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Crítica | Quarteto Fantástico #1 a 12 (1961-1963)

por Ritter Fan
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A Liga da Justiça debutou nos quadrinhos em março de 1960 pela DC Comics (então com o nome National Periodical Publications), com distribuição pela mesma empresa que também cuidava da distribuição da Marvel Comics. Diz a lenda que Stan Lee, vendo o sucesso da editora rival, tratou de criar seu próprio grupo de heróis de maneira a não parecer nada próxima à Liga, evitando que a distribuidora em comum criasse problema com eventual canibalização do mercado.

Lee, em suas várias entrevistas ao longo dos anos, disse que criou o Quarteto Fantástico como personagens que ele realmente gostaria de ver nos quadrinhos, com quem ele pudesse se identificar, fugindo do rótulo de heróis da época, com identidades secretas, passados sombrios e ameaças extraordinárias. O resultado foi uma família disfuncional que, em um acidente com raios cósmicos em uma missão espacial durante a Guerra Fria, adquiriu poderes: o gênio Reed Richards passou a poder esticar seu corpo todo, tomando o nome de Sr. Fantástico; a bela Sue Storm tornou-se capaz de ficar invisível e de gerar campos de força; o bon vivant Johnny Storm, irmão de Sue, passou a ser capaz de incendiar seu próprio corpo, controlando o fogo e também podendo voar e, finalmente, o grandalhão e abrutalhado – mas com coração de ouro – Ben Grimm transforma-se em uma criatura laranja de pedra com super-força.

Muito se debate sobre as afirmações de Lee que sempre foi um gênio de marketing mais do que necessariamente um gênio criativo. Jack Kirby, parceiro de Lee na época, viria a afirmar diversas vezes que ele foi o maior responsável pela criação do Quarteto Fantástico, com a ideia partindo dele e não de Lee, a partir de outra criação sua de 1957: os Desafiadores do Desconhecido, da DC, e que também era um quarteto de cientistas com uniformes no estilo do que ele viria a desenhar para o Quarteto Fantástico.

Seja como for, o processo colaborativo que marcaria a linha de produção da Marvel por décadas (o chamado Método Marvel) torna tênues as linhas que permitem definir quem fez o que quando. Se Lee só escreveu os diálogos em criação de Kirby ou se Kirby desenho seguindo precisas instruções de Lee, talvez nunca saibamos precisamente, mas o fato permanece que o Quarteto Fantásticos é uma das mais duradouras criações dos quadrinhos mainstream e uma verdadeira revolução em sua época, com um enfoque mais “pés no chão” para super-heróis, com os integrantes do grupo lidando tanto com ameças extraterrestres quanto com seu dia-a-dia mundano, com brigas internas e discussões triviais. E isso sem contar com o fato que a criação de Lee e Kirby seria a pedra fundamental para a Marvel Comics como a conhecemos hoje, gerando um sem-número de fantásticos heróis (o reaparecimento de Namor da Era de Ouro, o Surfista Prateado, o Vigia!) e vilões (Doutor Destino, Galactus, Toupeira!) que pavimentariam o caminho do sucesso da editora ao longo de décadas.

As críticas abaixo, assim como a avaliação (as estrelas) são por edição, a não ser quando formam pequenos arcos, caso em que a crítica e avaliação é para o arco como um todo. Vamos a elas.
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Quarteto Fantástico #1
(novembro de 1961)

Uma história de origem ao mesmo tempo típica e atípica. Reed Richards é um cientista que arregimenta a ajuda do piloto Ben Grimm e dos irmãos Sue e Johnny Storm para serem os primeiros homens no espaço. Apesar dos avisos de Grimm sobre os efeitos desconhecidos dos raios cósmicos, a missão clandestina prossegue e, dito e feito, os personagens são transformados para serem, unindo-se como o Quarteto Fantástico.

A narrativa de Stan Lee não perde tempo nem mesmo para apresentar os personagens e já começa com todos eles já com poderes sendo chamados por Reed pela primeira vez para uma missão. Apesar de Lee dedicar uma página para cada herói separadamente, pouco realmente aprendemos sobre ele, algo que só vem mesmo um pouco mais para frente no obrigatório flashback que, então reconta a origem que mencionei acima. É, sem dúvida alguma, uma forma intrigante de trazer à lume novos personagens que (1) não têm nem mesmo uniformes (eles só os ganhariam em Quarteto Fantástico #3); (2) não tem máscaras e identidades secretas e (3) funcionam fundamentalmente como uma família primeiro e como heróis em segundo lugar.

Com isso, Lee consegue criar uma dinâmica diferente que lida com o macro – o monstro Giganto e o Toupeira e seus monstros da Ilha Monstro – da mesma maneira que lida com o micro, com nossos heróis se bicando com grande constância, especialmente pelo fato de Grimm culpar Richards pelo que aconteceu com eles (especialmente com o próprio Grimm, o mais desafortunado de todos, por ganhar a icônica aparência rochosa laranja, sem poder voltar à forma humana). É o mundano que torna o Quarteto Fantástico extraordinário, pelo menos nesse começo e particularmente se contextualizarmos a criação do grupo como uma espécie de resposta aos mais, digamos, espalhafatosos membros da Liga da Justiça.

Jack Kirby está no metiê que o marcaria para sempre. O visual de seus personagens, apesar de inspirados em sua própria obra anterior, Desafiadores do Desconhecido, tornar-se-ia marcante de sua própria maneira, com excelentes interações entre os personagens que ganham vida com seus traços, ainda que ele economize com os detalhes de fundo. Como Richards é um cientista, Kirby aproveita para enxertar o máximo possível de aparatos tecnológicos, algo que ele sempre desenhou muito bem, com uma qualidade quase etérea.

Curiosidades do número:

– Primeira aparição e origem do Quarteto Fantástico
– Cidade de atuação era Central City e não Nova York
– Primeira aparição do Toupeira
– Primeira aparição de Giganto (Deviante)

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Quarteto Fantástico #2
(janeiro de 1962)

Logo no segundo número da revista, o Quarteto Fantástico enfrenta uma ameaça alienígena: os Skrulls, seres reptilianos que podem mudar de aparência. Eles fazem o que um dia fariam em larga escala na saga Invasão Secreta, tomando o lugar de heróis para criar a cizânia. No caso, eles tomam o lugar de nossos quatro heróis para colocar a população da Terra contra eles, já que, pela pesquisa dos extraterrestres, o Quarteto Fantástico seria a única ameaça à frota estrelar invasora em órbita.

O que se vê nesse número é um pouco de correria demais, com um roteiro solapado de Lee, que simplifica tudo ao extremo, transformando os Skrulls na raça alienígena mais burra do universo. Faz parte da ingenuidade dos roteiros da época, claro, mas Lee, apesar de sempre ter tido boas ideias (bem, quase sempre), nunca dominou perfeitamente a arte de escrever roteiros e, aqui, as soluções encontradas são risíveis e bobas, além de truncadas, o que exige demais da suspensão da descrença do leitor, ainda que a solução final encontrada por Richards para os alienígenas restantes seja cruelmente hilária.

Lee faz pouco também para aprofundar a relação entre os membros do Quarteto, mantendo a interação em um nível ainda básico, sem grandes conflitos internos.  Há, porém, a manutenção da ideia de um grupo de amigos, de uma família funcionando como tal, algo que ganharia ótimos desenvolvimentos em números futuros.

O trabalho de Kirby nos desenhos novamente merece destaque, pois os Skrulls, apesar da óbvia aparência vilanesca, funcionam bem e, como mais tecnologia é envolvida, ele se diverte em criar desenhos marcantes ainda que, pela característica “toque de caixa” de sua produção à época, com poucos detalhes.

Curiosidades do número:

– Primeira aparição dos Skrulls
– Primeira vez que Ben Grimm volta à forma humana

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Quarteto Fantástico #3 e #4
(março e maio de 1962)

Apesar do vilão para lá de bobalhão – Homem Milagroso, um mágico hipnotizador – a narrativa de Stan Lee começa a ganhar corpo no terceiro número da bem-sucedida publicação sessentista. Os conflitos internos em sua “família” começam a ganhar relevo e realmente vemos o macro (ameaças à cidade e/ou ao mundo) se misturando ao micro (trivialidades do dia-a-dia), algo particularmente visível e com consequências interessantes na relação de amor e ódio entre Ben Grimm e Johnny Storm.

Com isso, a história da longeva revista começa a ganhar um “sabor” todo especial que permearia a série por dezenas de números seguintes em maior ou menor grau. Nesse início, Ben e Johnny são realmente raivosos e rancorosos, brigando um com o outro de verdade, sem dó na consciência. E é absolutamente refrescante ver isso mesmo hoje em dia e fico imaginando a reação do público há 50 anos.

E Lee e Kirby adicionam outros elementos ao Quarteto, elementos esses que se tornariam icônicos ao longo do tempo. O primeiro deles é o Fantasti-Carro, talvez o mais famoso veículo do grupo e de todo o Universo Marvel, com sua capacidade de se dividir em quatro naves menores, todas estranhamente, mas inesquecivelmente desenhadas. O outro elemento é a chegada do minimalista uniforme azul com um “4” dentro de um círculo no peito. Não poderia ser mais simples, mas, de todas as variações que roupas que o Quarteto usaria ao longo das décadas, os uniformes azuis são ainda os mais relacionados com os heróis.

No número seguinte, que tem em comum com o primeiro a tênue linha da “saída” de Johnny do grupo, vemos a volta de um herói Marvel (Timely Comics, na verdade) dos anos 30 e 40, a Era de Ouro dos quadrinhos: Namor, o Príncipe Submarino. Semelhante à volta do Capitão América, que aconteceria um ano depois, Lee traz de volta Namor como um desmemoriado mendigo que Johnny inadvertidamente acha enquanto está em um abrigo. É, sem dúvida alguma, um momento poderoso dos quadrinhos Marvel, especialmente pela correlação que é feita com o Tocha Humana achando o Atlante, já que o primeiro crossover da história dos quadrinhos se deu justamente entre esses dois personagens. Bem, na verdade entre o Tocha Humana androide original e o mesmo Namor (se tiver curiosidade para saber mais sobre esse evento, clique aqui).

Além disso, é interessante ver Lee e Kirby estabelecer o enraivecido Namor – agora sem sua Atlântida – como um dos mais importantes nêmesis do grupo ao longo de muitos números e com um interesse egoísta muito claro: casar com Sue Storm. Essas temáticas ficariam presentes na mitologia do grupo por décadas a fio, ainda que o papel mais vilanesco de Namor tenha sido suavizado ao longo dos anos, com o mesmo acontecendo com as rusgas entre Ben e Johnny.

Curiosidades dos números:

– Primeira aparição do Homem Milagroso
– Primeira vez que o quartel-general do Quarteto aparece (ainda não explicitamente no Edifício Baxter)
– Primeira vez que o Fantasti-Carro aparece
– Primeira vez que os uniformes azuis clássicos aparecem
– O uniforme do Coisa era de corpo inteiro e com máscara
– Primeira das tradicionais brigas e provocações entre Ben Grimm e Johnny Storm
– Volta de Namor aos quadrinhos
– Namor usa calção vermelho ainda e não o tradicional verde, além de um cinto com a letra “S” de Sub-Mariner, como é conhecido em inglês
– Namor desde logo se enamora de Sue Richards
– Primeira aparição de Giganto (monstro atlante)
– Primeira menção expressa a Nova York

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Quarteto Fantástico #5 e 6
(julho e setembro de 1962)

E o quinto número de Quarteto Fantástico traz a primeira aparição do mais importante vilão do grupo e um dos mais famosos vilões de todo o Universo Marvel: Doutor Destino. Mas é interessante ver como a introdução de Destino é tão boba se compararmos com o que veríamos dos planos maquiavélicos dele nas décadas seguintes.

Afinal de contas, já surgindo em sua forma quase final – de armadura e trajes na cor verde, só que sem capa – Destino captura o Quarteto para que eles cumpram uma missão: voltar ao passado usando sua máquina do tempo para roubar um tesouro do pirata Barba Negra. Sim, isso mesmo, roubar um tesouro! Chega a ser engraçado quando o plano é finalmente revelado, depois de um mirabolante ataque ao Edifício Baxter (que só viria oficialmente a ganhar esse nome no número seguinte).

O melhor é quando Lee, por intermédio de Johnny, pergunta ao Destino porque ele mesmo não volta ao passado para recuperar o tesouro, somente para receber a risível resposta de que ele precisa fica no presente para operar a máquina do tempo. Claro, claro, vamos fingir que essa desculpa faz algum sentido…

Bem, o importante, aqui, é que o vilão aparece pela primeira vez para infernizar os heróis e sua origem é vista brevemente, quando Richards reconhece a voz dele como sendo a de seu colega Victor von Doom, cientista e feiticeiro que acaba tendo seu rosto deformado em uma explosão em seu laboratório. Além disso, a máquina do tempo é vista pela primeira vez, artifício que se tornaria um dos alicerces de todo o Universo Marvel, com incontáveis histórias com ou sem o Quarteto com viagens no tempo.

A ligação de Quarteto Fantástico #5 com #6 é o próprio Destino, que volta no número seguinte ao lado de Namor, para os dois liquidarem os inimigos em comum, ainda que o Príncipe Submarino deseje Sue para ele. Essa segunda história é mais pé no chão, sem viagem no tempo, mas com um clímax espacial que deixa a desejar. Mas nela vemos a hesitação de Namor em ajudar Destino cegamente e seu lado heroico acaba se sobressaindo. E, no mesmo diapasão, vemos Sue Storm “arrastando a asa” para o atlante, algo que viria a gerar interessantíssimas histórias no futuro do grupo.

A arte de Kirby amadurece bastante, com uma  boa variedade de quadros e maior detalhamento dos heróis. O Coisa, particularmente, começa a perder sua camada rochosa completamente abrutalhada para ganhar mais contornos. O mesmo vale para as chamas do Tocha Humana e para Destino, que logo em sua segunda aparição ganha sua versão definitiva e que se manteria intacta por décadas.

Curiosidades dos números:

– Primeira aparição do Doutor Destino
– Uniforme do Doutor Destinho ainda sem capa
– Primeira aparição de um Doombot
– Destino mora em um castelo, mas não há menção à Latvéria
– Primeira vez que a máquina do tempo é usada
– Primeira menção expressa ao edifício Baxter com QG do Quarteto
– Primeira menção aos uniformes serem feitos de “moléculas instáveis”
– Primeira menção à gangue de Yancy Street
– Primeira vez que o Doutor Destino usa o uniforme clássico completo, com capa
– Sue corresponde a paixão de Namor

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Quarteto Fantástico #7
(outubro de 1962)

A história começa inspirada pelo clássico O Dia em que a Terra Parou, mas acaba em um pastiche desinteressante. Kurrgo, o Mestre do Planeta X, manda um robô para a Terra para desacreditar o Quarteto Fantástico (a segunda vez em apenas sete números!) e, com isso, forcá-los a viajar a seu planeta para salvá-lo da destruição certa pelo impacto iminente de outro planeta.

Até aí, muito interessante, apesar da reutilização do artifício de desacreditar o Quarteto. O problema é a execução e desenvolvimento da ideia, que deixa muito a desejar e exige absurdamente da suspensão da descrença do leitor. Stan Lee e Jack Kirby querem nos fazer crer que (1) os habitantes do Planeta X, apesar de terem tecnologia extremamente avançada, não têm capacidade de resolver esse problema e precisam de terráqueos inferiores (Kurrgo proclama sua superioridade intelectual quase em toda as páginas) para tanto e (2) eles dominaram as viagens interplanetárias, mas só construíram duas naves, o que torna impossível a evacuação do planeta.

Só por esses dois elementos, já é possível bocejar para a história, que acaba sendo tão inverossímil que o prazer de ler as interações raivosas entre Ben e Johnny desaparecem muito rapidamente. E a narrativa é extremamente corrida, com acontecimentos simplesmente impossíveis em tão pouco tempo, o que só detraem da experiência.

Por outro lado, a arte de Kirby merece destaque, por ele estar completamente mergulhado no ambiente altamente tecnológico que ele desenha tão bem. Com isso, a história acaba tendo alguns elementos agradáveis para se ver, além de um final irônico e interessante.

Curiosidades do número:

– Primeira aparição de Kurrgo (mencionado como mestre do Planeta X, que, mais tarde, seria renomeado para Xanth)
– Primeira vez que o Tocha torna-se “supernova”

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Quarteto Fantástico #8
(novembro de 1962)

O vilão da vez é o Mestre dos Bonecos, outra criação de Lee e Kirby. Mas a história começa com Reed Richards tentando curar seu amigo Ben Grimm de sua condição rochosa como o Coisa. Ao tentar manter segredo sobre o que está fazendo, o Sr. Fantástico acaba irritando Ben, que, em um rompante, decide largar o grupo (primeiro Johnny, agora Ben…).

Nesse estado fragilizado, Ben acaba nas garras do Mestre dos Bonecos, que usa sua argila radioativa para controlá-lo. A enteada do Mestre, Alicia, escultora cega, entra inocentemente no plano também, posando como a Mulher Invisível que, junto com o Coisa sob influência, infiltra-se no QG do Quarteto para destruí-los. É uma história movimentada, com muita ação e que envolve, ainda, uma fuga em massa de uma prisão orquestrada pelo vilão. O final é trágico e, diria, bastante ousado até, com a aparente morte do Mestre dos Bonecos pelas mãos de Alicia.

Jack Kirby, mesmo economizando nos detalhes de fundo, apresenta uma arte cuidadosa e que brilha nas sequências de ação, que são precisas e jamais confundem o leitor.

Curiosidades do número:

– Primeira aparição do Mestre dos Bonecos
– Primeira aparição de Alicia Masters (ainda sem menção ao sobrenome)
– Primeira tentativa de Richards de “curar” o Coisa

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Quarteto Fantástico #9
(dezembro de 1962)

Essa história do Quarteto Fantástico deve estar no Top 10 dos roteiros mais “abilolados” que já vi na minha vida, mas que, diante do inusitado, acaba funcionando. Não sei o que passou na cabeça de Lee e Kirby nessa hora, mas eles devem ter se divertido muito pensando na história.

E ela começa com o Quarteto Fantástico falido, depois que Richards perde todo seu dinheiro apostando errado na Bolsa de Valores. E não há preparação alguma para os leitores; a narrativa já começa com essa situação como fait accompli e cabe aos leitores simplesmente aceitá-la. O interessante é que vemos, novamente, o Quarteto lidando com situações absolutamente mundanas, como credores, a venda de seus bens e a falta de dinheiro em geral, algo que seria ainda mais presente nas histórias do Homem-Aranha.

Mas essa questão nem mesmo é o elemento mais estranho da história. Namor descobre das agruras do Quarteto e decide fazer alguma coisa. Ato contínuo, os heróis recebem uma carta oferecendo a eles um cachê de um milhão de dólares para eles participarem de um filme em Hollywood. Sem dinheiro para o transporte, mas sem escolha também, Reed, Ben, Sue e Johnny atravessam os EUA de carona (!!!) vestidos em seus respectivos uniformes azuis. Chegando em Hollywood, eles vão até o SM Studios somente para descobrir que o magnata dono de tudo é ninguém menos do que Namor (o SM, claro, é a sigla de Sub-Mariner…) e que ele realmente quer que o Quarteto participe de um filme.

Lógico que, não demora, e o plano do atlante começa a ficar aparente: ele divide o grupo, colocando Reed,  Ben e Johnny em situações mortais, somente para ficar com Sue para ele. Sim, Namor monta um estúdio cinematográfico inteiro, com direito a ele vestido como magnata, com piteira na boca apenas com o objetivo de casar-se com Sue Storm. É ou não é hilário?

Como disse, as situações são tão bizarras que elas acabam não sendo tão ruins quanto minha descrição faz parecer e o leitor, no mínimo, terminará a leitura com um sorriso confuso no rosto…

Curiosidades do número:

– Pela primeira vez vemos que existe um laço de amizade entre Alicia (seu sobrenome Masters ainda não é mencionado) e Ben Grimm
– Alfred Hitchcock faz uma ponta na história
– A primeira luta uma-a-um entre Namor e Coisa acontece, algo que se repetiria muitas vezes ao longo das décadas

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Quarteto Fantástico #10
(janeiro de 1963)

No 10º da publicação, Stan Lee e Jack Kirby resolveram tornar-se personagens em suas próprias histórias, inserindo-se na narrativa. Nessa meta-história, os dois aparecem na redação da Marvel (nunca vemos seus rostos, porém) pensando em como criar um vilão novo para o Quarteto Fantástico e remoendo terem matado o Doutor Destino (em Quarteto Fantástico #6). Nesse momento, que vem depois de vermos o Quarteto lidando com situações do dia-a-dia, o próprio Destino invade a redação e usa Kirby e Lee em um plano para atrair o Sr. Fantástico para uma armadilha.

A reação do Quarteto a uma ligação de seus criadores é natural, como se eles sempre tivessem existido e como se as histórias de suas aventuras fossem sugestões deles mesmos. É absolutamente delicioso ver essa construção acontecer no terço inicial da narrativa, mas os autores, depois, simplesmente se esquecem do artifício e, com o desenvolvimento do plano de Destino (ele não havia morrido, mas sim singrado o espaço até encontrar com os Ovoides, alienígenas extremamente desenvolvidos com tecnologia de transposição de mentes para outros corpos), Kirby e Lee saem da história, tornando-a, novamente, algo comum.

A trama de Destino para derrotar o Quarteto – ele posa de Sr. Fantástico, depois de trocar de corpos com ele – não convence e parece apressada e mal-pensada, algo que envolve a miniaturização de Ben, Sue e Johnny. É, definitivamente, uma pena, considerando o potencial demonstrado no início.

Curiosidades do número:

– Stan Lee e Jack Kirby se inserem na história
– O Tocha Humana demonstra ter um estranho poder de gerar miragens

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Quarteto Fantástico #11
(fevereiro de 1963)

Seguindo a linha da “meta-história” iniciada no número anterior, Lee e Kirby dividem Quarteto Fantástico #11 em duas histórias. A primeira lida com o dia-a-dia do Quarteto e revela que a revista do Quarteto é publicada nesse universo e adorada pelos fãs, que mandam centenas de cartas ao grupo. Essas cartas, por sua vez, são lidas por Reed, Sue e Ben (Johnny diz que vai cuidar de seu carro na oficina e sai) e, nesse ponto, aprendemos um pouco mais sobre o passado de Ben e Reed como improváveis amigos de faculdade, sobre a amor de Reed por Sue e sobre a insegurança de Sue dentro do grupo, já que alguns leitores a consideram de pouca relevância nas aventuras.

Sem papas na língua, o objetivo de Lee com essa história inicial é literalmente abordar e responder algumas perguntas dos leitores que mandam cartas para a redação, algumas publicadas na revista. É uma forma divertida de lidar com a fama do Quarteto e com algumas questões que não haviam ficado claras ainda, especialmente esse passado entre Ben e Reed.

Na história principal, o Quarteto Fantástico enfrenta o Homem-Impossível, alienígena do planeta Poppup. Ele não é um vilão propriamente dito, apenas um ser querendo se divertir na Terra provocando os terráqueos com seu vasto poder de se transformar em absolutamente qualquer coisa orgânica ou inorgânica. Sem muita saída, Reed chega à solução sobre como derrotar o Homem-Impossível: ignorá-lo. É uma mensagem (não tão) subliminar a todos os valentões do dia-a-dia que querer aparecer. Ignore-os e eles irão embora.

Jack Kirby, aqui, dá um show na arte, com detalhes marcadamente mais visíveis e com enorme criatividade para lidar com as transformações bizarras do Homem-Impossível. Parece até que ele teve mais tempo para fazer seu trabalho.

Curiosidades do número:

– É revelado que Ben e Reed são amigos desde a faculdade
– Reed demonstra seu amor de infância por Sue que, por sua vez, deixa claro seu desconforto em razão de sua atração por Namor
– Primeira aparição do Homem-Impossível, do planeta Poppup
– Tocha Humana usa suas chamas para fazer hipnotismo
– Primeira aparição do Sr. Willie Lumpkin, carteiro do Quarteto Fantástico

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Quarteto Fantástico #12
(março de 1963)

Na capa de Quarteto Fantástico #12, Lee e Kirby prometem um “épico”. Afinal de contas, essa é primeira vez que o Quarteto e o Hulk se encontrariam. No entanto, o que vemos é uma intricada trama cheia de vai-e-volta envolvendo sabotagem militar por comunistas, o General Ross culpando o Hulk e querendo destruí-lo e o Quarteto Fantástico sendo arregimentado para o conflito.No entanto, a luta não vem. Ou melhor, demora muito a vir, com apenas quatro páginas (de 24) dedicadas a ela e mesmo assim de maneira pouquíssimo satisfatória. É como ver um verdadeiro potencial épico ser derramado ralo adentro, sem qualquer cerimônia, em uma narrativa que prefere banhar os leitores de diálogos intermináveis, além de eventos desconexos com a trama principal.Os desenhos de Kirby, por outro lado, funcionam muito bem nos poucos momentos de ação desse arrastado número, com poderosos quadros durante o curto embate especialmente entre o Coisa e Hulk. Infelizmente, porém, a narrativa sofre de falta de foco e a história acaba se perdendo.

Curiosidades do número:

– Primeiro crossover entre o Quarteto e o Hulk
– Introdução do Fantasti-Carro versão 2.0

Quarteto Fantástico #1 a 12 (The Fantastic Four #1 – 12, 1961/3)
Roteiro: Stan Lee
Arte: Jack Kirby
Arte-final: Dick Ayers
Letras: Artie Simek
Editora (nos EUA): Marvel Comics
Data de publicação: novembro de 1961 a março de 1963 (bimestral de #1 a #6 e depois mensal)
Páginas: 24 a 26 por edição

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