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Crítica | Quarteto Fantástico #48 a 50: A Trilogia de Galactus

por Luiz Santiago
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As edições #48 a 50 do Quarteto Fantástico (1966) trouxeram duas novas personagens de Stan Lee e Jack Kirby para o Universo Marvel: Galactus, o devorador de mundos e o Surfista Prateado, seu arauto. Essa apresentação acabou sendo chamada posteriormente de Trilogia de Galactus, e se firmou como uma das histórias mais importantes do Quarteto, além de uma clássica aventura da Era de Prata.

Talvez tão famosa quanto a primeira aparição dos dois grandes personagens cósmicos dessa trilogia seja a história de criação do Surfista. Consta que Stan Lee, após remeter a Jack Kirby um esboço de roteiro que dava continuidade ao arco Quarteto Fantástico e os Inumanos, começou a rascunhar características psicológicas adicionais para o gigante ser comedor de energia que ele acabara de criar. No entanto ele não sabia que quando recebesse os desenhos de Kirby, teria uma bela surpresa; um “algo a mais para se preocupar”.

O método de trabalho entre os dois artistas (o lendário “método Marvel”) era o de colaboração por estágios: o roteirista mandava um esboço de situação cênica com algumas falas essenciais (na verdade algumas intenções de linhas de diálogos passíveis de mudança) e uma descrição objetiva de cenários e situação geral da ação. Com esse esboço em mãos, o artista desenhava o grosso da história. A troca seguia com cada parte adicionando elementos que achassem necessários até a edição ficar pronta.

Foi em um desses estágios que Stan Lee percebeu nos desenhos de Kirby um personagem que não estava nos esboços originais. Na visão do desenhista, um cósmico como Galactus deveria ter uma espécie de “preparador” para o todo mundo que o grande devorador pretendesse consumir. Stan Lee achou a ideia interessante e seguiu a história com o Surfista Prateado de coadjuvante, protagonizando, todavia, momentos importantíssimos em todo o arco.

Os problemas aqui começam quando o Quarteto ainda estava no voo de volta da cidade dos Inumanos. O céu fica em chamas e depois pontuado pelo que parece ser grandes pedaços de rocha, algo que se revelará um disfarce posto pelo Vigia para esconder a Terra do Surfista Prateado, que buscava mais um mundo para Galactus transformar em energia e se alimentar. Com esse enredo central, Stan Lee escreve uma história que flerta com elementos filosóficos e morais de primeira linha, não deixando de lado, porém, os comportamentos correntes do Quarteto, as questões pessoais do Vigia e o necessário para apresentar dois novos personagens.

Jack Kirby usa elementos visuais que ele já aludira no arco anterior (há uma sutil semelhança entre o Raio Negro coroado e a compleição de Galactus), o que nos mostra sua notável capacidade de reinventar as próprias criações ou mesmo utilizar de elementos simples (como a prancha para a criação do Surfista) em seu processo artístico. Também se destaca a boa representação visual dada aos ambientes espaciais, destacando-se o “Universo desconhecido” e o local onde Johnny Storm, guiado pelo Vigia, consegue roubar a temível arma de Galactus.

Unindo uma ameaça poderosíssima a dramas particulares já em andamento Stan Lee cria nessa Trilogia de Galactus uma historia de pesar e alerta ao mesmo tempo. A pergunta se a vida e a existência humanas valem a pena e a ironia em o Quarteto, o Surfista e o Vigia defenderem a humanidade do extermínio de Galactus quando esta mesma humanidade se autodestrói e mata outros seres vivos para se alimentarem (tudo acaba sendo consumo e necessidade de energia, não é mesmo?) são os principais pontos discutidos no decorrer da aventura, que ainda traz uma batalha de caráter épico e discussão madura entre Galactus e o Surfista. O encerramento com a perspectiva da “crise urbana” fecha o arco com chave de ouro, mostrando como a Terra, a mídia e outras pessoas reagiram ao episódio cósmico que acabavam de presenciar, algo entre a ignorância e o espanto.

Quarteto Fantástico Vol.1 #48 a 50 [1ª parte] (Fantastic Four) – EUA, 1966
Arco: Trilogia de Galactus
Roteiro: Stan Lee
Arte: Jack Kirby
Arte-final: Joe Sinnott
24 páginas (cada número)

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