, apesar da demagogia poética, são prova disso) e não é um músico ruim. Talvez no futuro ele consiga estabelecer-se melhor em termos vocais e até como compositor, mas no momento, não possui uma marca vocal que o destaque e trace a tão almejada linha de separação entre o astro teen de Baby e o adulto chorão de Mark My Words, a canção-introdução que repete uma base de sintetizador + backing vocal ad infinitum, irritando o ouvinte já nos primeiros segundos do disco.

Um elemento que jamais passará despercebido é a variedade de nuances dentro de gêneros, especialmente dance-pop e EDM (Electronic Dance Music), um ponto positivo desse disco. Notem como o artista e os produtores navegaram por águas que vão da confusamente simpática I’ll Show You até a tríade das melhores faixas do disco: What Do You Mean?, Sorry e Love Yourself. Particularmente vejo como positivas as inserções de Bieber em coisas mais calmas e de algum modo belas como Love Yourself, e mesmo que note uma grande queda de qualidade — inclusive da produção! — do meio do álbum para o final, não dá para ignorar que houve uma tentativa de contornar a trilha pop e modernosa que ele imprimira em seus lançamentos anteriores, My World 2.0 (2010), Under the Mistletoe (2011) e Believe (2012).

As três canções dançantes do início (não por acaso, os três maiores hits) apresentam um leve crescente de qualidade de uma para outra, acendendo uma esperança no ouvinte de que talvez vissem coisas grandiosas dali para frente, mas não é o caso. Love Yourself (com uma sessão de trompete que lhe deu um ar refinado e inesperado) ganha pontos por nos deixar ouvir a voz de Bieber sem intervenções maiores e dentro de uma tonalidade confortável para ele, mas é como apontei antes, falta-lhe identidade. Aqui, ele soa como qualquer outro cantor genérico de boy band do X-Factor, então mesmo que cante algo “bonitinho”, continuará parecendo enlatado — percebem que os versos ficam melhores quando a voz de Ed Sheeran entra? Considerando que a gravação do disco aconteceu entre 2014 e 2015, quando o cantor tinha entre 20 e 21 anos, imaginamos que seu timbre não deve ir para lugares muito diferentes do que está hoje, mas imagino que estando alguns anos mais velho, e por ser um bom músico, ele pode encontrar caminhos mais interessantes para usar a voz de forma madura.

A partir de Company, a produção resolve “experimentar” novos caminhos, mas talvez pela sequência das faixas, pelo formato genérico e enjoativo da voz de Bieber, pela qualidade um tanto questionável das letras (há poucos momentos que se possa classificar como exceção), fica bastante difícil engatar alguma coisa genuinamente boa daí para frente. No Pressure tem um refrão “ok”, mas o restante da faixa parece um quebra-cabeça mal montado, o que torna a participação de Big Sean solta, embora ela seja bem melhor do que o próprio Bieber. A chegada de Travi$ Scott em No Sense tem exatamente o mesmo problema, talvez ganhando um pouquinho mais de simpatia pelas boas ideias de batida e organização de blocos de instrumentos e vocais de apoio, que são bons, mas falta letra para que a faixa vá a um patamar mais alto. Ela simplesmente não decola.

The Feeling, com Halsey, demora para mostrar algo bom (apenas na metade da música isso ocorre), e o faz por tão pouco tempo, que quase nos esquecemos que houve mesmo algo bom ali. Where Are Ü Now não é uma novidade, pois já tinha sido lançada no disco Skrillex and Diplo Present Jack Ü (fevereiro de 2015). É a típica “música de balada” que implora por 76 outras versões remix, exatamente como Children, que seria muito melhor se não houvesse o exagero eletrônico/dance à guisa de refrão. E como se não pudesse piorar, o disco é encerrado por Purpose, com confissões e reparações morais do cantor que realmente estragam a faixa. Admiro apenas a ideia de intro + conclusão sob o mesmo padrão calmo de canções, mas infelizmente, em nenhuma das duas pontas do disco, elas funcionam.

Justin Bieber segue sendo amado e desejado por muita gente mundo afora, não necessariamente por seus talentos musicais (apesar de tê-los), é claro. Para um jovem adulto que lança um álbum assumidamente de reconciliação e pedido de desculpas, era de se esperar que sua postura e a qualidade do disco acompanhassem essa intenção. Todavia, pelo tipo de obra que ele nos entrega aqui e pelo que temos visto dele na mídia… não foi dessa vez para nenhuma das duas coisas.

Aumenta!: Sorry
Diminui!: Mark My Words e Purpose
Minha canção favorita do álbum: Love Yourself

Purpose
Artista: Justin Bieber
País: Estados Unidos
Lançamento: 13 de novembro de 2015
Gravadora: RBMG, Def Jam
Estilo: Dance-pop, EDM

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