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Crítica | Quando Chega a Escuridão

por Guilherme Coral
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Onze anos após Anne Rice trazer os vampiros para a atualidade, tirando suas longas capas, diálogos dramáticos e aversão pelo que é sagrado, Kathryn Bigelow dirige Quando Chega a Escuridão, seu primeiro trabalho solo de direção. O longa-metragem utiliza o mesmo conceito moderno das criaturas da noite, jogando um olhar bastante humano sobre elas, tirando praticamente todo o misticismo, até pouco tempo inerente a tais histórias. Se olharmos a obra sob uma perspectiva atual, levando em consideração os outros filmes do gênero, chega a ser ainda mais interessante como a visão dada pela diretora (que também roteiriza, junto de Eric Red) foi tão pouco abordada em vinte e sete anos desde seu lançamento.

A projeção é iniciada com o jovem Caleb Colton (Adrian Pasdar), que em uma noite qualquer conhece Mae (Jenny Wright), uma garota com um toque de mistério que a ele pede carona até sua casa. Com um corte brusco, o primeiro de muitos, somos transportados para a caminhonete do rapaz. O caminho é preenchido por silêncios e diálogos, no mínimo excêntricos, por parte de Mae. Aqui já vemos que Caleb definitivamente não sabe onde se meteu e nosso pensamento ganha palavra pela boca da moça misteriosa.

I sure haven’t met any girls like you

No, you sure haven’t

O suspense começa a se formar desde esses momentos iniciais, atingindo o primeiro cume no temor da menina pela chegada da manhã. Aqui o roteiro de Bigelow e Red demonstra toda sua força, criando uma enorme tensão pelo simples fato de nós sabermos que a garota é uma vampira enquanto o protagonista ainda é ignorante a tal fator. Assim, como a montagem veloz, repleta de elipses, somos levados em uma jornada incessante, um road movie de terror e suspense, que mantém seu espectador na escuridão, literal e metaforicamente, dando somente as poucas informações necessárias para a progressão da trama.

O não-dito ocupa um papel central dentro da narrativa de Quando Chega a Escuridão, introduzindo personagens como Jesse (Lance Henriksen) e Homer (Joshua Miller), que, embora possuam um papel central na trama, contam com pouquíssimas falas, permitindo o aumento ainda maior da expectativa de quem assiste. Os poucos diálogos entre o grupo de vampiros são bem colocados, trazendo consigo frases impactantes com bastante uso da ironia.

Let’s put it this way: I fought for the South.

É interessante ressalvar que em nenhum ponto a palavra Vampiro é citada, aumentando ainda mais o tom realista dado à obra. Sim, estamos diante de criaturas que queimam à luz do sol, mas a retratação suja e marginal dado a cada um desses personagens, os tira do misticismo, colocando-os como pessoas isoladas, quase como um bando de foras-da-lei. Vale ressaltar que a intenção original de Bigelow era realizar um western, mas a popularidade decrescente do gênero na época, acabou alterando seus planos.

A frenética aventura vivida por Caleb somente sofre seus deslizes no trecho final da obra, que soa apressado com uma problemática mal construída. O estranhamento acaba quebrando a imersão do espectador, o que é piorado pelo fim explosivo, literalmente falando, do longa. A retratação mais realista vigente desde os minutos iniciais acaba sendo deixada de lado no fim, especialmente pela volta à normalidade, que garante um final inesperadamente feliz à projeção.

Esses defeitos, contudo, não conseguem tirar a força da obra que se demonstra cativante desde o primeiro corte seco. Quando Chega a Escuridão é um filme de destaque dentre o gênero, dando uma visão bastante humana aos vampiros. Kathryn é bem sucedida em sua primeira empreitada como diretora, conseguindo manter o suspense e deslumbramento mesmo dentro de uma temática, hoje em dia, super explorada, nos fazendo sentir como se víssemos nosso primeiro filme de vampiros.

Publicado originalmente em 22/06/2014.

Quando Chega a Escuridão (Near Dark, EUA – 1987)
Direção: Kathryn Bigelow
Roteiro: Kathryn Bigelow, Eric Red
Elenco: Adrian Pasdar, Jenny Wright, Lance Henriksen, Bill Paxton, Jenette Goldstein, Tim Thomerson, Joshua John Miller, Marcie Leeds.
Duração: 94 min.

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