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Crítica | Rasen

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

É realmente de se espantar a capacidade dos japoneses realizar adaptações e sequências quase que imediatamente após o lançamento do material base. Estamos falando de uma cultura que produz versões cinematográficas de obras de sucesso em questão de meses, seja o original um anime, livro ou série. Não é por mero acaso que um dos diretores mais prolíficos do mundo, Takashi Miike, vem justamente desse país. Embora tenha ganhado sua versão em longa-metragem apenas sete anos depois do lançamento do livro, a franquia Ringu, se encaixa nesses parâmetros por ter tido a continuação do primeiro filme lançada no mesmo dia desse.

Rasen estreou junto de Ringu, no dia 31 de janeiro de 1998, porém não obteve nem de perto o mesmo sucesso de sua contraparte. Embora seja adaptado do romance continuação do livro que dera origem ao primeiro filme de Sadako, esta logo se tornou uma sequência “esquecida”, tanto que fora completamente ignorada por Ringu 2Ringu 0. A obra foi apenas retomada em 2012 e 2013 através de Sadako 3DSadako 3D 2, que funcionam como continuações diretas desses dois filmes (algo que certamente confundiu muitos fãs da franquia). O que diferencia a obra das outras da série é a forma como aborda toda a questão envolvendo a menina que morreu no poço e as pessoas que morreram ao assistir a famigerada fita de vídeo, estabelecendo-se mais como um thriller psicológico, com fortes toques de sobrenatural, o que um filme de terror propriamente dito.

A trama gira em torno de Mitsuo Andô (Kôichi Satô), um patologista que recebe o corpo de Ryūji Takayama (Hiroyuki Sanada), ex-marido de Reiko Asakawa (a protagonista de Ringu), com a tarefa de descobrir a causa de sua morte. Seu diagnóstico de morte por ataque cardíaco, contudo, é imediatamente contestado por  Mai Takano (Miki Nakatani), uma menina com dons sobrenaturais que namorava Takayama – ela revela a existência de uma fita de vídeo, que, supostamente, causa a morte, após sete dias, de qualquer um que ousar assistí-la. Não demora para que Mitsuo passe a acreditar nessa espécie de maldição, especialmente após ele próprio assistir o dito VHS.

Embora conte com uma premissa que perfeitamente se encaixaria dentro do gênero do terror, o diretor Jôji Iida opta por diferenciar essa sua obra daquela que a precede. Ao utilizar planos mais longos, com movimentos de câmera mais lentos em um ar quase contemplativo, ele transforma esse em um filme sobre a dor de seu protagonista, que deseja morrer após a morte de sua esposa e filho. De fato, Rasen consegue ser uma experiência bastante intimista, que se sustenta por si só e não apenas como sequência, introduzindo e criando um personagem ao qual conseguimos nos aproximar de imediato.

Por mais que lide com aspectos sobrenaturais e todo o mistério que envolve Sadako, essa é uma obra que se destaca pelo caráter humano de seu roteiro, que aborda a temática da perda de forma angustiante e realista. Sentimos em Andô o quanto a sua perda o afeta no dia a dia e a cena introdutória, com ele tentando cortar os pulsos, já nos oferece um olhar sobre seu estado de espírito imediatamente. É importante ressaltar, porém, que estamos falando de um longa-metragem com um ritmo e proposta totalmente diferentes de Ringu, portanto, se você espera um filme de terror aos moldes do filme anterior, provavelmente irá se decepcionar – o que explica o fracasso da obra quando comparada àquela lançada no mesmo dia.

O grande deslize do filme ocorre em seus trechos finais, quando, repentinamente, decide abraçar seu lado sobrenatural com todas as forças, nos entregando uma resolução nada menos que surreal, que funciona apenas para nos confundir. O que temos aqui é como se os roteiristas estivessem com medo de adotar um final existencialista e decidiram optar por algo que foge totalmente à realidade apresentada pela obra. Ao mesmo tempo, a tentativa de explicar a maldição de Sadako através de um vírus soa fantasioso demais e definitivamente não faz jus ao que fora construído até então, quebrando o mistério que permanecera constante na narrativa desde o início.

Se o espectador conseguir se desvencilhar desses tropeços de Rasen, contudo, o longa se constituirá como uma recompensadora experiência, bastante diferente das outras adaptações dos livros sobre a fita de vídeo criada por Sadako. Temos aqui um thriller psicológico bastante angustiante, que somente desliza em seu final e que certamente merece ser visto e não apenas esquecido por todos aqueles que apreciaram Ringu.

Rasen — Japão, 1998
Direção:
 Jôji Iida
Roteiro: Jôji Iida (baseado no livro de Kôji Suzuki)
Elenco: Kôichi Satô, Miki Nakatani, Hinako Saeki, Hiroyuki Sanada, Shingo Tsurumi
Duração: 97 min.

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