Home QuadrinhosMinissérie Crítica | Rocket Raccoon e Groot [Histórias solo]

Crítica | Rocket Raccoon e Groot [Histórias solo]

por Ritter Fan
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A dupla mais inusitada dos Guardiões da Galáxia, Rocket Raccoon, o  guaxinim falante e amante de armas pesadas e Groot, a monossilábica árvore membro da realeza do planeta X, foram criados, separadamente, muito antes de se reunirem no grupo cósmico que hoje faz tanto sucesso. Na verdade, Groot foi criado como vilão no longínquo ano de 1960 em Tales to Astonish, Vol. 1 #13, em sua até agora única história solo, pois ele apareceria depois em O Incrível Hulk Anual #5 (1976), O Sensacional Homem-Aranha #1 (1997) e na minissérie Nick Fury e o Comando Selvagem de 2006. Rocket – ou uma versão dele – por sua vez, surgiu em Marvel Preview #7, de 1976, a mesma revista que, três números antes, coincidentemente, introduziu o Senhor das Estrelas, o “chefe” dos Guardiões, em sua segunda versão. Em seguida, ele apareceria em O Incrível Hulk #271 (1982), em uma minissérie própria de quatro edições (1985) e, depois, teve participações esparsas em Quasar #15 (1990) e em A Sensacional Mulher-Hulk #44 a 46 (1992).

As críticas abaixo focam nas efetivas primeiras aparições dos respectivos personagens antes da saga Aniquilação: Conquista, quando eles se juntaram, além de um divertido conto só da dupla que serviu de história extra na minissérie em quatro edições Aniquiladores, de 2011, que sucedeu o fim da primeira era  da segunda versão dos Guardiões da Galáxia.

Tales to Astonish, Vol. 1 #13
(novembro de 1960)
Roteiro: Stan Lee
Arte: Jack Kirby, Dick Ayers

estrelas 3

groot cover final

Groot, bem mais falante e bem mais feio que o normal.

Tales to Astonish, em sua primeira encarnação, era uma publicação em formato de antologia, com histórias focadas em ficção científica e que foi publicada entre janeiro de 1959 e março de 1968. Ela serviu como uma espécie de test drive para artistas que se tornariam extremamente populares nos anos seguintes, como Steve Ditko e o saudoso Jack Kirby.

E é justamente Jack Kirby que desenha a primeira aparição de Groot, monarca do planeta X que, sem muita explicação, aparece na Terra para começar seu projeto de dominação total de toda lenha da galáxia (sério!). Intitulada I Challenged… Groot!, a narrativa de apenas sete páginas não poderia ser mais simples e sem explicações. Stan Lee, escreve o roteiro sob o ponto de vista de Evans, um biólogo que vive sendo emasculado por comentários cretinos de sua esposa e que compõem as partes mais inusitadas e divertidas da história.

Um dia, Groot chega, basicamente um tronco falante vindo do espaço que comanda as árvores e que tem como objetivo literalmente levar a cidadezinha de Evans para o espaço para fins científicos de estudo, de forma a descobrir como dominar o planeta Terra. No momento em que a combinação de madeira e biólogo fica evidente, deduzi qual seria o final, mas não quis acreditar. Mas estava certo e não pude deixar de rir da inocência e simplicidade de uma era menos complexa nos quadrinhos. Ora, para derrotar uma árvore, nada como um biólogo soltar um exército de cupins contra ela, não é mesmo? E, assim, Groot acaba derrotado e Evans finalmente recebe elogios de sua esposa.

Dentro de sua proposta e de sua época, a história diverte e é uma leitura muito rápida, com o bônus do traço inconfundível de Jack Kirby. Mas esse é um Groot completamente diferente tanto em desenho quanto em personalidade do que veríamos em Guardiões da Galáxia.

Marvel Preview #7
(verão americano de 1976)
Roteiro: Bill Mantlo
Arte: Keith Geffen

estrelas 3

É difícil julgar a qualidade de uma história lendo, apenas, seu segundo número, pelo que as estrelas acima são muito mais representativas da arte e do potencial da narrativa do que qualquer outra coisa. Trata-se de uma saga cósmica em preto e branco intitulada The Sword in the Star! (com a exclamação), protagonizada por um príncipe chamado Wayfinder (em tradução livre, Desbravador de Caminhos) que é, logo na narrativa inicial, comparado com Ulisses. E a comparação não para aí, pois seu planeta natal se chama Ithacon, em evidente referência à ilha para onde o herói grego almeja voltar em Odisseia.

mosaico rocket marvel preview

(1) A capa de Marvel Preview #7 e (2) a página onde “Rocky” Raccoon aparece pela primeira vez.

Nessa aventura, em uma nave espacial aberta – parece mais uma plataforma espacial – comandada pelo robô Alkinos, Wayfinder, dá o último adeus ao mago Delphos, seu mentor. Em seguida, ele parte para procurar alimento em um mundo verdejante, somente para descobrir que lá, até o simples ato de beber água de um rio pode ser extremamente perigoso, pois as árvores não gostam de partilhar sua fonte de vida.

Para sua surpresa, ele é ajudado por um guaxinim falante, portador de armas e fumador de charuto que começa a ensinar sobre o planeta onde Wayfinder está e ajudá-lo. Nada de muito complexo acontece, mas aprendemos que o guaxinim se chama Rocky (não Rocket, uma referência à canção Rocky Raccoon, dos Beatles) e reparamos muitas das qualidades que veríamos adiante no personagem, como sua beligerância e capacidade estratégica. Mas Rocky é um pequeno (literalmente) coadjuvante em uma que parece ser muito mais ampla. Além disso, o material nessa revista é, em princípio, contraditório com a história de origem de Rocket que aprendemos em O Incrível Hulk #271 e na minissérie Rocket Raccoon, de 1985. Mantlo afirmou, no posfácio dessa minissérie de 1985, que seu Rocky, de 1976 e o Rocket são o mesmo personagem, mas isso, na verdade pouco importa. O que importa mesmo é que a semente para Rocket Raccoon foi efetivamente plantada em Marvel Preview #7.

O Incrível Hulk #271
(maio de 1982)
Roteiro: Bill Mantlo
Arte: Sal Buscema

estrelas 2,5

rocket hulk cover finalEm uma de suas viagens pelo espaço, o Hulk (na versão selvagem, mas muito falante) acorda em um idílico planeta cercado de bichinhos falantes fofinhos. Ele é encontrado por Rocket Raccoon, um guaxinim com uma pistola, lenço no pescoço e um cinto, além de um cachimbo e patins a jato (o que, no conjunto, o diferencia bem da versão de Marvel Preview #7) e seu imediato Wal Russ, uma morsa com roupa de astronauta, uma bolsa muti-uso pendurada no pescoço e presas intercambiáveis.

A história é completamente insana com um caminhão de divertidas referências cinematográficas como os Keystone Kops. O planeta se chama Halfworld e é dividido em dois: metade é basicamente uma fábrica onde robôs trabalham dia e noite na construção de uma estrutura em formato humanoide e a outra metade tomada por florestas verdejantes onde os animais pensantes tem a função de proteger os Loonies, humanos completamente loucos (daqueles de camisa de força mesmo). Mas esse equilíbrio é ameaçado pela ganância de Judson Jakes, uma toupeira sinistra, mestre da base espacial Spacewheel e que tem a seu dispor a Brigada dos Coelhos Negros comandada por Blackjack O’Hare e morcegos espacias chamados de Drakillars e palhaços robôs chamados Killer Klowns (mais referência cinematográfica). Jakes quer, com a ajuda de Tio Pyko, uma tartaruga daquelas de Galápagos, desvendas os segredos da Biblia de Gideon e dominar o quadrante Keystone.

Para estabelecer essa narrativa muito original e extremamente complexa, Bill Mantlo bombardeia o leitor de informações em uma velocidade que chega a incomodar. Afinal, a história e aut0-contida, começando e acabando apenas nesse número da publicação do Hulk. É tanto personagem novo e tanta explicação que o Golias Verde fica completamente em segundo plano, sendo efetivamente descartado antes do final.

mosaico rocket hulk

Bem-vindos ao louco mundo de Hulk e dos bichinhos falantes no espaço contra palhaços assassinos…

No final das contas, apesar dos ótimos desenhos de Sal Buscema, que trazem à vida os amalucados personagens de Mantlo, o resultado é pouco consistente e mal balanceado e que não funciona de verdade como uma história independente. É o típico caso em que o universo criado é rico demais, detalhado demais para uma publicação só.

Rocket Raccoon #1 a 4
(maio a agosto de 1985)
Roteiro: Bill Mantlo
Arte: Mike Mignola

estrelas 4,5

Três anos depois de introduzir Rocket Raccoon na cronologia do Universo Marvel, Bill Mantlo volta à sua criação, finalmente com espaço para trabalhá-la de maneira eficiente e engajante, com o maravilho desenho de Mike Mignola ainda antes de criar Hellboy e antes ainda de desenhar Odisseia Cósmica para a DC, obra que o colocou definitivamente no mapa. O resultado é muito divertido, quase anárquico mesmo, que definitivamente vale a leitura.

Mantlo faz o que não teve a oportunidade de fazer em O Incrível Hulk #271 e desenvolve com propriedade o universo que criou. E ele não foge daquilo que fez, ou seja, não reinventa Rocket Raccoon. Ao contrário, ele mergulha em sua própria mitologia, expandindo-a e melhorando-a, criando uma boa história que poderia ser considerada como a definitiva para o adorável e violento guaxinim falante.

mosaico rocket

Os quatros números da minissérie.

Estamos de volta em Halfword e depois dos eventos de O Incrível Hulk #271, mas não necessariamente logo depois. Rocket está, tranquilamente, à beira de um lago, com seu imediato Wal Russ e seu interesse romântico, a lontra Lylla, quando ele é envolvido em uma guerra entre as facções de Lorde Dyvyne, um lagarto e de Judson Jakes, a toupeira apresentada na revista do Hulk, pelo controle da fabricação de brinquedos para os Loonies, os humanos malucos que ficam enclausurados em Cuckoo’s Nest, o sanatório local.

Lylla é revelada como a herdeira da Mayhem Mekaniks, a fábrica de brinquedos comandada por Judson Jakes e que, quando se tornar maior de idade, ela a controlará. Isso a torna objeto de cobiça tanto de um lado quanto de outro e Rocket tem que salvar sua amada das mais diversas garras. No meio disso tudo, Blackjack O’Hare, o coelho mercenário que vimos trabalhando para Judson Jakes em O Incrível Hulk #271, agora trabalha para Lorde Dyvyne, mas ele tem um plano próprio e também cobiça o controle total sobre a fabricação dos brinquedos, caminho que o leva a sequestrar a indefesa (mas não tanto assim) lontra.

A história, como se pode esperar, se desenvolve muito além desses núcleos e passamos a também descobrir, pouco a pouco, o passado de Halfworld e como esse  planeta foi dividido entre o território de robôs e dos animais, com o lado dos animais abrigando humanos loucos. Toda a explicação vem de Tio Pyko, a tartaruga que trabalha para Judson Jakes e o único animal no planeta capaz de entender a sagrada Bíblia de Gideon, chave para o passado de todos no planeta.

É uma tarefa impossível, mas Mantlo definitivamente consegue criar uma lógica interna e uma ordem ao mundo que jogou no meio de uma história do Hulk três anos antes. Sim, temos que aceitar um monte de maluquices, mas são maluquices originais, diferentes e que seguem um caminho estabelecido pelas regras da narrativa criada por Mantlo.

E Mike Mignola nos desenhos se esmera na criação – e recriação – dos personagens, dando uma saudável dose de personalidade forte para Rocket e seu grupo, além de desenvolver bem a personalidade de Tio Pyko, que se torna importante da metade em diante. É uma arte detalhada, bonita e com um uso inteligente da diagramação e da passagem de quadros. Não é, porém, a arte que viríamos a nos acostumar saindo do lápis de Mignola.

Aniquiladores #1 a 4 (história secundária)
(março a junho de 2011)
Roteiro: Dan Abnett, Andy Lanning
Arte: Timothy Green II

estrelas 4

Quando Rocket Raccoon passou a fazer parte dos Guardiões da Galáxia, seu passado em Homeworld foi completamente apagado. O pequeno e violento guaxinim não tinha mais memória de nada de seu passado e tudo ficou assim, um tanto quanto indefinido. Afinal, não combinaria trazer seus amiguinhos fofinhos para dentro de um Rocket com uma personalidade bem mais forte do que vimos anteriormente.

Mas isso durou até Dan Abnett e Andy Lanning pegarem Rocket e seu parceiro Groot para uma história secundária na minissérie dos Aniquiladores, grupo formado por super-poderosos seres cósmicos (Surfista Prateado, Quasar, Ronan, Bill Raio Beta e outros) que ocupou o vácuo causado pelo desmantelamento dos Guardiões ao final da luta no Cancerverso. Com isso, separado da continuidade dos Guardiões, mas sem contradizê-la, os roteiristas criaram uma narrativa que atualiza o passado de Rocket Raccoon para o estilo dos quadrinhos dos anos 2000, em um verdadeiro retcon da origem do guaxinim.

Apesar de retcons serem costumeiramente mal feitos, esse é muito bem pensado. Rocket trabalha, agora, nos correios da  Timely, Inc. mega corporação em algum canto do universo. Sua função é de entregar cartas dentro de um escritório e ele a conseguiu pela cota de “animais fofinhos” em uma hilária crítica ao sistema de cotas. Acontece que sua paz é interrompida quando um palhaço assassino sai de uma caixa de encomendas endereçada para ele. Sendo feito de madeira consciente e Rocket sabe que o único lugar que ela existe é no planeta X, de onde vem seu amigo Groot.

rocket groot final

Tá na hora do pau!

Junto com um leitor de código de barras (exatamente isso que você leu) particularmente muito útil que Rocket traz de seu último emprego, sua investigação o leva para o planeta X onde ele descobre que todo o passado do próprio Groot era uma mentira criada por ele, os dois se unem à resistência local (formada por cogumelos, toupeiras, esquilos e outros seres genialmente antropomorfizados) e descobrem que tudo não passou de uma armadilha armada por alguém de Homeworld, o planeta natal de Rocket e sobre o qual ele nada se lembra. Quando eles então chegam lá, nós, leitores, vemos algo que é ao mesmo tempo familiar e completamente mudado. De maneira a atualizar esse passado, Abnett e Lanning quebraram a cabeça para não desdizer o que Bill Mantlo havia criado em O Incrível Hulk #271 e na minissérie Rocket Raccoon, comentadas acima.

E, de fato, eles conseguem, criando literalmente camadas e mais camadas de complexidade e unindo-as à presença de Barry Bauman, mais conhecido como Star-Thief, um antigo vilão de Adam Warlock surgido em Warlock #13, em junho de 1976. Essa teia de complexidade surpreendentemente funciona e fascina, com Rocket, no processo de ganhar sua memória de volta, nos contando sobre exatamente o que aconteceu em Homeworld durante os eventos tratados em sua “primeira origem”. Com isso, os dois autores conseguem trazer uma improvável unicidade entre o que veio antes e o que Raccoon se tornou a partir do momento em que passou a fazer parte dos Guardiões da Galáxia.

A arte de Timothy Green II é ótima, com um Rocket realmente pequeno e muito peludo e um Groot mais esguio. Cada tradicional personagem, como Wal-Rus, Lylla e Blackjack O’Hare é recriado simultaneamente homenageando e repaginando os originais, como uma piscadela aos fãs e à sensacional arte original de Sal Buscema e Mike Mignola.

Aniquiladores: Earthfall #1 a 4 (história secundária)
(novembro de 2011 a fevereiro de 2012)
Roteiro: Dan Abnett, Andy Lanning
Arte: Timothy Green II

estrelas 3,5

No mesmo ano, a publicação Aniquiladores ganharia uma segunda minissérie, com o subtítulo Earthfall e, novamente, um espaço foi reservado para a dupla mais improvável do Universo Marvel: Rocket Raccoon e Groot.

Escrita também por Abnett e Lanning, a história, bem mais curta, começa com os dois heróis enfrentando os Baddoon. No último quadro do primeiro número, descobrimos que tudo não passa de um episódio de TV comandado por ninguém menos do que Mojo, um dos mais interessantes inimigos dos X-Men.

groot rocket final

Build-a-Groot! Genial!

Com Mojo por detrás, os autores literalmente criam uma continuação espiritual da história que comentei logo acima, com as duas tratando de realidade virtual. A trama é simples e o envolvimento chave do leitor de código de barras que passou a acompanhar as aventuras dos dois amigos é muito divertido e explorado ao máximo. Além disso, Timothy Green II tem espaço para trabalhar cada página como se fosse um panfleto publicitário do Mojoverso para a venda de figuras de ação de Rocket e Groot com os mais diversos uniformes, criando uma meta história rápida, mas cativante.

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